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Entre uma cerveja e outra, era comum ocorrer concursos literários, saraus e notáveis visitas. Foram os casos de Jorge AmadoHeitor Villa-LobosRoberto RosseliniJean-Paul SartreRoberto Burle Marx e Simone de Beauvoir que, segundo registrou Edilberto Coutinho (1938/1995) em sua obra póstuma Bar Savoy (1995), deram o ar da graça no lugar.

Um bar para se reter na memória


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Chope talvez seja a mais famosa homenagem poética que o Savoy tenha recebido, mas não foi a única. O jornalista e escritor recifense, Urariano Mota, também demonstrou o sentimento que o bar despertava em diversas ocasiões em sua produção literária.
O Savoy aparece, entre outros títulos, em seu Dicionário Amoroso do Recife (2014) e no livro Corações Futuristas (1999), “como um objeto de desejo pelo cheiro maravilhoso de cerveja, pelas coxinhas de galinha fantásticas, que mordiam mais que o sexo em adolescentes suburbanos, desempregados”.

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Em conversa com o canal Coração da Cidade, Urariano relembra do privilégio que foi ter frequentado o Bar Savoy. “Pra você ter ideia, as paredes internas do Savoy – porque preferíamos beber na calçada, pra ver “o movimento”- eram de fotos do francês Edmond Dansot, ilustrando o poema de Carlos Penas Filho. Imagine o que é beber num bar com os versos nas paredes?”, disse.

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O Bar Savoy não era o maior em estrutura nem o mais requintado ponto de encontro do Recife. Mas, de acordo com Urariano, a grandeza do lugar se dava pela relação construída com a população.
“Foi o primeiro bar do Recife no afeto, e podemos até dizer, o primeiro sem segundo. A memória desse bar deveria ser retida por todo pernambucano de origem ou formação”.

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A morte do poeta Carlos Pena, em 1 de julho de 1960, e sua ausência no Savoy a partir do fato também viraram versos por Mauro Mota (1911/1984) e foram, posteriormente, afixados nas paredes do bar.
São agora vinte e nove./ Os homens do bar Savoy./ Vinte e nove que se contam./
Falta um, para onde foi?/ Vinte e nove homens tristes/ Dentro deles, como dói/
A ausência do poeta Carlos/ Na mesa do bar Savoy.

À espera da revitalização


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Durante os anos 1990, o Bar Savoy já demonstrava falta de vitalidade quando, no primeiro andar, surgiu o Recanto do Poeta, uma tentativa de resistir ao contrafluxo que começava a tomar conta da região.
A trajetória do Bar Savoy diz muito sobre o que ocorre no Centro do Recife, na medida em que o abandono ao patrimônio histórico e cultural e a emigração da população para os bairros periféricos custam a sobrevivência da região.

Foto: Recanto do Poeta – Valter da Rosa/Reprodução

“O que foi o centro do Recife, quando o vejo à noite, me dá uma dor no coração”, revela Urariano.
O Edifício Sigismundo Cabral, prédio onde ficava localizado o Bar Savoy, foi comprado por um grupo educacional que, em meados de 2009, chegou a anunciar sua reabertura em formato de espaço cultural.

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Enquanto aguarda a tão sonhada revitalização para voltar a ver a disputa por mesas, cadeiras, cerveja e poesia, o Savoy assiste, de portas fechadas, a concorrência diária de pedestres, vendedores e andaimes em uma das calçadas mais importantes e lembradas do Recife.
Por Manuel Borges
Jornalista matuto que trocou o gosto da cana pelo cheiro do mangue. Adora passear por locais, histórias, cultura, picos/festas/bares, personalidades e humor sempre tendo o Centro, o coração da Cidade do Recife, como tema. Instagram: @manecoborges.