terça-feira, 5 de agosto de 2025

Prisão domiciliar de Bolsonaro: o fim de uma era ou o início de outra radicalização?

 

Foto: Divulgação

Por Edmar Lyra

A prisão domiciliar imposta a Jair Bolsonaro representa mais do que um capítulo judicial: trata-se de um marco político sem precedentes na história democrática recente do Brasil. Pela primeira vez, um ex-presidente da República é submetido a medidas tão restritivas em decorrência de suas ações no pós-governo. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, coloca Bolsonaro sob vigilância direta do Estado, com tornozeleira eletrônica, proibição de uso de redes sociais — inclusive por terceiros — e restrição severa de visitas, exceto a familiares próximos e advogados.

No plano político, o impacto é devastador para o bolsonarismo. A figura central do movimento está, agora, oficialmente reclusa. Não é mais apenas a inelegibilidade que limita seu protagonismo; é a impossibilidade de atuar, ainda que nos bastidores, com a desenvoltura que sempre demonstrou. Bolsonaro perde seu principal instrumento: a comunicação direta com sua base pelas redes sociais. Sua retórica agressiva e polarizadora, que por anos foi o motor da sua influência, foi silenciosamente desativada — por imposição judicial.

A prisão domiciliar expõe também o esgotamento de uma estratégia de confronto sistemático com as instituições. Bolsonaro passou anos tensionando o Judiciário, atacando o STF e alimentando uma retórica golpista. Agora, colhe os frutos dessa escalada. A decisão de Moraes, além de responder a violações de medidas cautelares, é também um recado institucional: há limites, e eles estão sendo impostos com firmeza. Trata-se, na prática, da judicialização da contenção política.

No entanto, é preciso reconhecer que a medida imposta ao ex-presidente gera debates legítimos. Críticos acusam o STF de extrapolar os limites da legalidade ao avançar sobre o campo político, com decisões que, segundo eles, caminham perigosamente para o arbítrio. Para essa ala, a prisão domiciliar não é um gesto de justiça, mas de perseguição. Por outro lado, defensores da medida veem nela um freio necessário a uma liderança que ameaçava abertamente as instituições democráticas.

O risco político, portanto, é duplo. De um lado, a imagem de Bolsonaro como vítima pode reanimar parte da base radicalizada, que voltará a denunciar uma “ditadura do Judiciário”. De outro, a decisão pode levar ao esvaziamento político do ex-presidente, tornando-o irrelevante no processo eleitoral de 2026. A depender do tempo e da narrativa que se consolidar, o bolsonarismo pode tanto se fragmentar quanto se radicalizar ainda mais.

Enquanto isso, o vácuo deixado por Bolsonaro abre espaço para novas lideranças da direita, como Tarcísio de Freitas, que tenta se equilibrar entre o bolsonarismo e o diálogo institucional. A prisão domiciliar de Bolsonaro inaugura um novo momento na política brasileira: o fim da era do confronto direto pode estar começando — mas também pode ser o estopim de uma nova fase de embates ainda mais tensos entre Poderes.

Em qualquer cenário, a prisão domiciliar de um ex-presidente não é um ponto final, mas uma vírgula incômoda na narrativa da democracia brasileira.

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