domingo, 28 de outubro de 2018

Amanhã é dia de cair na real

Vinicius Freire Leite









Eleito terá de anunciar reformas duras ou vai manter país na crise insuportável

Amanhã vai ser outro dia. Pode não ser nesta segunda-feira, mas, em alguma feira das próximas semanas, o presidente eleito terá de entregar o peixe que vendeu na campanha. Um problemão é que os eleitores vão descobrir apenas agora o que compraram.

Qual vai ser a reação do povo se e quando souber que o próximo governo vai implementar reformas para valer? Dúvida.

Qual vai ser a reação dos donos do dinheiro grosso se não vierem tais reformas? Péssima. No mínimo, o país continuará estagnado. Qual então será a reação popular? Péssima.

A hipótese “reformas” é mais provável no caso da vitória de Jair Bolsonaro (PSL). Sua campanha, porém, tratou mais de petralhada, de corrupção, de matar bandidos e de sexo nas escolas, nas artes ou nas ruas.

O que dirá o eleitorado quando souber de reforma dura da Previdência? Quando souber que, em caso de ajuste fiscal, o aumento do salário mínimo será menor, se algum? Que seria irresponsável diminuir impostos, assim como aumentar gastos sociais?

Em maio do ano passado, 71% dos eleitores eram contra a reforma previdenciária de Michel Temer, segundo o Datafolha. No caso dos eleitores de Bolsonaro, 73% rejeitavam o projeto. O candidato tinha então apenas 15% dos votos, embora talvez esses fossem bolsonaristas “raiz”.

Em janeiro deste ano, pesquisa Ibope encomendada pelo governo indicava que apenas 14% dos eleitores aceitavam a reforma. Cerca de 70% eram contra a nova idade mínima de aposentadoria (ou seja, contra qualquer reforma, quase).

O povo acredita que o maior problema do INSS é a corrupção (75%, segundo pesquisa Ipsos para a FenaPrevi, de junho deste ano). Aliás, não apenas no INSS. Sem corrupção e privilégios para “marajás”, haveria dinheiro para tudo. Não haverá, nem de longe.

O povo poderá mudar de ideia sobre Previdência, por exemplo, caso Bolsonaro baixe o sarrafo legal nos bandidos? Ou o povo já teria mudado de ideia, sendo a rejeição à reforma apenas uma contaminação do governo de Michel Temer?

O povo não é massa de comportamentos unívocos, decerto. No ano passado, pesquisa Datafolha mostrava que “a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade” para 74% dos eleitores. Ou seja, no mínimo metade do eleitorado de Bolsonaro no primeiro turno era dessa opinião. 

Para 73%, porém, “adolescentes que cometem crimes devem ser punidos como adultos”. Para 70%, imigrantes pobres “contribuem com o desenvolvimento e a cultura da cidade”.

Para 63%, “o governo tem o dever de ajudar grandes empresas nacionais que corram o risco de ir à falência”. Para 76%, “o governo deve ser o maior responsável por investir no país e fazer a economia crescer”. Nos números frios, o eleitorado não parecia muito simpático a reformismos liberais.

Pode ser que Bolsonaro procure aprovar tanto reformas econômicas quanto leis que facilitem o armamento civil, o encarceramento de criminosos juvenis e o confronto policial armado. Parece ser seu plano. Resta saber se terá bastantes recursos políticos, que também são escassos.

Pode ser que desista de reformas quando sentir a pressão, de empresários protecionistas à opinião do povo miúdo, como tem feito, ao menos da boca para fora.

Se tomar esse rumo na encruzilhada, não haverá reviravolta positiva de ânimos e ritmo na economia. Se pegar a estrada das reformas, terá de dizer a muitos eleitores que eles pegaram o ônibus errado.

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