Enquanto os teólogos luteranos e católicos
continuam o seu lento diálogo doutrinal iniciado há 50 anos, a ambição do papa argentino é aproximar, por meio de ações concretas,
os 1,2 bilhão de fiéis católicos de seus irmãos protestantes. "É uma
viagem importante" de um ponto de vista ecumênico, declarou o papa a
jornalistas presentes no avião que o levou a Malmö, no extremo sul da Suécia,
onde participa de uma série de celebrações.
"Devemos olhar nosso passado com amor e
honestidade, reconhecer nossa culpa e pedir perdão", declarou o papa mais
tarde em uma homilia, rodeado de pastores protestantes, durante uma oração
ecumênica na catedral luterana de Lund (sul). A Igreja católica também
homenageou a contribuição de Lutero: "com gratidão, reconhecemos que a
Reforma contribuiu para dar um papel central à santa escritura na vida da
Igreja", declarou Francisco em sua homilia.
Durante a cerimônia, o cardeal suíço Kurt Koch
recordou "os fracassos" dos católicos e luteranos, que
"provocaram a morte de centenas de milhares de pessoas".
"Lamentamos o dano causado mutuamente por católicos e luteranos",
acrescentou.
"Não podemos nos resignar à divisão e ao
afastamento que a separação provocou entre nós. Temos a ocasião de reparar um
momento crucial de nossa história, superando as polêmicas e mal-entendidos que
impediram o entendimento entre nós", afirmou o papa Francisco.
Um diálogo difícil
Em um longo sermão, o pastor Martin Junge,
secretário-geral da Federação Luterana Mundial, que organiza o evento, também
considerou que este "momento histórico" é uma oportunidade para que
católicos e luteranos "se distanciem de um passado marcado pelo conflito e a divisão". A presença do papa para lançar um
ano cheio de eventos em torno Lutero (particularmente na Alemanha) despertou o
entusiasmo de todos aqueles que promovem a unidade dos cristãos em um mundo
cada vez mais secularizado.
Mas a iniciativa não agrada a ala mais conservadora
da Igreja. No início deste ano, o guardião do dogma no Vaticano, o cardeal
alemão Gerhard Ludwig Müller, havia considerado "que não existe nenhuma
razão para celebrar" a Reforma, que "levou ao colapso do cristianismo
ocidental".
Um encontro ecumênico em um estádio de Malmö, cujo
tema central será a crise na Síria, será mais um dos destaques da visita do
papa em um país que acolheu 245.000 refugiados entre 2014 e 2015.
Mais de 800 milhões de
protestantes
A Igrejas protestantes se reúnem em torno de três
princípios fundamentais: a preponderância da Bíblia ("a única
Escritura"), a importância da fé ("a única Fé"), que se pratica
de forma pessoal, e a noção de graça ("a única Graça"), que permite
salvar o homem sem a noção de mérito e redenção do catolicismo. Repartidos em
uma variedade de Igrejas, a quantidade de protestantes em todo mundo é difícil
de avaliar. Mas o centro de pesquisas independente americano das religiões Pew
Research Centre calcula, segundo relatório de 2011, que há cerca 801 milhões de
protestantes.
De acordo com um balanço do Museu Virtual do
Protestantismo, os evangélicos seriam 500 milhões, os pentecostais, 200
milhões; os anglicanos, 70 milhões; os luteranos, 65 milhões e os reformados 50
milhões.
(Com informações da AFP)
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