quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Golpe da UTI: bandidos acessam prontuários e tiram dinheiro de parentes


Eles cobram quantias por telefone se passando por médicos


Otávio Henrique com o pai: "(O bandido) tinha os dados do prontuário"
O golpe é baixo e covarde. Atinge pessoas com parentes hospitalizados em estado grave, internados em unidades de terapia intensiva (UTI) de hospitais particulares. Bandidos aproveitam a angústia de parentes para levar dinheiro fácil com o drama familiar. O engenheiro Otávio Henrique Galeazzi Franco, 35 anos, foi apenas mais uma vítima de centenas de casos já registrados em delegacias de todo o Brasil.


Otávio Henrique está com o pai, Otávio de Carvalho Franco, 72, internado há 22 dias no Hospital Santa Luzia, após complicações em uma cirurgia de apendicite e foi abordado pela quadrilha via telefone.

“Ele (o bandido) foi bem convincente. Utilizava termos técnicos da área médica, tinha todos os dados do prontuário de meu pai, do convênio médico e ainda sabia bem quem eu era”, relatou o engenheiro morador do Park Sul. Ele disse que recebeu a ligação do golpe na última sexta-feira. A pessoa se identificou como sendo o médico plantonista de um exame que o pai havia acabado de realizar. “Ele se apresentou como médico e disse que o exame do fígado de meu pai tinha dado bastante alteração e precisaria fazer um outro exame com urgência, mas o convênio demoraria 24h para autorizar”, contou a vítima. 

Por estar preocupado com a situação do pai, Otávio Henrique concordou com a realização do exame, pagando do próprio bolso. Ele, então, depositou na conta indicada pelo suposto médico R$ 2,1 mil pelo exame, com a promessa de ter o dinheiro reembolsado logo mais. “Não desconfiei de absolutamente nada. Em 10 minutos fiz a transferência para a conta indicada”, disse.

SÓ  dinheiro foi sacado, no mesmo dia, em Primavera do Leste (MT), de acordo com a Delegacia Especial de Furtos e Roubos da cidade mato-grossense, por uma mulher. Ela foi detida pela polícia da região, mas, vai responder em liberdade, porque, segundo os agentes, não houve uma situação de flagrante. De acordo com os investigadores, a mulher faz parte de uma quadrilha nacional que atua em vários estados e no DF. As investigações correm em sigilo e, por isso, a polícia não pode passar mais detalhes do caso.


A fraude foi revelada para Otávio Henrique cerca de uma hora depois, quando o tio ligou informando ao rapaz que ele havia sido vítima de um golpe. De acordo com o tio, pelo menos três famílias de internos na UTI haviam sofrido o mesmo golpe. O suposto médico ainda teve o cuidado de ligar novamente, dando um retorno da realização do exame e falou que ia ficar em contato.

Investigação
O caso foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). O delegado de plantão disse que esse é o “golpe da moda” e confirmou a organização criminosa como sendo do Mato Grosso. Segundo ele, a quadrilha aplica golpes em todo o Brasil, mas os depósitos são direcionados para agências mato-grossenses. Destacou ainda que o caso também está sendo investigado pela delegacia daquele estado. O golpe não é novo. Ano passado, uma investigação coordenada pela 1ª DP identificou que a mesma quadrilha de Mato Grosso aplicava esse golpe no DF.

Em nota, o hospital disse que, no momento da internação do paciente, é disponibilizado, de forma preventiva, um documento que alerta quanto à possibilidade de ocorrência de “golpe” semelhante ao sofrido por Henrique Otávio. O hospital informa ainda que também instalou banners com o mesmo alerta nas entradas e andares do hospital. “A orientação dada é de que em nenhuma hipótese seja realizada transação bancária, pois isso não faz parte dos procedimentos de cobrança do hospital. Os colaboradores da instituição também são orientados, via comunicação interna, a não passar qualquer tipo de informação por telefone, buscando minimizar ocorrências dessa natureza”, destaca a instituição.

Para o advogado especialista em direito do consumidor Walter Moura, mesmo com toda a campanha dos hospitais com a fixação de cartazes e banners, não há garantia de que o usuário teve acesso àquela informação. “Os dados dos prontuários médicos estão na responsabilidade dos hospitais. Neste caso, o hospital pode responder por danos material e moral, além de ser responsabilizado civilmente por má prestação de serviço.”

O advogado disse ainda que, no momento de internação, dificilmente parentes prestam atenção aos avisos fixados nos hospitais. “Esses cartazes não isentam a responsabilidade do hospital. Só está ocorrendo o golpe porque alguém teve acesso a essas informações que são sigilosas”, conclui. A única boa notícia, por enquanto, é que o pai de Otávio Henrique recebeu alta da UTI e foi transferido para o quarto. 

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