A Funai vai se reunir hoje com o Ministério Público Federal para apurar a operação ocorrida em fazenda no interior do Mato Grosso do Sul. Comunidade reclama que homens encapuzados abordaram duas moradoras de forma ostensiva. Há a suspeita de que tenha sido militares da FAB
Os guarani-caiová ocupam uma fazenda em Juti, a 311km de Campo Grande: região é reivindicada como terra tradicional e já foi palco de diversos conflitos
O Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) vão investigar o pouso de um helicóptero e uma abordagem a indígenas em uma região de conflito por disputa de terra no Mato Grosso do Sul. Integrantes da comunidade guarani-caiová acampada na fazenda Brasília do Sul, em Juti, a 311km de Campo Grande, afirmam que homens encapuzados desceram de uma das aeronaves e abordaram, de forma agressiva, duas moradoras da comunidade. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), informações iniciais dão conta de que seria uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) em uma operação para o combate ao tráfico de drogas na região.
O presidente da Funai, Antonio Costa, vai hoje ao estado. Ele se reunirá com integrantes do Ministério Público Federal e deve fazer um sobrevoo na área. O Cimi pediu aos procuradores informações sobre os motivos de a FAB ter feito o pouso no local. A fazenda Brasília do Sul está em processo de reconhecimento como terra indígena desde 2010 e é palco de diversos conflitos. Em 2003, o cacique Marco Verón foi assassinado no local.
tegrante da comunidade, Theo Fernandes disse que a ação ocorreu por volta das 10h de sábado. “Cinco helicópteros estavam sobrevoando e um pousou num campo que fica ao lado da comunidade. Eles falam que eram da segurança, de Brasília, só que eles estavam de capuz. Haviam duas moças, feitas reféns. Eles não deixaram elas saírem com os filhos e ameaçaram atirar se elas correrem”, afirmou. Não houve, porém, disparo de tiros e ninguém ficou ferido. De acordo com o indígena, os homens estavam todos encapuzados e portavam armamento pesado.
De acordo com o coordenador do Cimi no Mato Grosso do Sul, Flávio Vicente Machado, há informações de que eram aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Há relatos de que a aeronave teria pousado para fazer uma vistoria na pista de pouso da fazenda. “Pedimos ao MPF que pudesse apurar abusos e quais as forças participaram. Queremos saber se havia a presença de policiais do estado e os motivos pelas quais teriam aterrissado na comunidade”, disse.
Antonio Costa, por enquanto, não confirma nenhuma versão. Segundo ele, as informações estão confusas, então, ainda é preciso coletar mais dados. “Na segunda (hoje), eu terei uma posição concreta. Deverei sobrevoar a região e à tarde, tenho reunião com o MPF”, afirmouA Força Aérea Brasileira (FAB) não confirmou se o helicóptero que teria pousado no local pertence ao órgão, mas informou que há uma operação em curso na área. A Operação Ostium busca coibir os voos ligados ao narcotráfico na região de fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. A ação policial inclui o deslocamento de aeronaves militares para Cascavel (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Dourados (MS).
Área de conflito
Segundo Theo, cerca de 500 indígenas fazem parte da comunidade em Brasília do Sul. A região é reivindicada pelos indígenas como terra tradicional e já foi palco de diversos conflitos. Além da morte do cacique Veron, os guarani-caoivás participaram em 2015 de ao menos dois conflitos armados com fazendeiros da região, o que resultou em mortes e feridos. O processo de regularização da terra está parado para análise do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2005.
A propriedade rural tem cerca de 9.700 hectares. Em 2010, o Ministério da Justiça publicou portaria reconhecendo a área como região indígena, depois de estudos que começaram em 1999.
"Pedimos ao MPF que pudesse apurar abusos e quais as forças participaram. Queremos saber se havia a presença de policiais do estado e os motivos pelas quais teriam aterrissado na comunidade”
Flávio Vicente Machado, coordenador do Cimi no Mato Grosso do Sul
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