Andrea Amorim no Garanhuns Jazz Festival 2015 — Foto: Renand Zovka/ Secom PMG |
Veterana em participações no Festival de Inverno
de Garanhuns (FIG), no Agreste de Pernambuco,
Andrea Amorim será responsável por abrir a última noite de shows do palco
Mestre Dominguinhos neste sábado (27). Além dela, estarão se apresentam no
encerramento Maciel Salú, Mundo Livre S/A, Mariene de Castro e Maria Rita.
Nascida e criada em Garanhuns, a cantora e
compositora está completando 20 anos de carreira. Andrea conta com 8 discos
autorais, um trabalho em parceria com Roberto Menescal, além de já ter feito
turnês nos Estados Unidos,
Europa e Japão.
Andrea Amorim durante show no FIG 2017 — Foto: Camila Queiroz |
Em conversa por telefone com o G1, a artista falou sobre a trajetória na música, as
experiências que viveu durante as turnês internacionais e sobre a alegria de
encerrar o Festival de Inverno de Garanhuns.
Confira abaixo a
entrevista com Andrea Amorim:
Você é uma pessoa inquieta, é
jornalista, quase psicóloga, viaja muito... Essa vontade de estar sempre
buscando alguma coisa nova é o que te move?
O que me move são essas mudanças atreladas a música, porque tudo o que
eu vou vivendo, buscando e sobretudo minha experiência de vida é para
acrescentar à minha arte. E todas essas coisas que eu fui aprendendo e
experimentando influenciaram muito na minha arte, principalmente nas minhas
idas ao Japão porque lá eu tive muitas lições de humanidade, gentileza,
respeito. Eu considero o Japão como minha segunda pátria porque eu me
identifico muito com a filosofia de vida deles, porque é muito coletiva. E tudo
que eu vou vivendo, eu tento trazer pra mim, da melhor forma, a via do amor,
que pra mim amor e música são sinônimos e tento explicar para as pessoas e
fazer reverberar isso através da música.
Como foi que surgiu o convite para você
ir para o Japão e como foram as apresentações?
Na verdade, eu fui pro Japão duas vezes. A primeira vez foi em setembro
de 2011, pelo Brazilian Day, e a segunda vez foi em dezembro de 2011 e janeiro
de 2012, quando fiz uma turnê de 24 apresentações em 30 dias. Essa foi a maior
experiência da minha vida, fiquei super feliz e lisonjeada, foi lindo, foi uma
experiência única. Esse ano eu fui de novo e dessa vez eu cantei bossa nova
junto com Takeo Tsutsui e Keijiro Nagaoka, músicos japoneses que me
acompanharam durante as apresentações. Foi interessante porque dessa vez
realmente teve essa troca e essa mistura entre Japão e Brasil na minha música.
Da outra vez que eu fui eu levei meu trabalho autoral de rock e dessa vez que
eu fui com o meu trabalho de bossa nova com Menescal. A Bossa Nova é muito
muito bem-vinda no Japão, os japoneses gostam muito desse gênero, em todos os
lugares centrais toca Bossa Nova.
Você já conhecia o Japão, sonhava em ir
algum dia?
Na verdade, eu nem me permitia ter esse sonho porque eu achava
inatingível. Só que como eu fui trabalhar com Roberto Menescal e fui trabalhar
na Albatroz, a gravadora dele, aí oportunidades surgiram, eu fui para os
Estados Unidos, alguns países da Europa e surgiu isso de participar do
Brazilian Tokyo Day, até Roberto Menescal já tinha me dito: “Quando você for
pro Japão, você não volta a mesma pessoa.” E foi o que aconteceu, eu me
apaixonei pelo país e pelos japoneses, fui pro Japão e voltei muito mais
realizada.
O que eles tem de tão grandioso que
gerou esse impacto em você e na sua música?
A gentileza, o respeito, a educação, o povo tem um amor totalmente
genuíno e puro e eu me identifico muito com a forma de ser e de agir deles.
Como é a música lá? Que tipo de música
é produzida? Qual a relação deles com a música?
A bossa nova é muito bem-vinda lá, inclusive tem uma rádio lá que só
toca as músicas da época da bossa nova. Eles também são muito receptivos com os
artistas brasileiros. Eu levei as músicas do meu trabalho com Menescal, mas
dentro desse contexto eu insiro minhas músicas com o lado mais lírico e isso
também chama muito a atenção deles e eu faço essa mistura da minha música
autoral com o trabalho com Menescal.
