Donald Trump cumpre a promessa de campanha, anuncia saída do Acordo de Paris sobre o clima e atrai forte condenação da comunidade internacional. Europa descarta renegociar pacto Rodrigo Craveiro
Eu fui eleito para representar o povo de Pittsburgh, não o povo de Paris
“É hora de tornar a América grande novamente.” A frase encerrou e foi a tônica do histórico discurso de meia hora, nos jardins da Casa Branca, durante o qual o presidente Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima, reviveu a Pax Americana e tripudiou o pacto assinado por 195 países em 2015. “A fim de cumprir o meu dever solene de proteger a América e os seus cidadãos, os Estados Unidos vão se retirar do acordo de clima de Paris, mas manterão negociações para reentrar no Acordo de Paris ou em uma transação inteiramente nova, sob termos justos para os EUA”, declarou. “Eu fui eleito para representar o povo de Pittsburgh, não o povo de Paris. (….) A partir de hoje, os Estados Unidos cessarão toda a implementação do Acordo de Paris não vinculativo e os encargos financeiros e econômicos draconianos que ele impõe ao nosso país.”
Segundo Trump, o “desvantajoso” pacto custa à economia do país US$ 3 trilhões e mais de 9 milhões de postos de trabalho, além de impor pesada “redistribuição de riqueza” para outras nações. “É um acordo muito injusto, no mais alto nível, para os Estados Unidos”, assegurou, ao acrescentar que o mesmo “não é tão duro com a China e a Índia”. Antes do anúncio, Pequim prometeu obediência ao Acordo de Paris.
As reações domésticas e da comunidade internacional às palavras de Trump foram imediatas e contundentes, enquanto analistas alertavam sobre impactos diplomáticos e políticos, no momento em que o republicano se encontra fragilizado por denúncias envolvendo ligações suspeitas com a Rússia. O ex-presidente Barack Obama — defensor do pacto ambiental — acusou o sucessor de “rejeitar o futuro”. “Mesmo na ausência da liderança americana, mesmo que esta administração se una a um pequeno grupo de nações que rejeitam o futuro, estou confiante de que nosso estados, cidades e empresas vão avançar e fazer ainda mais para indicar o caminho e ajudar a proteger o único planeta que temos para as futuras gerações”, afirmou. Os governadores democratas dos estados de Nova York, Califórnia e Washington anunciaram a criação de uma “aliança pelo clima” e sustentaram que a “decisão irresponsável da Casa Branca (...) tem repercussões devastadoras”.
Em declaração conjunta, França, Alemanha e Itália advertiram que o ocordo não é “renegociável”. O líder francês, Emmanuel Macron, considerou que Trump cometeu um erro, com repercussões para o futuro do próprio país e do planeta. “Não renegociaremos um acordo menos ambicioso, em nenhum caso”, avisou. A chanceler alemã, Angela Merkel, prometeu “seguir com todas as forças por uma política global contra as mudanças climáticas que proteja a Terra.” A ONU considerou “essencial que os EUA tenham papel dirigente nos assuntos ambientais”.
“Preocupação”
Em nota conjunta, os ministérios brasileiros das Relações Exteriores e do Meio Ambiente afirmaram que o governo recebeu com “profunda preocupação e decepção” o anúncio de Trump e alertaram sobre “o impacto negativo no diálogo e na cooperação multilateral para o enfrentamento de desafios globais”. “O Brasil continua comprometido com o esforço global de combate à mudança do clima e com a implementação do Acordo de Paris. O combate à mudança do clima é processo irreversível, inadiável e compatível com o crescimento econômico.”
Presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão laureado com o Nobel da Paz em 2007, o indiano Rajendra Pachauri (leia o Quatro perguntas para) disse ao Correio que o Acordo de Paris é apenas o começo. “Ele não apresenta nenhuma solução, mas uma oportunidades de encontrar soluções. Ao menos que os países firmem um compromisso de reduções substanciais de poluentes, o Acordo de Paris não conseguirá muito”, advertiu. O cientista acredita que o tempo de reação da humanidade para mitigar os efeitos do aquecimento global é “muito limitado”. “Não temos mais do que dois ou três anos. Precisamos ser responsáveis, para que nossos filhos e netos não nos culpem pelas terríveis condições do planeta.”
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