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Givaldo
Calado de Freitas
Dia
marcado para nosso regresso ao Recife, com decolagem prevista para as 15 horas.
Dia, portanto, de refazer as malas e começar a pensar na realidade que nos
espera, em horas.
Só
com esta manhã de segunda-feira, 04, manhã inclusive que já, já, se exauria,
dando lugar ao começo de tarde, nada mais a fazer em São Paulo, além ultimar
nossa saída do hotel, e partirmos.
Viajar.
Sempre bom. Muito bom. Também penso assim, como a grande maioria dos amigos e
amigas com quem converso. Na minha atividade profissional, todavia, viajar tem
sido cada vez mais difícil, até pela minha natureza de querer estar vendo e
estar à frente dos meus dias a dia. Que são tantos, não raros de problemas.
Que, penso certo ou errado, só a mim diz respeito. E eu teria inúmeras razões
de estar sempre viajando, a começar porque tenho duas filhas e três netinhos
que adoro. Além, claro, de dois genros que vivem longe, lá, na América do
Norte. Ainda bem que Emília supre com suas constantes presenças as minhas
ausências.
Recolhi-me
um pouco. “Ficou triste vovô? Quer ficar mais um pouco?”. “Não, Gui. Vovô não
pode. Nós não podemos. Você, porque perde aula desde quinta-feira; vovô, porque
tem tarefa a cumprir em Garanhuns e sua avó, porque está morrendo de saudade de
casa. Afinal, faz um mês que ela está fora, viajando com suas tias”. “E esses
papéis, vovô?”, perguntou-me. “São minhas anotações, Gui”. E aqui eu vejo José
Lins do Rego dizer que “Viajar é muito bom, mas não viajar não é morrer”. Uma
vez, Oliveira Lima, que era homem de muitas viagens, dizia que se fôssemos
tomar o valor dos homens pelas viagens, teríamos que chegar à conclusão de
considerar os grumetes como homens finos, e um Sócrates, que nunca saiu de sua
cidade, um botocudo. “Vou explicar, Gui. Você ainda não tem obrigação de saber
o que são ‘grumetes’ nem ‘botocudo’. ‘Grumete’ seria o que se poderia chamar de
‘marinheiro de primeira viagem’. Já ‘botocudo’ seria o que se poderia chamar de
um ‘sujeito pouco civilizado’.”
“Mas
vovô viaja muito. Estivemos, não faz um ano, em Brasília. Depois, passamos uma
semana no Rio. Estivemos, aqui, em São Paulo, meses atrás. Estamos, aqui, de
novo”. No que eu disse: “Certo, Gui, certo! Mas vá dizer isso a sua avó...”.
“Agora,
de uma coisa estou certo, Gui: pelo menos no que diz respeito a viajar, ganho
de Sócrates. Entendeu Gui?”. “Mas claro, vovô!”, me disse. “Agora deixa eu te
contar: nessa história de viagens quem estava certo mesmo era Montaigne quando
dizia em seus Ensaios que ‘Viajar é um exercício proveitoso. Nela a alma se
exercita’. E a minha sinto que tem se exercitado muito bem. Sobretudo por sua
companhia”. Ele, prontamente afirmou: “Agora o Senhor pegou pesado, vovô!”.
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Crônica redigida em 04.09.2017
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Figura pública. Empresário.
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