sexta-feira, 29 de julho de 2022

Veja quem traiu, quem foi traído e quem se deu bem no Governo Bolsonaro


Por Diego Amorim —
 Esta foto foi tirada na campanha de 2018, no apartamento de Luciano Bivar em São Paulo usado para reuniões políticas (foi ali também que viria a ser decidida a fusão entre PSL e DEM). Na foto, a turma preparava a campanha de Jair Bolsonaro, que, naquele momento, estava internado após ter sido esfaqueado em Juiz de Fora.

Vamos ao ‘quem é quem’ da foto:

1) O anfitrião é LUCIANO BIVAR, deputado federal por Pernambuco que viria a ser reeleito. Presidente do PSL, foi ele um dos principais conselheiros e incentivadores do então colega de Câmara Jair Messias Bolsonaro. Já no primeiro ano de governo, Bolsonaro e Bivar brigam, tendo como um dos panos de fundo o controle do fundo partidário. Bolsonaro deixa o partido. Mais adiante, Bivar articula a fusão do PSL com o DEM e passa a presidir o União Brasil, do qual ainda é pré-candidato ao Planalto. Ontem, publiquei em primeira mão que Bivar anda sendo cortejado até pela esquerda a disputar a reeleição como deputado e tentar virar presidente da Câmara em 2023.

2) Ao lado esquerdo de Bivar está PAULO GUEDES, apresentado na campanha como o “Posto Ipiranga” da economia e o “superministro” do governo Bolsonaro. Guedes não teve o apoio de Bolsonaro para seguir com o ímpeto liberal que havia prometido, foi engolido pelo Centrão, viu sua excelente equipe se esfacelar e hoje está apagado, com grandes chances de não ser mais ministro da Economia em caso de reeleição do presidente.

Brigado com o Centrão, Guedes deve deixar o governo

3) Ao lado direito de Bivar aparece AUGUSTO HELENO, general da reserva que fazia campanha aguerrida por Bolsonaro. Na época, ele demonizava o Centrão. Chegou a cantar na convenção de 2018: “Se gritar pegar Centrão, não fica, um meu irmão…”. No governo, assumiu o Gabinete de Segurança Institucional, viu o Centrão “pegar” Bolsonaro e passou a bater boca com jornalistas no Twitter. Imaginava-se que ele seria o “moderador” de Bolsonaro.

4) Ao lado de Heleno, com bigode grosso, temos NABHAN GARCIA, que sonhava em ser ministro da Agricultura de Bolsonaro. Amigo da família Bolsonaro, ele ocupa hoje a Secretaria de Assuntos Fundiários. Foi um dos principais organizadores das manifestações do agro pró-Bolsonaro em Brasília em meio à pandemia. Ele, porém, não é unanimidade no setor e, por isso, nunca conseguiu chegar ao topo da Agricultura.

5) De camiseta amarela, está lá MAGNO MALTA. O pastor ex-petista, filiado ao PL, hoje partido de Bolsonaro, era cotado, na época, para ser vice do então candidato. No entanto, acabou disputando a reeleição como senador pelo Espírito Santo e foi derrotado. Não teve espaço no governo. Nos bastidores, fala-se que os filhos de Bolsonaro não gostaram do protagonismo dele durante a facada e o anúncio da vitória: em ambas as ocasiões, Malta puxou uma oração.

6) Em pé, de blazer cinza, aparece JULIAN LEMOS. O então candidato a deputado federal pela Paraíba viria a ser eleito. Ele chegou a coordenar a campanha de Bolsonaro no Nordeste em 2018, mas sempre teve atritos públicos com Carlos Bolsonaro. Julian virou vice-presidente nacional do PSL e acabou rompendo com o governo, sendo considerado “traidor” por bolsonaristas. Foi um dos grandes entusiastas da candidatura presidencial de Sergio Moro, que não vingou.

7) Também em pé está GUSTAVO BEBIANNO. O advogado foi o responsável por fazer Bolsonaro trocar o Patriota pelo PSL durante a campanha de 2018. Foi um dos principais nomes da transição, assumiu a Secretaria-Geral da Presidência, mas foi chutado do cargo menos de dois meses depois. Fora do governo, filiou-se ao PSDB e era pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro quando morreu, em março de 2020, vítima de um infarto fulminante em um sítio em Teresópolis.

