quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

ESQUECER?

·         Givaldo Calado de Freitas


Augusto Calheiros. A nossa “Patativa do Norte”, para uns. A nossa “Patativa do Nordeste”, para outros. Prefiro, no entanto, dizer “Patativa do Norte e do Nordeste Brasileiros”. Ou, por que não, “Patativa do Brasil”? A lembrança desse nome que me veio à mente, hoje. Desde cedo. E perdura até agora. 
De repente, também a data de seu falecimento - 11.01.1956. Faz tempo! Muito tempo! Era criança. Pelas ruas da cidade. Ouvindo os mais velhos. Já que deles sempre me aproximei, menino ainda, no desejo de aprender. E aprender... Mas, discreto. Mas, respeitoso. Discreto e respeitoso, sempre!
De repente, ainda, à memória, seu translado para Garanhuns, em 1968, doze anos depois.
Era eu adolescente. Começando meu curso na velha Faculdade de Direito do Recife, mas sempre presente a tudo que dizia respeito à minha cidade. 
O prefeito da época viria a ser meu sogro, no futuro, e se determinou: “Vou trazer os restos mortais de Augusto Calheiros para Garanhuns. Absurdo que estejam tão longe da cidade que ele tanto queria e homenageou” - teria dito. E trouxe. Garanhuns parou. Parou para aplaudir. Parou para saudar Augusto Calheiros, post-mortem. E cantar para ele, como ele, em vida, cantara para Garanhuns:
Garanhuns hospitaleiro,
terra onde eu vivi.
Adeus cidade nortista, Garanhuns e Boa Vista foi aonde me criei.
Ainda espero,
Quem espera sempre alcança, tenho muito esperança de ao meu Garanhuns voltar
Quando me lembro do sertão daquela terra, lá do alto do Magano, tenho vontade de chorar

Enquanto Secretário de Cultura, eu me lembrei do Mausoléu de Augusto Calheiros. Fui lá. Bateu-me uma tristeza. Para não dizer uma revolta. Parecia até que, de 1968 para 2008, quarenta anos depois, não se tenha feito nada, nadinha, para se preservar aquele monumento. Saí triste. Muito triste. Mas saí decidido. Vou restaurar o monumento de Augusto Calheiros - disse. “Dele só, secretário?”, balbuciou Edmar, um dos diretores da Secretaria. E continuou: “O do Cel. Antônio Souto, que fora prefeito de Garanhuns, está na mesma condição; o de Celso Galvão faz pena. O desmando é grande e geral, secretário. Temos que trabalhar muito”.
Perguntei a Edmar, só para conferir, ou “tirar o nível” como alguém me disse outro dia: “E a quem cabe cuidar disso? Agir?”. No que ele me respondeu: “Ao senhor, secretário. Diz a Lei.”
Antônio da Silva Souto foi o primeiro prefeito do município de Garanhuns, e fora eleito em 20 de outubro de 1892, com 204 votos. No limiar, portanto, da Primeira República, a chamada “República Oligárquica”, já que o golpe a Dom Pedro II se dera em 1889, ou seja: três anos antes.
Celso Galvão, por outro lado, que muita gente pensa de Caruaru, na verdade era daqui, e assumiu a prefeitura em dois momentos. O primeiro, em 1937. Exatos 20 de dezembro de 1937 a 31 de março de 1945. Na condição de interventor, assim chamados os gestores municipais e estaduais da Segunda República, a chamada “República da Era Vargas”, de 1930 a 1945. Mas Celso Galvão voltou a dirigir os destinos de nossa cidade de 1952 a 1955. Desta, eleito democraticamente, já que fora candidato pela União Democrática Nacional - UDN, partido que fizera cerrada oposição a Getúlio. Inclusive, meu irmão, Geraldo, foi vereador nesse período.
“Quer saber, Edmar? Vou recuperar os Mausoléus de todos. De Augusto. De Antônio e de Celso. Não vou entrar para a história como o Secretário de Cultura da cidade que, vendo os monumentos daqueles que a construíram, ruírem, e eu, inerte, fazendo vista grossa. Ah! Não. E não. E digo mais, Edmar: vou fazer a homenagem à Simôa Gomes. Que a sociedade de Garanhuns tem tanto cobrado”.        
Augusto e Dominguinhos têm uma grande história em Garanhuns. E a eles nossa cidade muito deve.
Augusto nasceu em Maceió. Mas foi mais garanhuense do que muitos dos nascidos, aqui. Chegou à sua “Garanhuns hospitaleira” ainda moleque. Aos nove anos.
Já Dominguinhos, nasceu em Garanhuns e daqui partiu para o Brasil. Dois nomes. O mesmo destino. Enriquecendo Garanhuns pelo Brasil afora. Com suas músicas. Com suas poesias.  
Felizmente, eles estão conosco. Garanhuns atendeu ao pedido de Augusto que um dia dissera: “Tenho muita esperança de ao meu Garanhuns voltar”. E voltou. E aqui está para sempre.
Também, anos depois, Dominguinhos pedia: “De volta ao meu aconchego”. E aqui está, no seu aconchego.

·         Figura pública. Empresário.


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