domingo, 29 de março de 2020

Mandetta eleva o tom e adverte Bolsonaro e ministros em reunião tensa sobre pandemia de coronavírus

O ministro da Saúde questionou: "Estamos preparados para ver caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?"

POR: Carolina Fonsêca

Durante reunião, Mandetta afirmou que poderia ter que criticar Bolsonaro se o ele mantivesse a postura que tem diante da pandemia e o presidente rebateu que o demitira - FOTO: Isac Nóbrega/PR
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, elevou o tom e advertiu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros ministros durante reunião tensa no sábado (28), segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Frisando que a pandemia de coronavírus não é uma "gripezinha", o ministro alertou que, se morrerem mil pessoas, será o correspondente à queda de quatro Boeings. E questionou: "Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas? Com transmissão ao vivo pela internet?". No sábado, os mortos chegaram a 114.

A tensão entre Bolsonaro e os governadores também esteve em pauta nesta reunião. Ainda segundo o Estado de S. Paulo, Mandetta pediu que o presidente criasse "um ambiente favorável" para um pacto entre União, Estados, municípios e setor privado para todos agirem em conjunto, unificar as regras e medidas e seguir sempre critérios científicos. A criação de uma central de equipamentos e pessoal, para possibilitar o remanejamento de leitos, respiradores e até médicos e enfermeiros de um Estado a outro também foi sugerido pelo ministro.

Mandetta também fez pedidos diretos a Bolsonaro, relacionados a postura que o presidente tem tido durante a pandemia de coronavírus e o clima ficou tenso entre os dois. O ministro pediu que o presidente não menosprezasse a gravidade da situação nas suas manifestações públicas, deixando claro que, se Bolsonaro o fizesse, seria obrigado a criticá-lo. E o presidente rebateu, afirmando que, nesse caso, iria demiti-lo.

Quanto a um pedido de demissão partindo do ministro da Saúde e sua equipe, Luiz Henrique Mandetta disse que não farão isso no meio de uma crise, mas estão prontos a sair depois dela se for o caso. Ele, inclusive, se colocou à disposição para assumir a função de "bode expiatório", em caso de fracasso, e se comprometeu a não capitalizar politicamente, em caso de sucesso. Mandetta disse ainda que não tem ambições polísticas e nem reivindica nenhuma posição de destaque.

Aliados de Mandetta no Democratas (DEM) e seus assessores na Saúde garantem que ele não pedirá demissão e repete sempre que não abandonará o barco mesmo quando a pandemia entrar na sua fase mais crítica.

Participaram da reunião, além de Bolsonaro e Mandetta, os ministros da Defesa, Fernando Azevedo, da Justiça, Sergio Moro, da Secretaria do Governo, Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, Braga Neto, do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho e o advogado-geral da União André Mendonça e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.

Embora os momentos tensos da reunião tenham chamado a atenção, os ministros consideraram o resultado final bom, já que todos, inclusive Mandetta, concordaram com a preocupação de Bolsonaro em preservar ao máximo a economia, o funcionamento dos transportes e da infraestrutura em geral.
Carreatas

Em entrevista coletiva após a reunião com o presidente, o ministro da Saúde criticou as carreatas pela reabertura do comércio. Atos defendidos por Bolsonaro, que chegou a inclusive compartilhar vídeos nas redes sociais. "Fazer movimento assimético de efeito manada...Daqui a duas semanas, três semanas, os que falam "vamos fazer carreata", vão ser os mesmos que ficarão em casa. Não é hora", disse Mandetta.

Tanto no Palácio da Alvorada quanto na coletiva, Mandetta defendeu a uniformização das medidas de isolamento, disse que alguns setores realmente precisam funcionar e que o vírus não apenas mata pessoas como afeta todo o sistema de um País. Ele também freou a versão de que a hidroxicloroquina é uma "panaceia" e vai curar a doença a curto prazo.

Na quinta-feira (26), durante a reunião de presidentes e primeiros-ministros do G-20, Bolsonaro chegou a falar com entusiasmo do uso deste medicamento no combate ao coronavírus, mas Mandetta mantém cautela. "O estudos são muito incipientes", afirmou o ministro.
Estados26/2 — 28/3MortesRegiãoColumn 1
Acre
025
0Norte
Amazonas
0111
1Norte
Amapá
04
0Norte
Pará
017
0Norte
Rondônia
06
0Norte
Roraima
012
0Norte
Tocantins
09
0Norte
Total - Norte
0184
1Norte
Alagoas
014
0Nordeste
Bahia
0128
0Nordeste
Ceará
0314
4Nordeste
Maranhão
014
0Nordeste
Paraíba
014
0Nordeste
Pernambuco
068
5Nordeste
Piauí
011
1Nordeste
Rio Grande do Norte
045
0Nordeste
Sergipe
016
0Nordeste
Total - Nordeste
0624
10Nordeste
Espírito Santo
053
0Sudeste
Minas Gerais
0205
0Sudeste
Rio de Janeiro
0558
13Sudeste
São Paulo
11,4k
84Sudeste
Total - Sudeste
12,2k
97Sudeste
Distrito Federal
0260
0Centro-Oeste
Goiás
056
1Centro-Oeste
Mato Grosso do Sul
031
0Centro-Oeste
Matro Grosso
013
0Centro-Oeste
Total - Centro-Oeste
0360
1Centro-Oeste
Paraná
0133
2Sul
Santa Catarina
0184
1Sul
Rio Grande do Sul
0197
2Sul
Total - Sul
0514
5Sul
Brasil
13,9k
114-

Nenhum comentário:

Postar um comentário