Governo não prorrogará o período de resgate de recursos e espera agências da Caixa lotadas de pessoas em busca do benefício
Iago Santos, servidor público: "Fui informado de que tenho duas contas inativas com saldo para sacar. É um dinheiro que certamente vai me ajudar bastante nesse período de crise"
As agências da Caixa Econômica Federal registraram, ontem, um grande movimento de pessoas em busca de informações sobre as contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Um dia após o anúncio oficial do cronograma de saques, as dúvidas ainda eram muitas. Os resgates poderão ser feitos a partir de 10 de março, de acordo com a data de aniversário dos cotistas. E o governo já avisou que não vai prorrogar o prazo, que termina em 31 de julho. Portanto, é preciso estar bem informado para não perder a oportunidade.
Só poderão ser resgatadas contas que estavam inativas até 31 de dezembro de 2015. Quem pediu demissão ou foi demitido após essa data não terá direito a sacar os recursos da conta. As tentativas de solucionar dúvidas, entretanto, foram frustrantes para algumas pessoas. Foi o caso da podóloga Raquel Amorim, 39 anos. Ela não conseguiu atendimento porque o sistema estava fora do ar. “Saí sem ter uma resposta. “Queria saber se a pessoa que pediu demissão pode ter direito ao saque. É o meu caso”, disse.
Sem ter o questionamento respondido na agência, Raquel ao menos conseguiu a resposta pela imprensa. “Li em jornais que tenho o direito de receber. Mas, ainda assim, queria ter conferido quanto poderei sacar. O dinheiro vai ajudar a pagar dívidas. Mas não posso contar com algo que ainda nem sei se vou receber. Também tentei conferir no caixa eletrônico e não consegui”, lamentou.
Houve também quem encontrasse dificuldade para conferir o saldo pela internet, como o gerente comercial Jeferson da Silva, 27 anos. “Tentei acesso pelo site da Caixa e não consegui”, relatou. Na tentativa de obter atendimento, foi a uma agência e, novamente, se frustrou. Após diversas tentativas, saiu sem auxílio. “Fui para saber quando poderia receber. Dinheiro extra sempre ajuda nas contas de casa. Mas é revoltante não conseguir acesso pela internet e na agência, por falha de sistema”, desabafou.
A queda do sistema em agências da Caixa não foi o único problema. O número para esclarecimento de dúvidas — 0800 726 2017 — não deu respostas ao analista de sistemas Luiz Neres, 23 anos, que tentava consultar o saldo. “Liguei várias vezes para o número e não consegui obter informações. Quando questionam o número do CPF ou do NIS, o atendimento trava”, criticou.
Neres disse que o sistema do 0800 informa que o CPF é inválido mesmo com o cotista de posse dos dados corretos. “É impossível consultar o valor disponível para o saque por esse número”, reclamou. A crítica era endossada pela estudante Priscila Soares, 28 anos, que também tentava saber se tinha dinheiro para sacar. “Um canal de atendimento que não atende só é possível no Brasil. Atendimento para não atender.” Segundo a Caixa, houve, em média, 1 milhão de acessos por hora no site da instituição.
Planos
Muitos cotistas, como o servidor público Iago Santos, 24 anos buscam informações diretamente nas agências. “No caixa, fui informado de que tenho duas contas inativas com saldo para sacar. É um dinheiro que certamente vai me ajudar bastante nesse período de crise”, afirmou. Sem dívidas para pagar, ele pretende guardar o dinheiro para utilizá-lo quando for realmente necessário. O atendimento, no entanto, demorou bastante. “Fiquei mais de uma hora na fila. Deveria ter um atendimento mais ágil”, observou.
Muitas pessoas já estão fazendo planos para usar o dinheiro das contas inativas. Com o acúmulo de três demissões em empresas nas quais trabalhou, o frentista José Pereira, 36 anos, aguarda ansioso para resgatar R$ 2 mil. “É o valor que me informaram na agência”, disse. Ele pretende juntar o dinheiro com outras economias para comprar uma casa no Maranhão. “Lá, são mais baratas e o que eu vou receber vai ajudar muito. Não sabia que tinha isso tudo. Fui olhar pensando que fosse um valor bem menor.”
Rodolfo Costa , Renato Souza - Especial para o Correio
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