sábado, 21 de março de 2020

Entenda por que o colapso no sistema de saúde é uma possibilidade real

Ministro diz que a Covid-19 vai se propagar numa velocidade que impactará o atendimento a doentes a partir do fim de abril. De acordo com ele, o número de casos começará a ceder em setembro. Com 11 mortes, Brasil declara estado de transmissão comunitária em todo o país


(foto: Isac Nóbrega/PR)
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o sistema de saúde do Brasil entrará em colapso no fim de abril, por conta da proliferação do coronavírus. “O colapso é quando você tem o dinheiro, o plano de saúde, a ordem judicial, mas não tem onde entrar para se tratar”, explicou ele, durante videoconferência ao lado do presidente Jair Bolsonaro e de empresários. A pandemia causou, até agora, 11 mortes no país, e há 904 casos confirmados de infecção. Para tentar unificar as ações, a pasta declarou, ontem, estado de transmissão comunitária em todo o país. A portaria com a medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.

De acordo com Mandetta, a queda no número de infectados deverá ocorrer somente em setembro. “O vírus tem um padrão de transmissão muito competente, e que cada pessoa, quando em movimento normal, o vírus faz uma espiral, uma curva de 90 graus, pega ar e sobe. Nós ainda não estamos nela. São Paulo está fazendo o início do seu redemoinho”, apontou, numa referência ao estado que já registra nove mortes e tem 396 casos confirmados — o Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com dois óbitos e 109 confirmações.

Mandetta ressaltou que haverá um rápido aumento no número de casos nos próximos 10 dias.“A gente deve entrar em abril e iniciar a subida rápida. Essa subida rápida vai durar abril, maio e junho, quando ela vai começar a ter uma tendência de desaceleração de subida. Julho deve começar o platô, em agosto, esse platô vai começar a mostrar tendência de queda e aí a queda em setembro, é uma queda profunda, tal qual foi a queda de março da China”, explicou. Ainda segundo o ministro, as medidas de restrição de trânsito da população podem se intensificar nos próximos dias.

Um colapso do sistema de saúde público é uma possibilidade real, apontam especialistas. “Não só da rede pública, mas também a privada”, alertou a presidente da Sociedade de Infectologia do DF, Heloisa Ravagnani Muniz. “A previsão para os próximos meses já é de um aumento de demanda com a dengue e a influenza. Se população relaxar nesse novo cenário de coronavírus, a demanda será tão grande que não há tempo hábil para o sistema se organizar.”

Para mudar as projeções, explicou Heloisa Muniz, não bastam os esforços das autoridades, é necessário que a população incorpore radicalmente as medidas de isolamento social e as práticas de higiene. “Nós estamos vendo pelas experiências de outros países e temos de nos preparar. Permitir que a curva de infecção não tenha um pico. Do contrário, teremos um cenário difícil, em que profissionais da saúde precisarão escolher a que pacientes atender.”

O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Jose David Urbaez, acredita que as palavras do ministro são para chamar a atenção das pessoas. “Serve como um alerta para todos, inclusive, para o mundo político e econômico. Há resistência entre empresários de tomarem as medidas de restrição e até de parte da população. Esse colapso pode acontecer, caso as medidas não sejam seguidas à risca”, avaliou.

Recursos
 
Também ontem, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, disse que o governo vai estudar os casos para liberar os recursos para o Ministério da Saúde.

Na opinião de Gil Castello Branco, secretário-geral da Contas Abertas, com o estado de calamidade, o governo só não vai gastar mais com Saúde se não quiser, pois, pelas regras constitucionais, ele pode ter espaço para descumprir a regra do teto, via créditos extraordinários, e também a regra de ouro, pois o Executivo já ia pedir a autorização para ampliar os gastos em R$ 343,6 bilhões para cobrir despesas de custeio. A regra de ouro proíbe que o governo emita dívidas para cobrir gastos correntes, como salários e aposentadorias. “Com o coronavírus, pedirá mais”, apostou.

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