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Givaldo Calado de Freitas
Quando você está concentrado no trabalho, olha pela janela e pensa: ô sorte! Vivo em Garanhuns! Até de meu ambiente de trabalho aprecio essa maravilha do pôr do sol de minha cidade.
Subindo às Colinas “Monte Sinai” e “Columinho”, sentindo aquela brisa
que Manuel Bandeira tanto desejou, aí é que tenho que repetir: ô sorte. Vivo em
Garanhuns!
Logo cedo, no café da manhã Palace, encontrei um amigo que não via faz
muitos anos. Muitos! “Givaldo, não aguento mais o Recife. Tenho vindo muito a
Garanhuns, e ficado, aqui, com o amigo”. Surpreso, perguntei: “Comigo? Como? Se
nunca o vi por aqui?” “É que, Givaldo, eu procurava me esconder de você. Sei do
seu apego, do seu entusiasmo... por sua cidade, e não queria ser cooptado por
você. Eu tinha que decidir minha vida, sozinho. Sem mulher por perto. Sem
filhos. Sem netos. Enfim, sozinho. Em Recife é que não fico mais. Não aguento
mais.” Assustado com o amigo, disse, na esperança de transformar sua desolação
em consolação: “Verdade? Então, amigo, quero dizer que tenho uma solução para
seu impasse: Garanhuns e sua gente lhe escancaram as portas. E começam a
fazê-las pelas minhas. Volte às ‘Terras de Simôa’.”
Semana passada um colaborador meu me dizia: "há um cidadão que quer
falar com o Senhor de todo jeito. Já disse que agora não, porque o Senhor está
em reunião. Mas ele está forçando a barra.” Disse ao colaborador: “Traga-o,
aqui. De repente, entra o amigo em minha sala. Olhei pra ele e, assustado,
perguntei: “Você? O que fizeram com você, meu amigo?” Ele me respondeu com um
sorriso estranho, no que pese acolhedor, mas com uma voz calma e suave: “É a
vida, Givaldo. A vida maltrata a gente.” Disse-o, apressado: “Vou fingir que
não ouvi. Até porque de algum tempo para cá, passei a não ouvir mais essas
palavras. De desânimo. De descrença. De desesperança... Coisa nenhuma! A vida,
bem vivida, se prolonga e se reinventa. E, agora, com essa dos 140...”
Continuei: “Tenho uma receita pra você. Quer ouvir? Ouvir e cumprir?”
“Primeiro, deixe-me, pelo menos, dizer por onde ando, antes de você me passar
sua receita.” Recuei. “Claro! Claro! Fique a vontade.” E ele prosseguiu: “Você
sabe, não é, Givaldo? Estudei, aqui, no Diocesano. A vida, lá na frente, me
mandou para o Amazonas. Bati quase todo o Norte do país. E fui forçado, muitos
anos depois, a mudar para Alagoas, onde continuo morando em Arapiraca. Mas,
Givaldo amigo, eu não gosto de lá. Tenho verdadeiro horror àquela cidade.
Ocorre que minhas coisinhas, deixadas por meus pais, estão lá. Tem noite que
sonho com a Garanhuns de minha juventude. Aí, bate-me uma vontade danada de
voltar. E eu dou um pulinho, aqui.”
“Venha pra cá, amigo.” Tive vontade de falar de seu estado... Mas...
tive medo. Afinal, ele hoje mora em Arapiraca e, aí, tive medo. Mas, disse-o:
“Quer voltar pra sua cidade, conte comigo. Conte com a hospitalidade que você
conhece. De seus conterrâneos. De Garanhuns.”
Ficou de vir. Vamos conferir mais tarde. Afinal, me pediu seis meses
para tomar uma decisão. Um mês já passou.
O meu amigo, a quem reencontrei hoje, me perguntou: “Por que você me
conta essa história, Givaldo? Que tenho eu a ver com essa de seu amigo?”
Disse-o: “Tudo!” Mas com muito cuidado. O mesmo cuidado que tive com o outro
meu amigo, sobretudo depois que me dissera por onde andava.
Tenho conversado com muitos amigos que me dizem o mesmo. E deles tenho
escutado que pensam em voltar a viver em Garanhuns. E, animados, dizem: “Pela
beleza da cidade. Pela qualidade de vida que ela oferece - acesso, clima,
água... E, estes, imbatíveis. Sem falar de situada nesse Planalto da Borborema,
que acolhe, magicamente, suas Colinas - sete. Que lha ofertam charme, encanto,
magia... Tudo especial e único. E, ademais, próxima de capitais como Recife,
João Pessoa, Maceió, Aracajú...”
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Figura pública. Empresário.
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Crônica redigida em 22.12.2017
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