segunda-feira, 23 de julho de 2018

ACADEMIA DE ARTE E LETRAS DE PERNAMBUCO - 25 DE JULHO DIA DO ESCRITOR





Marcilio Reinaux (*) 

O Dia 25 de Julho foi instituído no Brasil, como 

“O DIA NACIONAL DO ESCRITOR” 

pelos Escritores João Peregrino Junior e Jorge Amado, quando respectivamente eram Presidente e Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores UBE, em 25 de Julho de 1960, após a realização do “Primeiro Festival do Escritor Brasileiro”. Assim há 57 anos, foi instituído este Dia do Escritor, pela UBE, Instituição da qual fazemos parte, aqui em Pernambuco, como afiliado desde 2005. 

É difícil descrever de forma completa a importância e a magnitude do trabalho perspicaz e sobremodo paciente dessa figura transcendental na historiografia da Humanidade, que é o ESCRITOR.  Da mesma forma, torna-se também difícil – para cada um de nós – enquanto escritores que somos, discorrer sobre as nossas vidas na transitoriedade da Historiografia Brasileira: o que é ser Escritor.  

Como se sabe, antes da criação silábica feita pelos Sumérios, lá pelos cinco milênios passados (cerca de 3000 a C.), bem como a escrita hieroglífica no Egito Antigo, o conhecimento humano era transmitido ainda de forma oral e em especial, completando-se as expressões da comunicação por gestos e mímicas.  Há de se entender que esta era uma maneira e uma prática sumamente trabalhosa pela forma e modos de se viver e conviver, com certeza, quase que única e exclusivamente pela expressão gestual.  

Um belo dia, o homem começou a RISCAR CARCTERES, figuras, garatujas, sinais e uma infinidade de simbolismos, de objetos caseiros, de animais, dele mesmo se locomovendo, indo e vindo, na  busca incessante e no desejo incansável de estabelecer a comunicação com os seus semelhantes.   

Mais que isso, o homem queria “entender” os outros, e também deixar-se ser entendido. Assim riscando sinais e ou símbolos criou a ESCRITA. E com a escrita criada, nasceu esta figura inigualável da Humanidade: o narrador, aquele contador de histórias, o transmissor dos fatos, aquele que riscou no PAPIRO as primeiras letras, o que riscou depois os pergaminhos.  Ele o ARAUTO, ele o narrador, ele o comunicador, ele enfim o ESCRITOR... Nós mesmo, caros colegas Acadêmicos, ilustres Pares deste Sodalício, Confrades e Confreiras: nós os ESCRITORES. Até porque esta  

Nós que hoje aqui e agora COMEMORAMOS O NOSSO DIA.  

A dádiva de SER ESCRITOR, estimados amigos, é mais que uma simples qualidade e ou uma capacitação singular, da habilidade intelectual de cada um.  Ser escritor, não é necessariamente ser erudito, intelectual, culto... Tanto assim que há muitas pessoas sumamente cultas, mas que são incapazes de “escrever” um capitulo de um folheto.  

Já que falamos em folheto, o que dizer do conhecido ESCRITOR da Literatura de Cordel? Rude nas suas origens, pouco ou nenhuma educação escolar, tolhido por problemas de sobrevivência e... eis que pelo DOM DE DEUS, inspirado e somente inspirado, deita o verbo direto ou atravessado, palavras rudes e as vezes incompreensíveis, com qualquer linguagem vai COMPONDO seu texto poético, na forma no sentido, no sentimento da narrativa, a historiografia pura saída do íntimo, lá do recôndito da sua capacidade criativa. Enfim o dom de dizer, de falar, de cantar, de compor e de ESCREVER. Assim ele é um escritor em potencial.  

Desta forma, nessa linha de pensamento, a essência par ser escritor, é – no meu entender – a CAPACIDADE CRIATIVA, o DOM. E se é com, com certeza, este só pode ser dado pela Mercê do Criador.  

Sentir pulsar no peito, vibrante lá do recôndito do coração, da alma e do espirito, aquela força, aquela vontade, aquele ímpeto, aquela capacidade sua e somente sua, de poder de narrar, as coisas, os fatos, os feitos, a vida a sua e dos demais no seu entorno, a grandiloquência da Natureza que lhe cerca, que quando tudo isso traduzido e dado a conhecer, refletem e resultam na sua capacidade de escrever. VOCE É UM ESCRITOR.  

Seu texto foi visto, foi lido, relido, foi comentado ou não foi. Deram-lhe créditos, ou não lhe deram a mínima atenção. Não importa. Nada disso importa. Você o escreveu, você o compôs, você deu “vida a fatos e acontecimentos. Você EXCREVEU. Você e ESCRITOR.  Sinta-se feliz e agradecido à Deus por esse dom que lhe confere.  

