quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A recuperação de Lula e os desafios pela frente

 

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Edmar Lyra

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (20) mostrou um dado que o Palácio do Planalto aguardava com expectativa: a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a subir, alcançando 46%. Em paralelo, a desaprovação caiu para 51%, após ter atingido 57% em maio, o pior momento do atual mandato. Os números, embora ainda apontem para uma maioria crítica ao governo, revelam que Lula conseguiu estancar a sangria e, pouco a pouco, reconquistar uma fatia relevante do eleitorado.

Esse movimento de recuperação não é trivial. Nos meses anteriores, o governo enfrentava desgaste acelerado, resultado da deterioração do ambiente político e da percepção de dificuldades econômicas. O clima de instabilidade institucional, acentuado pela crise diplomática com os Estados Unidos após a aplicação da Lei Magnitsky a Alexandre de Moraes, também contribuiu para corroer a imagem presidencial. Nesse contexto, cada ponto de aprovação recuperado tem peso simbólico e político.

A retomada pode ser explicada por alguns fatores. O primeiro é a melhoria gradual da economia, ainda que em ritmo moderado. Inflação sob controle, queda dos juros básicos e avanços em programas sociais deram ao governo argumentos para se reposicionar junto ao eleitorado. Além disso, a postura mais ofensiva de Lula em defesa de seu legado e na tentativa de pautar o debate público parece ter surtido efeito, especialmente entre setores mais identificados com o campo progressista.

Outro aspecto relevante é o contraste com a oposição. Até aqui, adversários de Lula não conseguiram construir uma narrativa unificada nem apresentar alternativas sólidas. Essa fragmentação da oposição oferece ao presidente espaço para respirar, ainda que não elimine o risco de desgaste futuro.

Mas os desafios permanecem expressivos. O dado mais evidente é que, mesmo com a recuperação, a desaprovação ao governo ainda supera a aprovação. Isso significa que a maioria da população continua insatisfeita. Para reverter esse quadro, o Planalto precisa transformar a recuperação pontual em tendência consolidada, tarefa que exige resultados mais visíveis em áreas críticas como saúde, segurança e geração de empregos.

Há ainda o desafio da relação com o Congresso. A base governista, embora formalmente ampla, nem sempre garante votações tranquilas. A dependência de acordos pontuais e o peso de partidos do centrão tornam a governabilidade custosa e frágil. Se Lula quiser ampliar sua margem de aprovação, terá de demonstrar capacidade de articulação sem que isso se traduza em paralisia ou em escândalos que possam minar a credibilidade de seu governo.

No campo internacional, a crise com os EUA funciona como teste de fogo. O presidente precisa equilibrar a defesa da soberania nacional com a necessidade de manter boas relações econômicas e diplomáticas. O desgaste nesse terreno pode afetar investimentos e, por consequência, o desempenho da economia — peça-chave para sustentar a recuperação de popularidade.

Em resumo, a pesquisa Quaest indica que Lula conseguiu inverter a curva negativa e abre espaço para um novo momento político. Mas a travessia até consolidar uma maioria favorável será longa e repleta de obstáculos. A popularidade voltou a subir, mas a confiança do eleitorado ainda está em reconstrução.

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