Em depoimentos prestados à 7ª Vara Criminal de Brasília, Durval Barbosa disse que o dinheiro teria sido recebido pelo então pré-candidato a governador para turbinar e viabilizar o nome dele na corrida ao Buriti
Na reta final das ações penais relativas à Operação Caixa de Pandora, o delator do esquema, Durval Barbosa, prestou ao menos 10 depoimentos à 7ª Vara Criminal de Brasília, nos quais revelou detalhes sobre o escândalo. Em todas essas oitivas, Durval afirmou à Justiça que, entre 2003 e 2006, o então pré-candidato ao governo José Roberto Arruda teria recebido R$ 60 milhões em propina para “pavimentar sua candidatura” ao GDF. Segundo o delator, boa parte dessa bolada foi usada para tirar do caminho “o inimigo a ser abatido”: o então senador Paulo Octávio, companheiro de partido de Arruda e também pré-candidato ao Palácio do Buriti. O interrogatório dos réus da Pandora, previsto para novembro, foi suspenso por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Os depoimentos de Durval trazem detalhes históricos sobre a disputa eleitoral de 2006. Segundo o delator do escândalo, Paulo Octávio aparecia em primeiro lugar nas pesquisas e, por isso, transformou-se em um rival a ser vencido. “Eu apoiei o Arruda e nós elegemos o Paulo Octávio como um inimigo a ser derrotado primeiramente”, afirmou Durval, em depoimento prestado em 6 de maio. “Tínhamos que derrotar Paulo Octávio para poder colocar Arruda na frente”, acrescentou, na mesma data.
Em todos os depoimentos, o delator usa a expressão “pavimentação eleitoral” para explicar à Justiça a destinação dos recursos arrecadados no suposto esquema envolvendo empresas de informática. Questionado por um representante do Ministério Público sobre o significado da expressão, Durval disse que o grupo trabalhou para “derrubar qualquer barreira que houvesse, qualquer candidatura que aparecesse para atrapalhar Arruda, e vencemos graças ao grande volume de recursos empreendidos nessa empreitada”, garantiu Durval, durante oitiva realizada no último dia 27 de junho. “Quando chegou próximo de definir a chapa, estávamos à frente nas pesquisas, porque pagávamos jornais para serem distribuídos de graça em todos os rincões, todos os bolsões de votos do DF.” Na disputa interna do extinto PFL, hoje DEM, a Executiva Nacional do partido, à época presidida por Jorge Bornhausen, optou por uma chapa pura, encabeçada por Arruda e tendo Paulo Octávio como vice.
De acordo com o depoimento, parte dos R$ 60 milhões supostamente repassados a Arruda teria sido usada para a elaboração de pesquisas, reportagens em revistas, lançamento da revista Arrudinha, pagamento de consultores, de jornalistas, de rádios comunitárias e piratas, “pagamento de tudo quanto é tipo”, explicou o delator. “Isso tudo para criar um ambiente favorável à imagem e à pessoa do réu José Roberto Arruda, deixando ele em uma posição melhor na disputa eleitoral?”, questionou então um representante do Ministério Público. “É, e pagamento de pessoas. Colocamos 200 pessoas no Gama, vamos falar mal do nosso concorrente. Aquelas 200 pessoas eram pagas com esse dinheiro. Essa era a maldade que a gente fazia”, contou, na oitiva de 6 de maio.
Durval relatou que esse trabalho de construção da pré-campanha era imprescindível para resgatar a imagem de Arruda. “Em duas conversas longas que nós tivemos, eu e Arruda, nós falamos sobre a pavimentação de uma campanha eleitoral, de chegar ao topo do poder, que é ser governador, mas ter que fazer primeiro uma pavimentação, por causa do descrédito que o Arruda tinha em virtude de painel (eletrônico do Senado), em face de ser chamado de traidor. E da falsidade que ele sempre teve com os companheiros. Nesse meio, existia uma pessoa chamada Paulo Octávio, que queria a todo custo disputar o governo do DF”, descreveu Durval, em um depoimento prestado em 20 de junho deste ano.
Fonte: Correio Braziliense
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