Ali naqueles ditos “albores” da Historiografia da Humanidade, portanto a partir daqueles cinco mil anos, que o homem vem escrevendo a sua própria história – na forma expressa de caracteres - passando-a e continuando os seus valores inerentes através da escrita, que aos poucos se revelou e tem-se revelado um bem precioso da humanidade, como um forma intangível de comunicação interpessoal. E em sendo formatada por sinais (letras), certamente é a mais perene expressão da comunicação entre os homens, raças e línguas, povos e Nações. 

Escritores são aquelas pessoas que têm profunda sensibilidade em exercitar a capacidade criadora que lhes é inerente, que com elas já nascem como um dos dons que o Criador concede. No decorrer da vida, uns, mais cedo, outros na sua plenitude e outros até quase no ocaso da vida, sentem aflorar os seus sentimentos e a capacidade de arquitetar historias e estórias, ideias e pensamento, dando aos mesmos o formato da escrita.  

Assim, em um belo dia, de repente não mais que de repente, alguém se sente impelido, motivado, inspirado de dizer, de contar, de narrar e enfim escrever as suas emoções fervilhando lá do seu íntimo e no entorno das suas vidas as quais vai dando a conhecer os fatos e as acontecências. E assim formatando, ou construindo pequenas e ou grandes histórias, lança tudo para o registro dos momentos preciosos e mais ainda para a posteridade, na forma indelével da escrita: o texto, pleno de informações. De repetente, o autor daquele texto que criou, descobre-se escritor. 

E então não raras vezes, sente e até compreende que:  

“Ser escritor, não é por ter escolhido dizer certas coisas, mas sim por ser capaz de dize-las, pela forma como elas são ditas”  (Jean-Paul Satre).   

Daí então quando o texto, o livrinho, livreto, enfim a obra escrita de qualquer viés, de qualquer Natureza, qualquer tema e ou assunto, está finalizada, ele o escritor mesmo ainda principiante, pode sentir a grande realidade de que ele pode fazer e levar os outros a pensar sobre o que escreveu. Sobre este instigante aspecto, Eugène Delacroix, (pintor e escritor francês)  já ensinava que:  

“O mais belo trunfo do escritor, é fazer pensar os que podem pensar”. 

Narrar escrever, descrever coisas e fatos verdadeiros é salutar. Mas não é menos sumamente agradável do que escrever ideias, pensamentos, formatar historias e criar enredos, mesmo sem ser verdadeiros. Construir historias e estórias, arquitetar ideias, em especial aquelas inéditas as quais ninguém nunca abordou, aquelas eclodindo da capacidade criadora, do gênio inventivo, é a experiência maior – sobremodo compensadora - de quem escreve.   

William Faulkner enaltecia o valor intrínseco e transcendental da escrita ficcionista, colocando esse gênero da Literatura nos píncaros dos conceitos universais, porquanto fácil é e será, a qualquer um contar, narrar fatos conhecidos. Porém bem mais difícil, complicado, desafiador até por conta da coerente e lógica narrativa que deve predominar em um texto, ou seja criar, descrever e escrever texto de ficção, consentâneos e legítimos. Seu valor transcende pelo processo imaginativo com a genialidade estratificada da capacidade criadora.

O escrevinhador é aquele que escreve. O Escriba, é aquele que contou e tem contado a transitoriedade do mundo formatando a em muitos episódios, fatos e “capítulos” a própria História. E ele, esse que escreve, o dito escritor, vai proporcionar através da leitura dos seus textos, sejam densos, longos, simplórias linhas de um poema, ou escrito que levem à profundas reflexões, sejam científicas, religiosas ou sociais, vai proporcionar ao mundo ( ou aos leitores) que façam “viagens” por mundos e lugares desconhecidos. E assim conheçam novos personagens inverossímeis, verdadeiros ou mesmo, fruto do imaginário do Escritor.  

São nos textos dos escritores que sentimos dores ou tristezas, como se sentíssemos as suas dores, bem como e igualmente desfrutamos das suas alegrias intangíveis, fantasticamente tão maravilhosas como se fossem as nossas. Mudamos, evoluímos, construímos, renascemos, tomamos novos rumos, formatamos novos entendimentos, compreendemos melhor a vida e as pessoas, quando estamos passando a última página de um livro. Um bom livro, claro. Aquele livro, aquela obra literária ou não, mas a que transcende pela capacidade e ou genialidade do escritor. 

O caminho do escritor é por vezes, cansativo, sofrido, irritante e até minimizado e ou desvalorizado. Incompreensivo até. Mas sempre, sempre será uma trilha a palmilhar sumamente gratificante. Até porque escrever um texto inédito, transformar os sentimentos ideias e capacidade, em um livro, é como parir um filho, com todo o sentimento que aflora das entranhas, com todo o mistério da capacidade criadora, inerente para tantos, que Deus concede a alguns privilegiados. E eu tenho em mim estes sentimentos.  

E o Escritor é um afortunado pela mercê de Deus. 

(*) Marcilio Reinaux, é Escritor, Membro da UBE/PE,/Academia de Letras de Garanhuns, Academia de Artes e Letras de Pernambuco reinauxcerimonia@uoil.com.br 





“Até aqui nos ajudou o Senhor” 

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