segunda-feira, 31 de julho de 2017

Festival de Inverno de Garanhuns celebrou a criatividade em sua 27ª edição

Apostando em artistas com trabalhos relevantes e recentes, em dez dias de evento o FIG apresentou um panorama da produção cultural contemporânea brasileira

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Cobertura fotográfica completa: flickr.com/fundarpe

Todo mês de julho temos um encontro marcado: durante dez dias, Garanhuns se transforma em um lugar idílico onde a arte está nos palcos, nas ruas, nos parques. Nesta 27º edição do Festival de Inverno de Garanhuns, a arte esteve sim em todos os lugares. Mais foi além: trazendo uma programação urgente, necessária e contemporânea, o FIG entrou nos corações dos que conferiram artistas de todas as vertentes, estilos e propostas. Não poderia ser diferente em uma edição em que o grande homenageado é o músico cearense Belchior. Política, em sua mais ampla definição, e a poesia, em todas as formas, são o legado de Belchior que marcou o FIG deste ano. Tudo isso com casa cheia: a praça Mestre Dominguinhos, termômetro do FIG, recebeu um público de 250 mil, sem contar quem prestigiou os demais espaços deste ano. 

Na música, a praça Mestre Dominguinhos foi o local para as multidões. Uma vitrine para a música brasileira, o palco apresentou lançamentos de jovens artistas e reverenciou o trabalho de medalhões da nossa música. No Tributo a Belchior, já na primeira noite do polo, músicos de todas as gerações se reuniram: de Angela Ro Ro ao pernambucano Juvenil Silva. Era uma amostra do que estava por vir. No sábado (22), por exemplo, a veterana Baby do Brasil, com seus mais de 30 anos de carreira e carisma ímpar, fez uma apresentação histórica no FIG. Com a revelação Alice Caymmi, que tocou na mesma noite, não foi diferente: o público foi abaixo com sua performance enérgica.

Na crista da onda, a banda BaianaSystem fez as mais de 15 mil pessoas pularem a noite toda, enfrentando chuva e frio em plena terça-feira. Dois dias depois, no mesmo palco, Chico César levou a delicadeza e o vigor do seu novo disco, Estado de poesia, para a praça Mestre Dominguinhos cantar junto. 

Nos palcos Pop e Som na Rural a única certeza era encontrar artistas que estão despontando com obras fortes e originais – e se deixar ser impactado. Foi o caso da banda paulista, com integrantes mexicanos, Francisco, el hombre que arrastou uma multidão na segunda-feira do festival. A apresentação musical-performática do Não recomendados também mexeu com o público. Tudo isso mesclado com nomes que estão na estrada há anos e continuam se desafiando criativamente, como a banda Devotos e a cantora Marina Lima, que se apresenta neste sábado (29) ao lado da jovem banda paraense Strobo. 


Com uma programação musical que não se ateve ao ibope, mas à qualidade artística, o FIG cativou um público fiel, mesmo com o frio e a chuva não dando trégua. Até artistas muito populares, como Zeca Pagodinho e Fafá de Belém, levaram ao palco shows recentes e relevantes. O sambista, por exemplo, apresentou para 40 mil pessoas o show do disco que venceu o Prêmio da Música Brasileira neste ano. 

A originalidade que marcou esta 27ª edição do FIG se revelou também na escolha de shows e montagens inéditos, feitos especialmente para o festival. Foi o caso da linda apresentação do Projeto Setenta com Sete, que reuniu alguns dos melhores sanfoneiros do Nordeste, como Waldonys e Mahatma, para celebrar os 70 anos de gravação do hino Asa Branca. No teatro, tivemos o espetáculo Cabaré Brecht, com a genial Cida Moreira e o retorno ao tablado da atriz Maeve Jinkings. Exibições únicas, especialmente para o FIG. 


IMPRESSÕES - “O FIG amadurece nesta edição como um festival que traz o novo. A excelência artística foi a marca deste FIG, isto é uma afirmação que ouvimos dos artistas e da imprensa especializada que esteve aqui cobrindo o festival e noticiando este evento para o Brasil e para o mundo. E dentro deste recorte, a presença dos artistas pernambucanos nos alegra e dá a certeza de que estamos, no âmbito da política pública de cultura, na construção correta, que se reflete no fortalecimento da já rica e diversa cena cultural do estado, incluindo seus patrimônios culturais e as manifestações mais tradicionais de nossa cultura”, diz Márcia Souto, presidente da Fundarpe.
Márcia destaca ainda, na programação do FIG, as ações de inclusão, como as oficinas de Hip Hop para reeducandos da Funase e as do Funcultura. A Batalha de MCs e o teatro de rua também incrementaram a programação do festival este ano.

“Neste ano, reafirmamos a vocação de diversidade cultural do FIG em todas as linguagens. Reafirmamos também a importância de projetos especiais, a valorização dos artistas pernambucanos, que chegam aqui com novos trabalhos, e a importância do edital – mais de 90% das atrações foram escolhidas por meio dele. É um recorte que dá uma ideia do que está acontecendo nas artes do Brasil, com Pernambuco se sobressaindo”, destacou o coordenador geral do FIG, André Brasileiro.


