Multidão de apoiadores de Bolsonaro cerca o Congresso NacionalFoto: Nelson Almeida/AFP |
"O capitão chegou!" - cantaram eufóricos milhares de seguidores de Jair Bolsonaro nesta terça-feira na Esplanada dos Ministérios em Brasília, durante a posse do presidente que chamam de 'Mito' e no qual depositam suas esperanças de mudança. O grande momento desta maré verde e amarela chegou no início da tarde desta terça (1º), quando o capitão da reserva do Exército se dirigiu ao público do Palácio do Planalto, já com a faixa presidencial.
"É com humildade e honra que me dirijo a vocês como presidente do Brasil. Me coloco diante de toda a nação como o dia em que o Brasil começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto", declarou do parlatório do Palácio do Planalto.
Acenando com uma bandeira do Brasil ao lado de seu vice, general Hamilton Mourão, Bolsonaro proclamou: "Essa é a nossa bandeira, que nunca será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela", exclamou, sendo ovacionado pelos presentes, aos gritos de "Mito! Mito!".
"Vim apenas para a posse, fiz muito sacrifício, poupei para comprar a passagem de avião, mas no final conseguimos estar hoje na posse do nosso presidente Bolsonaro, com todo orgulho", disse à AFP o aposentado Antonio Vendramin, do sul do país. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) informou a presença de 115 mil pessoas assistindo a posse, número inferior ao previsto pelos organizadores.
O capitão do Exército na reserva e nostálgico da ditadura militar venceu, em 28 de outubro, as eleições mais imprevisíveis dos últimos anos. E o fez após uma campanha atípica, na qual passou grande parte se recuperando de uma facada sofrida no atentado durante um comício.
Michelle e Jair Bolsonaro cumprimentam a multidão - Foto: Carl de Souza/Divulgação |
Sacrifício
Procedentes de todos os pontos do Brasil, nenhum fã do "Mito" queria perder este momento histórico, improvável há apenas alguns meses. "É o final de uma grande luta. Precisamos de um homem como ele no poder. Contamos com ele para libertar o Brasil dos bandidos. Hoje o bandido tem mais liberdade para andar armado do que o cidadão de bem que cumpre a lei", disse à AFP o empresário Zé Ivan, que viajou do Pará para estar presente ao ato.
Com bandeiras, camisas estampadas com o rosto do novo presidente e até mesmo usando fantasias de super-heróis, muitos fãs compartilharam bênçãos, ou gritaram frases a favor do novo presidente.
Ninguém parecia se importar com a chuva fina que caiu desde de manhã cedo, ou com os quatro controles pelos quais precisaram passar para ver o presidente e sua esposa, Michelle, realizando o percurso pela Esplanada em um Rolls Royce conversível, como manda a tradição. "Vim pelo mito. É algo que nunca vivemos antes na história do Brasil", afirmou Vandelice Morais, uma professora afrobrasileira de 67 anos saída da Bahia.
'Contamos com ele'
A cerimônia foi planejada com medidas de segurança sem precedentes para este tipo de ato, que deixou bloqueado o coração da capital, onde se estende a emblemática Esplanada dos Ministérios, entre a Catedral, o Congresso e o Palácio do Planalto.
Perto de uma das entradas, um jipe do Exército dava as boas-vindas "à festa da democracia" e lembrava que há atiradores de elite posicionados em locais estratégicos e um dispositivo em caso de ataque químico.
A insegurança é um dos temas que mais preocupa os brasileiros e que ajuda a explicar a ascensão de Bolsonaro, um deputado federal praticamente inexpressivo durante quase três décadas, mas cujo discurso a favor da mão de ferro conquistou muitos adeptos.
Usando uma camisa com o logo da polícia de Nova York, o professor Mauro Pena não escondia as esperanças de que o novo governo possa resolver o problema. "Contamos com ele para acabar com a criminalidade e para tomar medidas mais liberais na economia", afirmou este docente de 36 anos, admirador do governo dos Estados Unidos.
'E se funcionar?'
Bolsonaro também nunca escondeu a sua admiração pelo presidente americano, Donald Trump, com quem pretende colaborar estritamente. Trump não irá à posse, mas enviou o seu secretário de Estado, Mike Pompeo, como parte de uma comitiva de convidados integrada por 12 chefes de Estado e de Governo, além de outros representantes.
Entre eles está o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que visitou Bolsonaro no Rio de Janeiro e é um dos grandes representantes do eixo de governos com tom conservador e antiglobalização, aos quais o novo presidente quer se unir.
"A associação com Israel contribuirá muito para o Brasil em termos de tecnologia, mas para nós também é muito importante porque somos cristãos. Como essa união o Brasil será abençoado", avaliou Denise Souza, uma comerciante de 30 anos chegada de Minas Gerais e que combinava a sua camisa amarela de Bolsonaro com uma bandeira de Israel nas costas.
"Os governos que vieram antes fizeram sempre o mesmo e deu no que deu", afirmou o estudante Igor Freitas que, aos 17 anos, votou pela primeira vez nas eleições passadas. "Bolsonaro veio com uma postura totalmente diferente, por isso decidi votar nele. E se der certo?", questionou.
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