domingo, 10 de fevereiro de 2019

A vida é apenas um detalhe

Carlos Brickman
Não, não foi um incêndio que matou dez crianças e feriu três no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio. Quem os matou pode ser descoberto sem o rigoroso inquérito. Basta verificar quem mandou abrigar as crianças em contêineres, num terreno que, sem condições, não poderia ser usado.
Não, não foi a ruptura da barragem de Brumadinho que deixou mais de 300 mortos e desaparecidos e envenenou os rios que levavam água para a população. Dois dias antes da ruptura, revelam e-mails trocados entre duas empresas que cuidavam da segurança da barragem e funcionários da Vale, a mineradora tinha sido avisada dos problemas nos sensores que deveriam monitorar a estrutura de Brumadinho. Que fez a Vale, nesses dois dias? Na melhor das hipóteses, orou para que nada ocorresse. Na pior, nem deu bola: seu negócio é minério, não vidas humanas. Não verificaram nem as sirenes.
Não, não será um acidente, nem uma fatalidade, se Itabira, muito maior que Brumadinho, for vítima de uma barragem com 200 vezes a capacidade da que se rompeu. O repórter Rodrigo Hidalgo, da Band, filmou as brechas na segurança e a matéria foi ao ar, em rede nacional. E a Vale? Silêncio.
Não, não são casos isolados, o do Flamengo e o da Vale, o de Mariana e o de Brumadinho, ou, que Deus não o permita, o que ameaça Itabira. São todos o mesmo problema: o importante é cuidar exclusivamente do negócio e não se mexer para torná-lo seguro. A vida humana é apenas um detalhe.

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