Por Edmar Lyra
A 26ª edição da Marcha dos Prefeitos a Brasília, organizada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), escancarou a crescente insatisfação dos gestores municipais com o governo federal. Em um episódio incomum, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado por parte dos prefeitos durante sua fala no evento, revelando o desgaste da relação entre o Palácio do Planalto e as administrações locais.
O principal foco de críticas foi a queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que teve redução em termos reais nos últimos meses, comprometendo a manutenção de serviços básicos em centenas de cidades, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Os prefeitos também reclamaram da defasagem nos valores de programas federais como o piso da enfermagem, transporte escolar e custeio do SUS, alegando que a União cria obrigações sem garantir a contrapartida financeira necessária.
Lula tentou adotar um tom conciliador, exaltando o papel das prefeituras e defendendo o diálogo federativo. No entanto, ao afirmar que “dinheiro não cai do céu” e que “os prefeitos precisam aprender a fazer mais com menos”, foi interrompido por vaias vindas do plenário. A cena, amplamente registrada por veículos e redes sociais, simbolizou o clima de frustração dos gestores com a falta de respostas concretas.
Outro ponto de descontentamento foi a dificuldade para acessar recursos federais. Prefeitos criticaram a burocracia imposta pelos ministérios e a morosidade na liberação de verbas. Muitos relataram que programas essenciais são inviabilizados por exigências técnicas excessivas e pela centralização das decisões em Brasília.
A CNM apresentou uma pauta emergencial ao governo, cobrando recomposição imediata do FPM, atualização dos repasses federais e mais autonomia para os municípios na execução de políticas públicas. Embora mantenha postura institucional, a entidade sinalizou preocupação com o agravamento da crise fiscal local.
Com as eleições gerais se aproximando, a insatisfação dos prefeitos representa um alerta político importante para o governo. A base local, essencial para qualquer estratégia eleitoral nacional, está longe de estar pacificada. As vaias a Lula na Marcha dos Prefeitos soam como um aviso claro: sem medidas urgentes, o apoio político do interior pode escapar das mãos do Planalto.
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