"Eu aprendi muito com o
Roberto Menescal, não somente como profissional, mas como ser humano
mesmo", diz Andrea
E como é que funciona em relação a
língua?
Eu canto em português, eles gostam muito da língua portuguesa e muito
estudam a nossa língua por causa da música brasileira, eu fiquei impressionada
quando eu fui a primeira vez. Por meio da música brasileira eles tentam estudar
a língua portuguesa e muitos falam algumas palavras por conta disso. Eu toquei
com músicos japoneses que falam português justamente por causa da música.
Sua carreira começou no Festival de
Música de Garanhuns em 2006 , que hoje não existe mais, mas a cidade sempre
investe em cultura e festivais culturais. Qual a importância desse cuidado com
a cultura para a sua carreira?
Eu sempre digo que isso foi um divisor de águas pra mim. Eu ganhei esse
festival em 2006 e a partir dele eu pude sair de Garanhuns, fui para o Recife,
São Paulo, Rio de Janeiro e depois vários lugares do mundo. Garanhuns foi meu
alicerce e é até hoje, por isso que eu me mantenho na música por conta dessa
força, dessa base que Garanhuns me dá. Talvez se eu não tivesse tido essas
oportunidades eu não teria continuado, quando eu voltei Garanhuns me recebeu
com os braços abertos e me reforçou no sentindo profissional. Eu também faço as
músicas do natal de Garanhuns, eu compus já quase 30 músicas de natal só para
Garanhuns, e essas músicas são executadas durante o desfile de Garanhuns. Foi
Garanhuns que me deu oportunidade de cantar Ave Maria na Magia de Natal, eu
devo minha carreira as pessoas de Garanhuns.
Você participa de vários eventos
distintos na cidade, 'Magia do Natal', 'Festival de Inverno', 'Viva
Dominguinhos'… Cada um tem uma identidade diferente e pensando nisso você
mescla suas músicas, se adapta?
Eu sempre mudo, sempre me adapto, por questão de sobrevivência
profissional, eu me adapto ao contexto. Eu acho isso muito legal porque dá a
oportunidade de universalizar a sua arte e por isso que eu me considero
eclética, não sigo um padrão. Mas nunca deixando de lado minha essência que é o
rock lírico. A minha essência é mantida no trabalho autoral né, que desde do
começo é sempre a mesma linha que é o rock lírico.
O que seria o "Rock
Lírico"?
Assim, eu sempre gostei muito de música erudita, eu gosto do vocal
lírico, e como eu gosto muito eu insiro esses vocais com características
líricas nas minhas músicas e denominei isso de Rock Nacional Lírico. As minhas
produções são essa mistura de pop/rock nacional com esses vocais líricos.
Você é veterana em FIGs e como é estar
encerrando este ano?
É emocionante, mais ainda porque eu estou voltando dessa turnê no Japão
e eu sempre digo assim: “Eu posso tocar em qualquer lugar do mundo, mas cantar
em casa é sempre o melhor lugar”. E eu sou apaixonada por Garanhuns e pelas
pessoas de Garanhuns. São 20 anos de carreira e eu vou comemorar isso no palco,
vou levar minhas músicas autorais, vou fazer rock que é minha paixão, vai ter
lançamento de clipe novo durante o show.
Quais são suas maiores referências que
te ajudam a produzir a identidade da tua arte?
Tudo, tudo que eu escuto, tudo que eu vejo. A própria psicologia já se
tornou uma referência pra mim, me apoio e me inspiro nas linhas da psicologia.
Até o comportamento, um gesto de uma pessoa pode ser uma referência pra mim.
Qual o saldo que você tira desses 20
anos de carreira?
Tudo foi válido, tudo é muito válido. Eu sou muito feliz com o que eu
tenho e com o que eu faço hoje e com tudo que eu consegui, apesar de terem tido
momentos de dificuldades, como em toda carreira que não é de tamanha magnitude.
Eu sempre andei pela música alternativa, não segui pela linha comercial. E eu
tô muito feliz pelo reconhecimento que eu tenho da minha cidade. Feliz pelos
meus trabalhos na psicologia e no jornalismo também.
*Sob supervisão de Lafaete Vaz
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