Por Edmar Lyra
As manifestações deste domingo (3) em dezenas de cidades brasileiras, lideradas por expoentes da direita, reafirmaram que o bolsonarismo está longe de ser uma força política esgotada. Mesmo sem a presença física de Jair Bolsonaro — ainda restringido por medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal —, os atos levaram às ruas milhares de pessoas com pautas muito claras: anistia para os condenados do 8 de janeiro, repúdio a Alexandre de Moraes e crítica à gestão de Lula. Em termos simbólicos e políticos, os protestos traçam um cenário bastante incômodo para o Palácio do Planalto.
O bolsonarismo, mais do que uma figura, tornou-se um movimento. A presença de Michelle Bolsonaro em Belém, Silas Malafaia em São Paulo, parlamentares do PL, e pastores evangélicos por todo o país mostrou que há uma rede articulada, com estrutura, discurso e capilaridade social. O discurso não se limita mais à defesa de Bolsonaro como indivíduo, mas evoluiu para um enfrentamento às instituições que, na visão dos manifestantes, atuam com parcialidade e autoritarismo — com Alexandre de Moraes como alvo central.
Essa movimentação ocorre num momento de fragilidade crescente do governo Lula. A economia, embora sob controle no macro, segue patinando no micro. A inflação de alimentos voltou a subir, o desemprego entre jovens permanece alto e, sobretudo, o sentimento de desalento está se espalhando entre os que votaram com esperança em 2022. Soma-se a isso uma base parlamentar cada vez mais instável e uma comunicação de governo que não empolga nem mobiliza a opinião pública.
As críticas à politização do Judiciário, especialmente ao protagonismo de Moraes, têm encontrado eco fora da bolha bolsonarista. Liberais, juristas e até setores mais moderados já começam a se preocupar com os limites tênues entre justiça e política. Essa inflexão é aproveitada com habilidade pela direita, que reorganiza sua narrativa em torno da “defesa das liberdades”, da “restauração da democracia” e da crítica à judicialização da política.
Para 2026, o cenário é menos confortável para Lula do que muitos supõem. A ancoragem de sua candidatura à reeleição depende fortemente de fatores que estão escapando ao seu controle: a economia melhorar na ponta, a pacificação institucional com o Congresso e a contenção de crises jurídicas e de imagem. Ao mesmo tempo, o campo adversário se reorganiza — com Michelle Bolsonaro sendo testada como possível candidata, ou ainda nomes como Tarcísio de Freitas ou Romeu Zema ganhando musculatura nacional.
O bolsonarismo, mesmo sem Bolsonaro elegível (o que ainda não é definitivo), conseguiu mostrar que tem rua, tem povo e tem pauta. E para quem conhece a história da política brasileira, esses são três pilares essenciais para qualquer projeto vitorioso. Lula, que em 2006 surfou no “lulismo raiz” para se reeleger com folga, agora precisará de muito mais do que carisma e memória afetiva para repetir o feito.
Em suma, o jogo para 2026 está aberto. E se alguém duvidava da força do bolsonarismo, este domingo serviu como um lembrete eloquente: ele segue vivo, organizado e cada vez mais competitivo.
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