Legado da Biblioteca Oliveira Lima, em Washinton, é tesouropara pernambucanosFoto: Divulgação |
O nome de “Oliveira Lima” estampa alguns locais do Recife, e
pode até passar despercebido no dia a dia da capital pernambucana. Porém, a figura
que nomeia ruas e até escolas é de extrema importância para a manutenção da
memória histórica de Pernambuco.
O historiador, jornalista e diplomata do final do século 19, início do século 20, foi responsável pela doação de cerca de 40 mil livros e milhares de cartas para a Universidade Católica da América, em Washington, nos Estados Unidos. Entre os itens, quadros de Franz Post que retratam o Pernambuco colonial, além da primeira publicação impressa no estado, em 1817, celebrando a Revolução Pernambucana.
O historiador, jornalista e diplomata do final do século 19, início do século 20, foi responsável pela doação de cerca de 40 mil livros e milhares de cartas para a Universidade Católica da América, em Washington, nos Estados Unidos. Entre os itens, quadros de Franz Post que retratam o Pernambuco colonial, além da primeira publicação impressa no estado, em 1817, celebrando a Revolução Pernambucana.
Doado no final da década de 1920 pelo renomado diplomata pernambucano, o
acervo conta hoje com mais de 50 mil itens, entre eles livros sobre o período
da Independência do Brasil e a transição para a República, o abolicionismo e a
Revolução Pernambucana de 1817. Peças como o “Preciso dos Sucessos”, que
retrata o sucesso do movimento independente pernambucano e a ata da Revolução
estão presentes na biblioteca.
Inaugurado em 1923 com Oliveira Lima sendo seu primeiro bibliotecário,
até sua morte em 1928, o espaço passou para as mãos de sua esposa. Flora de
Lima, assumiu a gestão do acervo, que conta com 200.000 páginas de
correspondência e cerca de 600 obras de arte, incluindo gravuras, mapas,
pinturas, esculturas e aquarelas. Após o falecimento de Flora, um pupilo cuidou
do local por um longo tempo, deixando nas mãos da universidade.
Entre as obras de arte que estão contidas, uma paisagem que supostamente
é a de Pernambuco, pintada pelo artista holandês Frans Post (1612-1680); uma
tela mostrando o Largo do Machado no Rio de Janeiro por Nicolas-Antoine Taunay
(1755-1830); um busto de bronze de d. Pedro I pelo escultor Marc Ferrez
(1788-1850) e a cópia colorida existente de “Rerum per Octenium em Brasília”
por Gaspar Barleus (1584-1648).
"O melhor ouro e a melhor prata do passado brasileiro estão aqui. A
riqueza destas relíquias faz da biblioteca uma catedral verdadeira de estudos
brasileiros", definiu Gilberto Freyre para "A Cathedral dos Estudos
Brasileiros", artigo publicado n’O Jornal em 30 de maio de 1926.
O material, foi visto recentemente e apreciado por representantes do
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP). Em viagem
pelos Estados Unidos, o advogado e sócio do IAGHP, Taney Farias, teve a
oportunidade de ver pessoalmente o acervo. “Tudo está muito bem conservado. E
há hoje, através da direção da biblioteca, uma dedicação para a conservação da
história de Oliveira Lima”, afirma. “É nossa intenção criar um grupo de estudo
e trazer simpósios e atividades sobre Oliveira Lima, para que este nome não
seja esquecido pelos pernambucanos que ele tanto amou”, completa Farias.
Na opinião do advogado, apesar de ter sido figura crucial para a
conservação de parte importante da história de Pernambuco, Oliveira Lima ainda
não está no patamar devido de conhecimento dos pernambucanos atualmente.
“Oliveira Lima talvez seja um dos maiores pernambucanos de todos os tempos e
hoje é um dos grandes esquecidos de Pernambuco”, ressalta.
Mesmo sendo um tesouro histórico para Pernambuco, o acervo acabou sendo
reunido nos Estados Unidos, terra em que Oliveira Lima fincou raízes
pós-Primeira Guerra Mundial.“Foi um desejo de Oliveira Lima e louvo estar bem
guardado na Universidade Católica da América”, afirma o presidente do Instituto
Histórico, Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, Silvio Amorim. De acordo
com Amorim, a intenção é tentar aproximar itens do acervo dos pernambucanos.
“Essa intermediação será muito importante para Pernambuco ter acesso a um
tesouro pernambucano que está guardado em Washington”, completa.
Responsável pela conservação atual do local, a diretora da Biblioteca
Oliveira Lima, Nathália Henrich, falou sobre o acervo. “O valor é inestimável,
sendo uma das melhores sobre a história do Brasil e com uma parte de grande
importância para Pernambuco”, diz. Brasileira, ela assumiu o cargo em outubro
de 2018, e desde então reúne esforços para catalogação e divulgação do
importante acervo que está em solo americano.
Contando com grande apoio da Universidade Católica da América, a memória
viva de Oliveira Lima acaba sendo um retrato da vivência do diplomata e
historiador. “A gente só consegue entender os períodos que estão englobados
nesta biblioteca se a gente entender a história do próprio Oliveira Lima”,
comenta Nathália.
O acervo histórico também chamou a atenção de importantes figuras da
história pernambucana, como foi o caso do ex-governador Eduardo Campos. Em
2012, durante visita aos Estados Unidos, Campos esteve presente na biblioteca,
onde contemplou o acervo de grande riqueza para a história de Pernambuco.
Porém, mesmo que não pode ir até os Estados Unidos, há a possibilidade
de conferir alguns itens da coleção. Em um projeto de digitalização concluído
em conjunto com a Gale Cengage Learning, cerca de 17 mil livros e folhetos
portugueses e brasileiros estão disponíveis no acervo digital.
“Aqui jaz um amigo dos livros”.
Assim diz a lápide de Manuel Oliveira Lima, situada em Washington. Sem conter o
nome do diplomata, a inscrição retrata com exatidão a missão de Oliveira Lima
em vida.
Nascido em Recife, no dia 25 de dezembro de 1867, o futuro colecionador
tomou gosto pelos livros ainda na adolescência. Membro fundador da Academia
Brasileira de Letras, foi educado em Lisboa desde a mocidade. Familiarizou-se
com os diplomatas brasileiros que serviam em Portugal, entrando para o serviço
diplomático brasileiro em 1890 como Adido à legação em Lisboa. Depois, prestou
serviços em Londres, Japão e na Bélgica, antes de embarcar para os Estados Unidos.
Por onde passava, tratava de reunir as principais peças sobre a história
brasileira que estavam espalhadas pelo mundo. Os estudos e o amor pela
historiografia o tornaram peça importante além da diplomacia. “Oliveira Lima é
um ‘sujeito oculto’ das principais correntes historiográficas nacionais, sendo
um precursor de nomes como Sérgio Buarque de Hollanda”, comenta o diplomata
André Heráclio do Rêgo.
Nascido em Recife, Heráclio foi responsável por organizar na Biblioteca
Brasiliana Guita e José Mindlin o seminário "Oliveira Lima e a (Longa)
História Da Independência". Em complemento ao seminário, também foi feita
uma exposição para "ilustrar" e contextualizar a trajetória de
Oliveira Lima e seus grandes feitos. “Ele era um grande colecionador, o que também
o distingue dos outros da época. Nenhum conseguiu um acervo como ele fez”,
exalta Heráclio.
Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, Oliveira Lima também
foi de grande importância para a narrativa das biografias no Brasil. “Dom João
VI no Brasil”, sua obra mais importante, foi publicada em 1909, tendo sido
seguida pelo “O movimento da Independência” (1922).
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