Por Edmar Lyra
O MDB de Pernambuco vive um dos momentos mais frágeis de sua história. Sob a condução do ex-deputado Raul Henry, que comanda a legenda no estado desde 2015, o partido perdeu protagonismo, encolheu eleitoralmente e passou a ocupar um espaço cada vez mais periférico na política estadual. O declínio é tão profundo que, pela primeira vez em quase 40 anos, o MDB pernambucano se vê diante de uma disputa interna pelo seu comando.
A última vez que a sigla viveu um embate interno foi em 1985, quando Jarbas Vasconcelos e Sérgio Murilo disputaram a presidência estadual do então PMDB. Murilo venceu a disputa, mas perdeu para o próprio Jarbas meses depois na eleição para a Prefeitura do Recife. Desde então, o partido viveu períodos de estabilidade, alternando momentos de força e retração — mas nunca tão fragilizado quanto agora.
Com Raul Henry à frente há dez anos, o MDB acumulou derrotas e viu sua base minguar. Em 2004, ainda vinculado ao governo Jarbas Vasconcelos, o partido era uma potência municipalista, com dezenas de prefeituras no interior e papel ativo nas alianças estaduais. Em 2024, restaram poucas prefeituras — em sua maioria, cidades pequenas e sem grande expressão política.
No campo legislativo, o cenário é ainda mais alarmante. Em 2022, o MDB não elegeu nenhum deputado estadual em Pernambuco. Jarbas Vasconcelos Filho, herdeiro político da legenda, teve que se filiar ao PSB para conquistar seu mandato — retornando ao MDB apenas após o pleito. Na Câmara dos Deputados, o partido conseguiu apenas uma cadeira com a eleição de Iza Arruda. Sem ela, a legenda teria desaparecido também da representação federal no estado.
O desgaste de Raul Henry é apontado por correligionários e antigos aliados como um dos principais fatores para o esvaziamento da legenda. Sua condução tem sido marcada por falta de articulação, isolamento político, ausência de renovação e uma gestão considerada estagnada. O MDB deixou de atrair lideranças emergentes, perdeu espaço nas regiões em que era tradicionalmente forte e passou a ocupar um lugar secundário nas articulações estaduais.
É nesse contexto que surge a articulação do senador Fernando Dueire, suplente que assumiu o cargo após a aposentadoria política de Jarbas Vasconcelos. Dueire se movimenta para disputar o comando da sigla no estado, com apoio de setores insatisfeitos com o rumo do partido. Sua proposta é resgatar a relevância histórica do MDB, reconectar a legenda com as bases e posicioná-la de forma mais competitiva para os próximos ciclos eleitorais.
A disputa promete ser intensa. De um lado, Raul Henry, fragilizado, mas ainda com o controle da estrutura partidária. Do outro, Fernando Dueire, que representa um projeto de reconstrução e modernização da legenda. O embate, que já se dá nos bastidores, deve se tornar público nos próximos meses, marcando um momento decisivo para o futuro do MDB em Pernambuco.
O partido que já abrigou nomes como Miguel Arraes, Marcos Freire, Carlos Wilson, Fernando Lyra, Sérgio Guerra e Egídio Ferreira Lima, hoje corre o risco de se tornar uma sigla sem expressão. A eleição interna será mais do que uma disputa de comando: será uma definição sobre se o MDB permanecerá à margem ou tentará retomar o protagonismo que um dia teve no cenário pernambucano.
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