quinta-feira, 16 de junho de 2022

Mortos e vivos

 Por Antonio Magalhães*


Os mortos no Brasil estão vivos. E são influentes. Um personagem do folguedo popular Bumba meu Boi, o célebre o Morto-carregando-o-Vivo, é a melhor alegoria desses tempos no País. A inclusão metafórica desta figura nas análises de acadêmicos e políticos é quase um clichê que vou me permitir usá-lo também.

Na eleição municipal de 2020 para a prefeitura do Recife, os principais candidatos no segundo turno, João Campos e Marília Arraes, usaram o parentesco com seus padrinhos-defuntos para ganhar votos. Neste ano de eleições gerais, os mortos voltam a reger as campanhas. E quanto mais recentes, melhores cabos eleitorais.

Na eleição presidencial de 2018, a falecida Marielle Franco foi usada como ariête para atacar o então candidato anti-PT Jair Bolsonaro. Não funcionou. Ele ganhou a presidência da República, mas não a paz diante de tanta chateação promovida pelo Judiciário, pela velha mídia e pela oposição legislativa.

Com a proximidade do pleito de 2022, as forças opositoras tiraram o prêmio grande para um ataque de grande poder de destruição, com mísseis de mentiras, fake news, verdades incompletas: as mortes do jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, vítimas de malfeitores na violenta e sangrenta Amazônia.

Tudo para ser usado na campanha contra Bolsonaro com apoio também da mídia estrangeira, que, junto com a esquerda local, insiste em responsabilizar o presidente por não cumprir a agenda das ONGs invasoras da Amazônia, defensoras da internacionalização da nossa floresta.

O morto anterior que estava sendo usado pela oposição para atacar o presidente e seu Governo, Genivaldo, vítima de um  excesso policial pontual, foi usado nas redes sociais e memes como o preso de uma polícia que utiliza práticas nazistas como nos campos de concentração hitleristas.

Essas mesmas pessoas que condenaram politicamente a ação dos policiais rodoviários em Sergipe, como forma de atacar o Governo Federal, não lamentaram a morte de dois PRF atingidos por tiros de um desconhecido que foram ajudar no Ceará.  

O exagero e a mentira só vale para um lado. Os antipetistas jamais usaram cadáveres nas suas campanhas eleitorais. Não explorando nem mesmo os mais óbvios com envolvimento do PT, como o caso do prefeito petista de Campinas (SP), Toninho do PT, morto com três tiros em setembro de 2001, sem que até agora haja qualquer explicação do partido ou punição da Justiça.

Em depoimento à CPI dos Bingos no Senado, Roseana Morais Garcia, viúva de Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, voltou a afirmar em 2005 que o marido foi morto por questões político-administrativas, não tendo sido vítima de crime comum, conforme reconheceu a polícia civil de São Paulo.

Para Roseana Garcia, Toninho morreu por ferir interesses de "gente graúda", incluindo os de figuras importantes na história do PT, como o ex-prefeito do município Jacó Bittar, que saiu do partido em 1990. O filho de Bittar era um dos sócios do sítio de Atibaia, frequentado por Lula. Sempre foi um visitante. Dono jamais lhe valeu um processo na Lava Jato.

Num depoimento emocionado, Roseana denunciou que o inquérito que apurou a morte de Toninho "foi mal conduzido" e sustentou que tudo leva a crer que Toninho foi assassinado por denunciar superfaturamento de obras e licitações públicas com "cartas marcadas". Ela citou a licitação para construção do metrô de superfície de Campinas, que jamais entrou em funcionamento, no valor de US$ 80 milhões.

Mistério parecido na morte do prefeito petista de Santo André (SP), Celso Daniel, sequestrado, torturado e morto em janeiro de 2002, por se insurgir contra a roubalheira de alguns petistas dentro de um esquema com empresários do setor de transporte que financiava as campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores. O depoimento é do seu irmão João Francisco Daniel que afirmou que Celso tinha um dossiê que mostrava tudo isso. O documento jamais apareceu. Depois da morte de Celso Daniel, sete pessoas que estiveram envolvidos com o caso, suspeitos, testemunhas e legista, tiveram uma morte misteriosa entre 2002 e 2005.

Como se viu, o uso e abuso de mortos, ora como cabos eleitorais, ora como denunciantes silenciados, fazem parte do dia-a-dia daqueles que querem voltar ao poder para “fazer mais” do que nos 14 anos que estiveram à frente da máquina pública federal. Fazer o quê? Pelo passado, sabemos muito bem. É isso.

*Jornalista

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