O ex-presidente Lula fez dois governos exitosos na área econômica e social, onde o Brasil experimentou um ambiente extremamente favorável entre 2003 e 2010, quando havia emprego elevado, inflação controlada e significativo crescimento econômico, fatores que tiveram papel determinante não só para sua reeleição em 2006 como também para a sucessão em 2010 quando seu prestígio foi suficiente para eleger Dilma Rousseff.
A memória do eleitor brasileiro é boa em relação aos tempos de Lula, e isso faz com que ele tenha boa aprovação de parte do eleitorado, que lhe confere uma liderança nas pesquisas. Uma eventual vitória de Lula sobre Bolsonaro faria do petista o mais longevo presidente do período democrático, representando doze anos à frente do Palácio do Planalto.
Neste melhor cenário, o de vitória, Lula terá um ambiente diferente daquele que encontrou em 2003, quando chegou ao Palácio do Planalto, com um horizonte de gestão mais rígido, uma vez que o orçamento impositivo aprovado pelo Congresso Nacional ainda no governo Dilma Rousseff deixa pouca margem de manobra para o chefe do executivo. E diferentemente do que falou no debate da Band, não haverá condições de o Congresso Nacional perder a prerrogativa do orçamento impositivo, uma vez que político não aceita perder poder. Portanto, a lógica do orçamento impositivo permanecerá, conferindo ao Congresso Nacional grande poder, em especial ao presidente da Câmara dos Deputados.
Por falar em presidente da Câmara, Arthur Lira tem todas as condições de permanecer no comando daquela Casa Legislativa porque goza de confiança e respeito dos pares, o que dificilmente modificaria o cenário de que num eventual governo Lula, o Planalto teria força para desbancar Lira. A Lula restaria compor com Lira para ter a mínima condição de governabilidade. Além da relação com o legislativo sem muito poder de barganha, Lula teria o desafio de que seu governo em 2023 seria comparado com os anos de 2003 a 2010, o que indiscutivelmente traria prejuízos para ele porque o cenário macroeconômico é completamente distinto.
Mas existe um cenário muito mais complexo para Lula, este sim, seria o pesadelo do PT e do próprio Lula que levou anos para conquistar a representatividade que tem. A pesquisa Datafolha divulgada ontem trouxe um certo temor para a campanha de Lula, que apesar de ter onze pontos de vantagem sobre o atual presidente Jair Bolsonaro, viu essa situação modificar substancialmente em relação ao primeiro levantamento em 23 de maio.
Naquela ocasião, Lula tinha 48% das intenções de voto no Datafolha contra 27% das intenções de voto de Jair Bolsonaro, uma diferença de vultosos 21 pontos caiu para 11 pontos, com risco até o final do primeiro turno de diminuir ainda mais, uma vez que Lula estagnou enquanto seu adversário vem crescendo paulatinamente.
Se porventura a diferença entre Lula e Bolsonaro for ínfima nas urnas do primeiro turno ou até mesmo acontecer uma virada em favor do atual presidente, o segundo turno será longo para o candidato do PT que estaria em viés de estabilização ou queda, enquanto o atual presidente em viés de alta.
É neste contexto que se insere o risco maior de Lula. Uma possível derrota para Jair Bolsonaro fará do atual presidente uma figura ainda maior, diferentemente de quando derrotou Fernando Haddad. Ali havia a desculpa de que Lula estava preso, que tinha sido proibido de concorrer e perseguido por Sérgio Moro. Hoje o caminho é inverso, Lula teve seus processos anulados pelo STF, foi reabilitado como única opção para derrotar o seu maior adversário, fez uma aliança com Geraldo Alckmin, com quem trocou farpas em outrora.
O risco de Lula comprometer o seu legado numa derrota para Bolsonaro é significativo, porém mais do que isso, ele pode comprometer o futuro do Partido dos Trabalhadores, que colocou sua maior, para não dizer única estrela numa verdadeira fogueira, e fazer de Bolsonaro alguém mais representativo não só para a eleição de 2022 como também do bolsonarismo uma força política com similaridade do que representa o lulismo no Brasil.
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