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Givaldo Calado de
Freitas
Acordei com dificuldade,
hoje. Disse a Emília: “Que indisposição me toma. Que vontade de ficar nesta
caminha gostosa até... Bem... Até eu conseguir abrir o outro olho e recuperar
minha disposição. Eu pareço que não sou eu”. No que ela me responde: “Acaba com
isso, filho. Hoje, é feriado. Hoje, 15 de novembro. Não te diz nada?”. Nada!
Nadinha! Não gosto desse dia. Para mim, dia da ingratidão. Da covardia. Da
traição. E, dessas, não gosto. Detesto mesmo.
Mas...
Acordo. Percebo que ainda perdura a madrugada. Sinto que só um dos meus olhos
está aberto. Vejo o nascer do sol pela janela do meu quarto. Esta que Emília
deixara entreaberta para assustar minha indisposição. O outro parece pedir mais
um pouco de repouso. Até por minhas compulsivas e vorazes leituras, noite
adentro. Só um? Só um deles? Na verdade, os dois. Ouço ruídos e cânticos que
vêm da rua. De repente, barulho. Barulho de carro de som. “Emília - pareço gritar
- a campanha não já terminou? Os votos não já foram apurados? Já não se sabe
quem foram os eleitos? Estes não já festejaram suas vitórias? Por que esse
barulho? Ensurdecedor, barulho? Por que esses cânticos? Por quê?”. Ela
responde: “É a procissão que vem lá da Boa Vista, do Magano... Que se encontrou
na Matriz de Santo Antônio e, em seguida, peregrina em direção ao Santuário da
Mãe Rainha - Três Vezes Admirável. E você, Givaldo, prometeu que iria comigo.
Portanto, levanta, sacode a poeira... E vamos à peregrinação”. “Mas claro! Mas
claro! Lembro! Lembro. Vamos à peregrinação!”, digo-a, com obediência canina.
Hoje, rara.
No
que pese, ainda levanto com a ideia fixa de que tenho que partir à luta. E,
feliz da vida, ainda a pensar nos avanços dos dias a dia. Avanços, apesar de
tudo... Apesar dos pesares... Que haveremos de vencer com as armas de que
dispõe cada brasileiro nesse Brasil de contradições. Mas com o entusiasmo que
Deus confere a todos nós.
“O
trabalho, para mim, é minha terapia, Emília”, digo-a. Talvez única. Meu êxtase.
Que agradeço ao Senhor. Agradeço... Sem reclamações. Afinal, para que elas?
Temos que ter muita fé no amanhã. Fé renovada a cada instante. Milagre divino. Mesmo!
“Vamos
à procissão, Givaldo. Esqueça-se do trabalho. Pensa no feriado. Hoje, 15 de
novembro. Pensa na procissão que se aproxima de nossa rua. De nossa casa”. Digo
aos meus botões: “Procissão, sim. Feriado, não. Deles - feriados - não gosto.
Muito menos desse, que pegou carona”.
Levanto-me,
e vejo que a cidade amanhecera coberta de névoas. Cinzenta. Feia. E,
contraditoriamente, bonita. Linda. Bela. Porque diz tudo de Garanhuns. E, já
desperto, e com os dois olhos abertos. Bem abertos, lembro que o tempo avança.
Que já, já, é dezembro. E que já estamos vivendo a beleza do Natal Luz 2016. Que este ano vai, em nossa
cidade, de 11 de novembro a 06 de janeiro de 2017. Desperto e levantado vou me
juntar aos milhares de peregrinos que percorrem as ruas e avenidas da cidade
até o Santuário da Mãe Rainha.
Penso, agora, na
peregrinação. Você me dizia, faz pouco. Hoje, 15 de novembro. Dia ainda hoje,
triste. Para mim. E para milhões de brasileiros. Do que fizeram naquele dia de
1889. Que consagraram! Mas na carona de outro dia: 21 de abril de 1789. Esse
dia, sim, um grande dia. Um bonito dia. De louvação a um ideário. Por que, não?
Ideário legítimo. Puro. Até, bem... Ingênuo.
Quem sabe? Mas com substância. Com razão de ser. Sobretudo quando sabemos que
nosso estado corrupto nos leva 2/5 do que a nação produz e, lá, tudo começou
porque levavam 1/5.
Sempre digo aos meus
botões: 15 de novembro - dia do golpe. Da injustiça, perpetrada contra um
grande homem: Dom Pedro II.
·
Figura
pública. Empresário.
* Crônica redigida em 15.11.2016.
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