Para o secretário Estadual de Cultura, Marcelino Granja, esta edição marca uma resistência do valor da cultura em meio a um cenário de crise. “Vários jornalistas de fora do estado ficaram impressionados pela grandiosidade do evento e da capacidade de Pernambuco realizar uma atividade cultural e artística como FIG neste momento em que o País vive uma crise muito grande. É um reconhecimento de que o Governo do Estado entende a atividade cultural como um investimento, algo necessário ao desenvolvimento econômico e ao enfrentamento da própria crise”. Na sexta-feira (28), o secretário acompanhou o governador Paulo Câmara na assinatura do decreto que convoca a IV Conferência Estadual de Cultura. O evento aconteceu na Praça da Palavra Hermilo Borba Filho.

Destaques do festival deste ano


Plataforma FIG incluiu o festival no circuito nacional
Novidade na programação do festival deste ano, a Plataforma FIG promoveu durante dois dias o encontro de produtores de festivais e distribuidores de discos com artistas locais e convidados para debater o mercado da música. Produtores de festivais de todo o Brasil, como Zé Ricardo, do Rock in Rio, participaram dos debates. “Ouvimos questionamentos do público que nos faz pensar e até repensar nossos próprios projetos. Ou seja, essa iniciativa do FIG é fundamental para o futuro da música. Quem pensa em música de qualidade, quem pensa em realmente uma entrega para o público de conteúdo , não só uma entrega superficial, precisa estar trocando, se atualizando e aprendendo com seus colegas de produção”, comentou Zé Ricardo. 


Cultura popular se fortalece com a diversidade
Com um público rotativo de 2.500 pessoas por dia, o palco da Cultura Popular Ariano Suassuna foi um grande mosaico da diversidade cultural pernambucana, com a presença de quatro Patrimônios Vivos e apresentações de manhã até à noite. “A interação entre palco e plateia garantiu um espaço lúdico de beleza ímpar onde se misturam avós, filhos e netos da cidade de Garanhuns ao lado de turistas de todo Brasil, quiçá do mundo, brincando e tudo registrando de forma pacífica e saudável”, comenta Coordenadora de Cultura Popular da Secretaria de Cultura, Teca CarlosA partir deste ano, o espaço recebeu novo nome, homenageando Ariano Suassuna. 

Literatura para todos na Praça da Palavra Hermilo Borba Filho
Com novo nome nesta edição, homenageando o escritor pernambucano, o espaço se consolida como um dos mais importantes do FIG, pela capacidade de reunir famílias inteiras, tendo atrações para todas as gerações. Durante os nove dias do evento, o público estimado foi de 7 mil pessoas. Destaque para a Mesa de Glosas, com poetas e poetisas do Sertão do Pajeú, e a mesa que homenageou Hermilo e contou com a presença da viúva dele, Leda Alves, João Denys e Carlos Carvalho. Importantes nomes da literatura pernambucana passaram pela Praça, deixando suas contribuições, entre eles, Marcelino Freire, Cida Pedrosa, Bené Fonteles, Paulo Vanderley, entre outros. Além dos eventos literários, a Praça também foi lugar de negócios. Os organizadores estimam que as vendas de livros e produtos movimentou mais de R$ 15 mil.


Temas urgentes nas artes cênicas 

 Circo: Esse ano o festival ampliou a participação dos circos itinerantes na programação, garantindo qualidade e diversidade de números tradicionais. Foram realizadas duas Mostras de Números Circenses. “O circo apresentou uma programação rica e com diversidade de estéticas, estimulando a cadeia produtiva e criativa da linguagem, incorporando ainda processos formativos com os artistas presentes no FIG”, conta o assessor de Circo da Secult, Jorge Clésio. A partir da Cooperação Internacional França-Brasil, que possibilitou a formação de 15 jovens circenses, de diferentes segmentos de circo, foi realizada a Mostra de Números Tradicionais, um espetáculo vibrante. A média foi de 1.100 espectadores por dia.

Dança: Mais de 800 pessoas conferiram os quatro espetáculos de dança que o FIG levou ao Teatro Luiz Souto Dourado. O destaque foi para Tijolos de Esquecimento (Acupe), do Recife, Anarthas (Nalini Cia de Dança), de Goiânia (GO), e Enchente (Flávia Pinheiro), também do Recife. O público, fiel e concentrado, acompanhou a proposta da coordenadoria de Dança, de fazer com que os frequentadores do festival tivessem acesso ao que há de mais impactante na produção contemporânea brasileira.