O ex-ministro e ex-braço direito de Bolsonaro, Gustavo Bebianno | Foto: Alexandre Cassiano

8) Sentado ao lado direito de Magno Malta está FLÁVIO BOLSONARO. O então candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro era visto como o filho “mais normal” de Bolsonaro e a expectativa era de que ele assumisse a articulação do governo, em caso de vitória. Antes da posse, porém, eclodiu o escândalo da rachadinha da época em que Flávio era deputado estadual na Alerj. A investigação fez a família Bolsonaro recuar sobre o que dizia acerca do foro privilegiado e, a partir dali, Bolsonaro precisou ajustar discurso e, principalmente, ceder no que diz respeito ao combate à corrupção, uma de suas principais bandeiras na campanha. Flávio ficou um pouco escondido, mas ressurgiu para tentar montar a Aliança pelo Brasil, partido do qual seria vice-presidente e que não saiu do papel.

9) O outro filho de Bolsonaro na foto EDUARDO, que viria a ser reeleito como o deputado federal mais votado do Brasil, com estrondosos 1,84 milhão de votos. Eduardo é autor da famosa frase de que “para fechar o STF basta um soldado e um cabo”. No início do governo, chegou a ser cogitado para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, mas o presidente não obteve o apoio necessário no Senado para seguir com a ideia. Eduardo também acabou sendo alvo do Conselho de Ética na Câmara por falas como a defesa de um novo AI-5: ele acabou inocentado. Também chegou a assumir a liderança do PSL na Câmara depois que o partido rachou.

10) O careca da foto é ONYX LORENZONI, então deputado federal pelo Rio Grande do Sul conhecido por suas críticas ao PT. Onyx colou em Bolsonaro e virou nome da “cota pessoal” do presidente. Conduziu a transição e, no governo, assumiu inicialmente a Casa Civil. Mas sua articulação foi bastante criticada e ele acabou sendo realocado no Ministério da Cidadania. Onyx e Rodrigo Maia, então presidente da Câmara, são desafetos. Onyx ocupou ainda a Secretaria-Geral da Presidência antes de assumir o recriado Ministério do Trabalho e Previdência. Foi ele também o principal cabo eleitoral de Davi Alcolumbre, então seu correligionário no DEM, ao comando do Senado em 2019. Onyx tinha acabado de se casar com uma servidora do gabinete de Davi. Hoje, Onyx é pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PL.

11) O outro de bigode na foto, sorridente, é ANTONIO DE RUEDA, o principal braço-direito de Luciano Bivar. Advogado, viu seu escritório “bombar” ainda mais no governo Bolsonaro. Transformou-se num importante articulador político nos bastidores e idealizador do União Brasil, partido que viria a ser criado resultante da fusão entre PSL e DEM e do qual é primeiro-vice presidente. A tesoureira do União Brasil, que tem atualmente um caixa de quase R$ 1 bilhão, é Marília Emília Rueda, irmã e sócia de Antonio. O partido, até aqui, não caminha junto com Bolsonaro rumo à reeleição.

O presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, e o vice Antonio Rueda (à esq.).

12) De camiseta branca está o saudoso e aguerrido MAJOR OLIMPIO. O então deputado federal viria a ser eleito senador em 2018 como um dos principais apoiadores de Bolsonaro. Logo tornou-se líder do PSL no Senado e tentou, sem sucesso, convencer a família Bolsonaro a ser o candidato do Planalto ao comando do Senado. Ao constatar que Bolsonaro não honraria bandeiras de campanha, principalmente no que diz respeito ao combate à corrupção, Olimpio rompeu com o presidente e passou a também ser considerado “traidor” por apoiadores. O senador morreu vítima de complicações da Covid em março de 2021.

Das 12 pessoas na foto, portanto, temos quem morreu como “traidor”, quem foi escanteado pelo presidente, quem, por algum interesse, se manteve ainda agarrado ao presidente e quem acabou usando a eleição de Bolsonaro como trampolim de poder.

Ah, e sete latas de Coca-Cola e nenhum Carlos Bolsonaro.

 

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