Por Edmar Lyra
A formalização do pedido de registro da federação União Progressista provoca um rearranjo imediato nas articulações para 2026. Sob o comando de Eduardo da Fonte, o novo bloco político passa a ocupar posição estratégica numa eleição em que João Campos desponta como favorito ao Governo do Estado, enquanto Raquel Lyra tenta a reeleição em uma disputa que, até o momento, não apresenta sinais de segundo turno. Nesse cenário, todo movimento de bastidor ganha peso, e poucos pesam tanto quanto o do líder da federação.
Raquel Lyra parte com vantagem estrutural: é a única que tem, hoje, o apoio formal de Eduardo da Fonte. A aliança entre ambos sustentou a governabilidade na Alepe e deu estabilidade ao governo em momentos de tensão política. Com o registro da União Progressista, Raquel reforça um palanque que já enfrenta o desafio de reverter uma diferença expressiva em relação ao prefeito do Recife nas pesquisas. Ter Eduardo ao lado significa ampliar capilaridade, garantir tempo de TV e consolidar a imagem de um governo com articulação ampla, algo essencial para quem tenta recuperar competitividade.
João Campos, por sua vez, opera em outra chave. Embora tenha sido aliado de Eduardo da Fonte no passado, hoje ambos ocupam campos distintos, e o diálogo entre eles ocorre apenas por meio de interlocutores. É uma relação marcada por distanciamento político, mas não por fechamento de portas — característica do estilo pragmático do prefeito do Recife. Reeleito com folga em 2024 e liderando as pesquisas para o governo, João sabe que, mesmo com o favoritismo, não pode ignorar o peso de uma federação que terá impacto direto na montagem das chapas proporcionais e na dinâmica da campanha majoritária.
Com duas vagas em disputa para o Senado, a eleição ganha contornos ainda mais sensíveis. Eduardo da Fonte alimenta há anos o desejo de chegar à Câmara Alta, e 2026 surge como seu melhor momento político para tentar transformar o sonho em realidade. Tanto Raquel quanto João entendem que oferecer a vaga — ou, ao menos, colocá-la na mesa — é um gesto de grande relevância na negociação com a União Progressista. No entanto, enquanto Raquel já parte de uma posição de proximidade, João trabalha com intermediários e com a força de um projeto majoritário em ascensão.
A governadora aposta na estabilidade administrativa e na capacidade de mostrar entregas em ritmo acelerado até o ano eleitoral. João, por outro lado, aposta na força histórica da Frente Popular, em sua popularidade consolidada e no fato de que, caso a disputa realmente se resolva no primeiro turno, cada aliança estratégica pode ser determinante — inclusive a que hoje parece mais improvável.
Com o surgimento da União Progressista, Eduardo da Fonte volta a assumir o papel de fiel da balança que sempre soube desempenhar. Não é apenas um ator relevante: é alguém capaz de alterar rumos, fortalecer narrativas e mexer no equilíbrio que, até agora, tem favorecido João Campos. A disputa por seu apoio tende a ser silenciosa, prolongada e carregada de simbolismos. E enquanto ele não define seu caminho, Raquel e João seguem calculando cada movimento, conscientes de que, em 2026, pouca coisa será tão valiosa quanto o gesto de quem comanda a nova federação

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