sábado, 30 de agosto de 2025

Eduardo Bolsonaro joga contra a direita e contra o próprio pai

 

Foto: Divulgação

Por Edmar Lyra

A eleição de 2018 marcou uma ruptura na política brasileira. Jair Bolsonaro, até então deputado federal de baixo clero, contrariou todos os prognósticos e chegou à Presidência da República em um pleito atípico, sem tempo de televisão e com uma campanha baseada nas redes sociais. Sua vitória representou não apenas a ascensão da direita, mas também uma mudança duradoura na forma de se fazer política no país. A partir dali, novos quadros foram projetados nacionalmente, entre eles o atual governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas.

Tarcísio construiu sua carreira no serviço público como técnico e servidor de carreira, tendo atuado nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer. No entanto, foi como ministro da Infraestrutura de Bolsonaro que ganhou projeção nacional. À frente da pasta, conseguiu entregar obras relevantes e se tornou um nome reconhecido pela capacidade de gestão, o que foi determinante para sua eleição ao governo paulista em 2022. Hoje, diante da inelegibilidade do ex-presidente, o governador de São Paulo é considerado o principal nome da direita para disputar a Presidência em 2026.

A eventual filiação de Tarcísio ao PL, partido de Bolsonaro, contudo, abriu espaço para tensões internas. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, declarou que deixará a legenda, junto com sua família, caso a filiação se concretize. A manifestação expõe um conflito dentro do campo conservador: de um lado, a necessidade de consolidar uma candidatura competitiva; de outro, o receio de perda de espaço político da família Bolsonaro no partido.

O contexto aumenta a pressão sobre Jair Bolsonaro, que enfrenta a possibilidade de prisão em regime fechado. Analistas políticos avaliam que sua única chance de reverter esse quadro no médio prazo seria a vitória de um aliado em 2026 capaz de negociar uma saída institucional. Nesse cenário, Tarcísio aparece como a alternativa mais viável. Uma eventual reeleição de Lula, avaliam interlocutores, significaria a permanência do ex-presidente na prisão por um período prolongado.

A candidatura de outros integrantes da família Bolsonaro, como Flávio, Eduardo ou Michelle, é vista como menos competitiva. Pesquisas e análises de bastidores apontam dificuldades para que qualquer um deles consiga ampliar a base de apoio além do núcleo bolsonarista. O sistema político, de forma mais ampla, também já teria sinalizado resistência à presença de nomes diretamente ligados ao clã no Palácio do Planalto.

Nesse sentido, Tarcísio desponta como figura capaz de oferecer uma alternativa de pacificação. Interlocutores apontam que sua eventual candidatura pode abrir espaço para negociações que contemplem tanto a não perseguição a Lula e ao PT em caso de vitória da direita quanto a revisão da situação judicial de Bolsonaro. Para setores do sistema, ele representaria uma opção de continuidade da direita com menor carga de polarização e maior capacidade de diálogo.

O desafio para a oposição será, portanto, administrar as divergências internas. Caso a família Bolsonaro insista em criar obstáculos à consolidação de Tarcísio, o risco é de fragmentação do campo conservador e de enfraquecimento de suas chances eleitorais em 2026. Nesse quadro, a definição sobre a filiação de Tarcísio ao PL e a posição do clã Bolsonaro serão decisivas para o futuro político da direita no Brasil.

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