terça-feira, 18 de dezembro de 2018


Pedido de prisão de João de Deus cita que vítima falou em 'risco de morte' após falar sobre abuso em Abadiânia

O médium conhecido mundialmente está preso suspeito de abusar sexualmente de mulheres durante tratamentos espirituais. Defesa dele nega acusações e pediu soltura dele.

Por Vanessa Martins e Fábio Castro, G1 GO e TV Anhanguera

18/12/2018 13h59 Atualizado há 21 minutO



João de Deus pode responder a apenas uma das 15 denúncias formalizadas de abuso sexual

O pedido de prisão de João Teixeira de Farias, o médium João de Deus, suspeito de abusos sexuais, cita que uma das mulheres que se sentiu vítima do homem foi alertada sobre “risco de morte” após falar sobre o abuso. O documento foi obtido com exclusividade pela TV Anhanguera e também fala do poder do investigado em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal, onde fazia os atendimentos espirituais.

O Ministério Público e a Polícia Civil já receberam mais de 500 denúncias de abusos e investigam também suspeita de lavagem de dinheiro
O médium está preso desde domingo (16), quando se entregou em uma estrada de terra
Ele está detido no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, em uma cela individual, mas passa o dia em outra cela com quatro advogados presos
O advogado de João, Alberto Toron, disse que o médium alega inocência e acredita que haja uma armação contra ele
A defesa do preso pediu o habeas corpus de João na segunda-feira (17), mas até o início da tarde desta terça-feira (18), ele não havia sido julgado, segundo o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO)

Pedido de prisão

Conforme consta no pedido de prisão do médium, uma vítima relatou ter sido abusada por João a moradores de Abadiânia e foi alertada sobre “risco de morte”, devido à “temeridade que todos têm de João de Deus, pois ele manda matar todos aqueles que o afrontam”.
Ainda de acordo com o documento, a Polícia Civil acredita que o prestígio de João reforça o medo das vítimas de denunciarem os abusos. “Não há dúvidas quanto as represálias ou mesmo descrédito que sofreriam dos seguidores que se encontravam no local, caso elas gritassem por auxílio”, lê-se no pedido.


Os delegados também argumentam que o investigado criava uma “atmosfera intimidatória ao isolar a vítima do contato com outras pessoas”. Ainda conforme o texto, o alvo tem um padrão ao cometer os abusos, “o que traz mais fidedignidade aos relatos das vítimas”, como explica o delegado André Fernandes.

“O comportamento desses depoimentos, tem um ato comum, um modo operandis comum, e é isso que foi traçado por diversas vítimas que não se conhecem, cada uma traça uma situação e temos uma igualdade de comportamento”, disse.



Promotores e delegados que compõem forças-tarefas para apurar suspeitas de abuso sexual contra o médium João de Deus — Foto: Sílvio Túlio/G1

Denúncias

O Ministério Público e a Polícia Civil informaram na segunda-feira que receberam 506 relatos de mulheres que dizem ter sido abusadas por João de Deus em Abadiânia. Além destes crimes, os órgãos também apuram se houve conivência de outras pessoas e denúncias de lavagem de dinheiro.

Ministério Público recebeu 506 relatos.
Das mulheres que denunciaram caso ao MP, 30 já foram ouvidas.
Polícia Civil colheu depoimentos de outras 15 mulheres.
Há relatos de vítimas de seis países e vários estados brasileiros.
Médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude.
Não há pedido para suspensão do funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola, onde médium atende.



O médium João de Deus, preso em Goiás sob acusação de abuso sexual — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

O delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes, disse acreditar que o número vai crescer a partir da parceria com o MP e que "muitos casos já podem ter prescrito".
"É muito dinâmico. O MP vai contribuir com várias informações que foram colhidas por eles e serão enviadas para a polícia. Esses dados precisarão de uma nova análise por parte da polícia investigativa", afirmou.

A Polícia Civil declarou que o líder religioso será ouvido "quantas vezes for necessário" durante as apurações. Delegados e promotores que compõem as forças-tarefas que investigam os crimes se reuniram no período da tarde na Secretaria de Segurança Pública para compartilhar dados.

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