Teatro: Violência contra a mulher, racismo, gênero e sexualidade foram alguns dos temas abordados nas peças de teatro. “O espetáculo Rosa choque, do coletivo Os conectores, impactou a plateia com temáticas urgentes, principalmente a opressão contra a mulher. No início do espetáculo, dividiram a plateia entre homens e mulheres para mostrar o sexismo na sociedade. Em determinado momento, as pessoas poderiam levantar e ir para o outro lado. A plateia levantou, se cruzou, e passou a olhar para a pessoa do outro gênero com mais delicadeza e respeito”, destaca o assessor de teatro e ópera José Neto Barbosa. Um público estimado de 3 mil pessoas conferiram as peças no Teatro Luiz Souto Dourado. A Mostra de Teatro Alternativo e o Literatura na Cena, ambos na Galeria Galpão, somaram 550 pessoas.


Audiovisual celebra e debate o cinema pernambucano
O Cine Eldorado recebeu um público estimado em mais de mil pessoas. Entre os destaques da programação, a exibição de filmes pernambucanos seguidos de debates, sessões infantis e a exibição do filme Amigos de Risco com acessibilidade. “As ações reforçaram a intenção de aproximar o fazer cinematográfico do público, proporcionando encontros e debates acerca da produção, roteiro e direção dos filmes, além de estimular a conhecimento das obras realizadas no Estado”, destacou a Coordenadora de Audiovisual da Secult/PE, Milena Evangelista.


Projeto Outras Palavras distribui kits de livros
Uma ação que vem se consolidando cada vez como um projeto estruturante no diálogo da cultura com a educação em Pernambuco. Nesta 27ª edição do FIG, reuniu um público de 385 estudantes de seis escolas públicas de Garanhuns. O projeto levou o escritor Sidney Rocha, acompanhado de Adiel Luna, para conversar sobre literatura e música popular, buscando despertar nos jovens o interesse pela arte. Ao final do evento, kits com mais de 100 livros de escritores pernambucanos foram entregues para as bibliotecas das seis escolas.


Galeria Galpão é espaço de experimentação nas artes
Mais de 3 mil pessoas foram conferir as exposições de fotos, artes plásticas, debates e performances que aconteceram na Galeria Galpão. A participação feminina na programação foi forte, com as ações performáticas de Carol Azevedo, Kalor Pacheco e do Coletivo Espectro, além da exposição de Joyce Torquato. Outro destaque foi a parceria com o Sesc, que possibilitou a introdução de recorte da 32ª Bienal de São Paulo, em uma série de diálogos. “A Galeria Galpão talvez seja o melhor exemplo de que o FIG não se resume ao palco Mestre Dominguinhos. A Galeria Galpão busca dialogar com o cotidiano do visitante, instigando-o a refletir a respeito de aspectos políticos, sociais e substanciais por meio das artes visuais, da fotografia, do design e da moda”, comenta Janaína Branco, coordenadora de Design e Moda da Secult-PE.


Pau Pombo e catedral recebem música erudita e instrumental
O parque Ruber Van der Linden, mais conhecido como Pau Pombo, é o espaço para música instrumental feita em todo o Brasil. Com um público estimado em mil pessoas por dia, o local recebeu grupos que investem em novas roupagens para ritmos tradicionais, além de nomes consagrados, como a apresentação de Betto do Bandolim com Mestre Chocho. A Catedral de Santo Antônio sediou o Programa do Conservatório Pernambucano de Música e o XIII Virtuosi na Serra sempre com casa cheia e artistas internacionalmente reconhecidos pela qualidade artística, como Edson Cordeiro e Francis Hime e Olívia Hime. 


A diretora do Conservatório Pernambucano de Música, Roze Hazin, comemorou o sucesso da nona edição do CPM no FIG. “Com o passar dos anos fomos buscando uma programação para atender a este público. O espaço da música na catedral é um dos melhores do FIG em termos de acomodação para a verdadeira apreciação da música. Música para ser degustada como um bom vinho”, comenta Roze, que já está pensando na “super programação” que será montada para a décima edição do evento. 

Música pop, forró e Som na Rural no Euclides Dourado
Dentro do palco Euclides Dourado, o Som na Rural virou ponto de encontro de quem queria descobrir novos sons e apreciar a música pernambucana. A apresentação da banda Francisco, el hombre marcou época na segunda-feira do FIG. Montado do lado de fora do parque, o Palco Pop foi prestigiado por um público estimado em cinco mil pessoas por dia. Muitas estenderam a noite e se juntaram  a quem foi conferir os shows de forró que movimentaram o mesmo palco. Destaque especial para os shows dos veteranos Truvinca e Assisão.


Artesanato com ação social
Mais de 1.500 pessoas circularam diariamente pelos 76 estandes da feira de artesanato do FIG. Um dos destaques foi a presença de artesãos de seis cidades da Mata Sul atingidas pelas enchentes deste ano. Esta foi a nona edição da feira, e a segunda vez em que foi realizada em parceria com o Sebrae.


Pontos de Cultura
Pelo sétimo ano, os pontos de cultura contaram com atividades exclusivas no Casarão.  Com programação durante todos os dias do festival, o espaço abrigou discussões sobre sustentabilidade, exposição sobre o cinema de animação e oficinas de fotografia, mamulengo, frevo e percussão. 

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