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Givaldo Calado de Freitas
Acabo de receber dois vídeos de meu netinho Lucas,
que mora com os pais, em São Francisco. O primeiro, enviado pelo meu genro,
Justin. E o outro, por minha filha, Germana. Justin me encaminha de São
Francisco. Germana de São Paulo, cidade em que se encontra, a serviço da
empresa em que trabalha.
Assisto. E assisto de novo a esses vídeos. E
reassisto. E volto a reassistir inúmeras vezes. Coisa de avô saudoso, que
procura matar um pouco a saudade dos seus netinhos distantes vendo fotos e
vídeos que chegam todos os dias ou quase todos os dias, aqui, na longínqua
terra de Simôa. É a maneira que tenho para acompanhar o crescimento desses
nossos descendentes, ausentes que estão por conta do destino a que nos impõe a
vida.
Lauro Müller dizia que “avô é pai sem exigências. E
avó, mãe com açúcar”. E tudo pelo apego deles a seus netinhos - sem exigências.
Com açúcar. Apego, sem embargo, evidentemente, do apego que têm,
prioritariamente, seus pais, mas, certamente com exigências e com pouco açúcar
ou quase nenhum. Mas com muito amor. Igual ou superior ao dos avós.
Começo a imaginar: como era, no passado, a vida dos
avós, distantes de seus netinhos? Como eles os acompanhavam em seus
crescimentos? Em seus desenvolvimentos? Devia ser muito duro... Devia ser
sofrida... a vida daqueles avós - penso.
Como suportavam a angústia pelas notícias? Mais que notícia: por alguma foto
que lhes dessem a ideia de como andavam os seus netinhos? Os seus mais que
filhos? Os seus filhos ao dobro?
Na nossa era digital... Que maravilha! Até em tempo
real, temos tudo às mãos. Na hora. Aí o
nosso consolo. Aí a nossa alegria.
Apesar de não tocá-los... Apesar de não
abraçá-los... Apesar de não beijá-los...
A alegria de estarmos vendo-os, e até falando com eles pelos recursos
que as redes sociais nos oferecem.
Outro dia disse a um amigo: deveríamos dar um
prêmio àquele pessoal do Vale do Silício que inventou as redes sociais. As
redes e seus progressos. Seus derivados. Seus avanços. Que não param. E dizia
como se o homem já não o houvesse feito. Já não houvesse consagrado esses
gênios desses magníficos inventos. Incomensuráveis inventos.
Netos são presentes que Deus nos confere, renovando
presentes de lá de traz: nossos filhos. Netos são como se a gente pudesse
avocar a vida a cada instante das nossas vidas. Eles têm um verdadeiro poder
restaurador de nossas vidas. Conduzem-nos para bem atrás do que hoje somos.
Leva-nos à nossa adolescência. À nossa infância. Mais, fortemente, até, quando
não os vemos no cotidiano. Quando não temos uma vida em comum. Todavia,
intermitente. Conquanto distantes por desígnios da vida. Essa, a realidade
minha e de Emília - longínquos deles.
No que pese, temos em mente o que o poeta dizia: “o
menino é o pai do homem”. E cremos deveras nessa acertiva. E, por isso,
torcemos por uma boa educação e por uma sadia orientação de nossos netos. Como
- pensamos - procuramos dar aos nossos filhos, pais de nossos netos. E por mais
que saibamos que isso vem acontecendo, sem exigências e com açúcar, embora de
longe, queremos conferir tudo. Absolutamente tudo. Ou quase tudo.
De repente, enquanto alinho essas linhas, Emília,
que está no Recife, e que partiu, hoje, cedinho, para matar a saudade de nossos
netinhos que vivem por lá, me liga: “Eu, Guilherme e Gabriela jantamos juntos.
E Gabriela ficou para dormir comigo.” Que ciúme!
Fiquei com uma pontinha de ciúme, malgrado os
versos de Shakespeare na minha cabeça a dizer: “Meu Senhor, livrai-vos do
ciúme!” E por mais que digamos que não o temos, essa é a hora em que nos
traímos. E ei-lo em nós.
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Figura pública. Advogado de empresas.
Empresário.
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