Mitos levam muita gente a não se vacinar contra males altamente contagiosos. Um dos exemplos recentes é o da vacinação contra a gripe. A procura foi tão baixa que o GDF prorrogou o prazo, mas não conseguiu atingir a meta
Catapora, caxumba, meningite, gripe, coqueluche e diarreia são doenças preveníveis e altamente contagiosas. O controle delas passa pelas salas de vacinação e pelo monitoramento dos casos. O número de gente que adoeceu com algumas dessas enfermidades na capital federal aumentou, sobretudo, na população adulta entre 2015 e o ano passado, segundo Boletim Epidemiológico Geral da Secretaria de Saúde. Não há motivo para pânico, mas é preciso prestar muita atenção na atualização da caderneta de vacinas e em regras de higiene.
Estatisticamente, segundo a Secretaria de Saúde, não há uma queda abrupta em algum tipo de imunização, mas percebe-se que se tem se criado estigmas e resistências contra a proteção. “Dos agravos que são imunopreveníveis, a maior parte está controlada. Tétano e difteria, por exemplo, não tivemos casos. Mas é preciso ter atenção na caderneta de vacinas”, detalha a técnica da Vigilância Epidemiológica e Imunização da Secretaria de Saúde Olga Maíra Machado Rodrigues.Ela usa como exemplo um dos dados revelados pelo boletim. A caxumba infectou 2.363 casos no DF no ano passado. A faixa etária mais acometida foi a de pessoas entre 20 e 49 anos, com 48,6% dos casos. “Embora tenha a vacina (tríplice viral) na rede pública, a população adulta não a procura. Por isso, a incidência maior da doença foi nessa parcela da população”, destaca Olga Rodrigues.A meningite apresentou a mesma tendência. Em 2016, observou-se o predomínio de casos na faixa etária de 10 a 14 anos, seguida pela população acima de 30 anos. “Antes da implantação da vacina no calendário nacional, tínhamos um número maior de meningite em crianças com menos de 1 ano. A bactéria que causa a doenças quer se manter viva, ou seja, vai se adaptando e infectando outras pessoas. Em geral, os casos em adultos têm desfechos menos graves. Em crianças, a proporção da letalidade é maior”, completa Olga.
AvançoO vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, é categórico: as vacinas representam o segundo maior avanço de saúde pública na redução de mortalidade e no aumento de expectativa de vida. A proteção fica atrás somente do consumo de água potável. Ele aposta na disseminação da informação e diz que o programa de imunização é alvo do próprio sucesso. “Várias doenças, como tétano, difteria, sarampo e rubéola, não têm a mesma frequência de décadas atrás. Com isso, as pessoas começam a questionar a importância da vacina, uma vez que as enfermidades não estão presentes”, pondera Kfouri.
O especialista alerta para os riscos desse comportamento: “Esse raciocínio põe em risco todo o ganho dos programas de imunização. A população se preocupa com o que se parece urgente. É preciso disseminar o caráter preventivo”. Um dos exemplos mais recentes de que o brasiliense não tem aderido às campanhas de imunização é o da vacinação contra a gripe. A procura foi tão baixa que o governo prorrogou o prazo e ainda assim não conseguiu atingir a meta para quatro parcelas do público-alvo. O Correio mostrou, no começo do mês, que 14 mil vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) com validade até setembro estão em estoque à espera dos adolescentes.
MonitoramentoO alerta do documento é para alcançarmos cenários como o do sarampo, que não circula no DF desde 2013, e o da rubéola, que desde 2008 não há casos. A poliomielite também é um exemplo. Em 2016, nove casos foram notificados. Renato Kfouri destaca que sempre haverá “janelas suscetíveis”, mas que é importante manter o controle. “Onde vai aparecer será na população que ainda não foi vacinada. Por exemplo, os homens contraem mais essas doenças, porque as mulheres são alvos de programas de imunização por causa da transmissão congênita”, avalia.
A Vigilância Epidemiológica admite que há falhas também na notificação das doenças. Um dos exemplos é o caso da catapora. Em 2015, a Secretaria de Saúde enfrentou problemas no registro de casos deste mal, quando foram identificados 1.579 infecções. No ano passado, o número subiu para 2.016. Mesmo assim, está abaixo da média do DF, 4 mil contaminações. “O leve incremento não caracteriza um aumento inesperado. Há também problemas ligados à notificação. Essa variação é esperada”, garante Olga Rodrigues. Ela diz que, no diagrama de controle — documento que se leva em consideração os últimos sete anos —, não há aumento dos casos.
Outra doença que recebeu destaque no Boletim Epidemiológico foi a diarreia. Apesar de uma leve queda em relação a 2015, a enfermidade adoeceu mais crianças, o que acentua a gravidade dos casos. Ao todo, 32.767 pessoas tiveram diarreia em 2016, sendo 13.811 (42,1%) menores de 5 anos. Em 2015, a enfermidade fez 35.054 casos, sendo 11.243 (32,1%) em menores de cinco anos. “As pessoas precisam ter mais cuidado na preparação dos alimentos e atenção à qualidade da água. O desfecho da doença em crianças é perigoso por causa da desidratação extrema”, ressalta Olga. Além disso, a maioria dos casos não são notificados, já que as pessoas não procuram os hospitais. “Como a fase aguda da diarreia dura até uma semana, muita gente se trata em casa, mas isso é arriscado.”
AlertaUma das preocupações da Secretaria de Saúde é a baixa adesão de grupos vulneráveis que não se vacinaram contra a gripe. O DF atingiu a meta e imunizou 90,4% do público-alvo de 687.155 pessoas. Ao todo, 92.602 pessoas que não faziam parte de nenhum grupo prioritário tomaram a vacina. No balanço final da campanha, quatro parcelas prioritárias não chegaram ao índice: crianças até 4 anos, gestantes, mulheres que deram à luz até 45 dias e trabalhadores da saúde. Mais de 65 mil crianças de seis meses a 4 anos de idade, por exemplo, deixaram de tomar doses. Isso significa que 35,6% desta população não está protegida. Essa faixa etária é a mais acometida com o mal. Este ano, 22 pessoas morreram com complicações da gripe e 334 foram hospitalizadas, segundo o Ministério da Saúde.
"Várias doenças, como tétano, difteria, sarampo e rubéola, não têm a mesma frequência de décadas atrás. Com isso, as pessoas começam a questionar a importância da vacina, uma vez que as enfermidades não estão presentes"
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçoês
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