Este número significa que 300 mil pessoas a mais foram obrigadas a fugir de suas casas quando o dado é comparado aos registros do final de 2015. A crise humanitária é a mais grave desde a fundação da ONU, em 1945.
Segundo Grandi, o dado é "inaceitável" e, mais do que nunca, fala sobre a necessidade de ações de solidariedade com o objetivo de solucionar a crise que afeta vários países
Uma pessoa a cada três segundos vira um refugiado, tempo menor que o necessário para ler esta frase. A afirmação da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alerta para os crescentes casos de conflitos, violência e perseguições às quais pessoas que vivem em países como a Síria e o Sudão do Sul são submetidas todos os dias ao longo dos últimos anos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima um recorde de 65,6 milhões de deslocados em todo o mundo em 2016, conforme o relatório Tendências Globais, divulgado nesta segunda-feira (19/6). A crise humanitária é a mais grave desde a fundação da ONU, em 1945.
Este número significa que 300 mil pessoas a mais foram obrigadas a fugir de suas casas quando o dado é comparado aos registros do final de 2015 e mais de seis milhões em relação a 2014. "É o maior número desde o início dos registros sobre o tema", afirmou Filippo Grandi, diretor da ACNUR, ao apresentar o relatório.
Outro dado alarmante é quando à quantidade de crianças em deslocamento. Elas representam, segundo a ONU, a metade dos refugiados de todo o mundo. "Continuam carregando um fardo desproporcional de sofrimento, principalmente devido à sua elevada vulnerabilidade", diz o relatório ao destacar que o número registrado possivelmente subestime a real situação. Cerca de 75 mil solicitações de refúgio foram feitas por crianças que viajavam sozinhas ou separadas de seus pais.
Segundo Grandi, o dado é "inaceitável" e, mais do que nunca, fala sobre a necessidade de ações de solidariedade com o objetivo de solucionar a crise que afeta vários países. "Precisamos fazer mais por essas pessoas. Em um mundo que está em conflito, é necessário determinação e coragem, e não medo." O texto destaca que, somente no ano passado, 10,3 milhões de deslocados fugiram de suas casas, incluindo 3,4 milhões que atravessaram as fronteiras e se tornaram refugiados. A maioria, no entanto, consegue refúgio no próprio país, classificados pela ONU como deslocados internos. No final de 2016 o mundo tinha 40,3 milhões de IDP, um pouco menos que em 2015 (40,8). Síria, Iraque e Colômbia registram os maiores números deste grupo.
Perseguições a nível global
Todos esses números evidenciam o imenso custo humano decorrente das guerras e perseguições a nível global: 65,6 milhões significam que, em média, 1 em cada 113 pessoas em todo mundo foi forçada a se deslocar – uma população maior que o Reino Unido, o 21º país mais populoso do mundo.
A Síria continua no topo da lista de países de onde a população foge por conta de conflitos civis que ocorrem há sete anos. De acordo com o levantamento, são 12 milhões de pessoas que ou estão deslocadas dentro do país ou foram forçadas a fugir e hoje são refugiados ou solicitantes de refúgio. O número representa quase dois terços da população. Na conta também entra a situação de refugiados palestinos, colombianos (7,7 milhões) e afegãos (4,7 milhões), seguidos pelos iraquianos (4,2 milhões) e sul-sudaneses.
Com a continuidade da guerra na Síria, os recursos necessários para a ajuda humanitária estão reduzindo drasticamente, segundo Filippo Grandi, diretor da ACNUR. Ele lamentou que muito pouco foi repassado à agência dos bilhões de dólares prometidos pelos doadores internacionais na conferência de Bruxelas em abril. Reclamou também que o conflito que já deixou mais de 320 mil mortos está virando um "crise esquecida".
O cenário de deterioração no Sudão do Sul também foi lembrado pelo diretor. A guerra civil, que começou em dezembro de 2013, deixou dezenas de milhares de mortos e obrigou 3,7 milhões de pessoas a abandonar suas casas, quase um terço da população do país. O número de refugiados do país mais novo do mundo aumentou 85% no ano passado e alcançou a marca de 1,4 milhão de pessoas no fim de abril, segundo a ACNUR. Desde então foram adicionados mais meio milhão de pessoas, já que milhares de pessoas começaram a fugir depois que os esforços de paz, de julho de 2016, resultaram em fracasso.
Jacqueline Saraiva
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