O ex-marqueteiro do Partido dos Trabalhadores (PT) estava hospitalizado para tratar um câncer no cérebro e fazia quimioterapia. Em junho, ele foi diagnosticado com a Covid-19, que agravou o quadro de saúde e precisou ser intubado. O corpo de Duda será cremado, e os detalhes sobre o local estão sendo definidos pelos familiares.
Entre as campanhas que liderou, se destacam a de Paulo Maluf à Prefeitura de São Paulo em 1992 e a de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência em 2002. A partir da aproximação com vários políticos, Duda Mendonça também se envolveu em escândalos de corrupção.
Em 2005, o nome dele apareceu no Mensalão, onde virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) junto com outras 37 pessoas e foi acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Já em 2016, o marqueteiro passou a ser investigado na Operação Lava Jato e virou réu no STF novamente, pelos mesmos crimes que respondeu no Mensalão.
Trajetória profissional
Duda Mendonça morreu neste domingo (15), em decorrência de um câncer no cérebro, agravado pela Covid-19 — Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo/Arquivo
José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, o Duda, nasceu em 10 de agosto de 1944, em Salvador. Ele morreu em decorrência de um câncer no cérebro, agravado pela Covid-19. A trajetória profissional de quase 50 anos começou a ganhar forma ainda em 1975, quando Duda criou a agência DM9 Propaganda.
Em 1988, os também publicitários Domingos Logullo e Nizan Guanaes tornaram-se sócios dele, que abriu um escritório em São Paulo. Em 1990, a DM9 Bahia e a DM9 São Paulo se separaram. Este foi o pontapé para Duda Mendonça se preparar para a campanha de Maluf, que venceu a eleição paulistana de 1992.
Neste trabalho, Duda usou a experiência de quem organizou e ajudou o empresário e radialista baiano Mário Kertész a vencer as eleições para a prefeitura de Salvador, em 1985. A vitória seguida nos dois pleitos foi o que abriu os olhos de outros políticos para a carreira de Duda.
No entanto, seu trabalho na campanha presidencial de Lula foi o que projetou o trabalho de Duda nacionalmente. Depois de três derrotas seguidas para a presidência, Lula contratou o marqueteiro, de quem ganhou a alcunha “Lulinha Paz & Amor”. Em 2002, com a coordenação de marketing de Duda Mendonça, Lula chegou à presidência com o Partido dos Trabalhadores.
O publicitário também foi o responsável pela campanha de reeleição da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, em 2004, também pelo PT. Em outubro deste mesmo ano, ainda durante as eleições, o marqueteiro foi preso em flagrante em uma operação da Polícia Federal, junto com outras 200 pessoas, em uma rinha de galos na zona oeste de São Paulo.
“É um hobby meu. O Brasil inteiro sabe. Não estou fazendo nada de errado e ponto final. Nada a declarar”, disse Duda Mendonça à época. Promover ou participar de brigas de galo é crime ambiental, mas de menor potencial ofensivo.
O publicitário também atuou nas campanhas dos irmãos Ciro e Cid Gomes no Ceará, respectivamente a deputado federal e a governador, em 2006. Os dois se elegeram.
Dois anos depois, em 2008, Duda também atuou no marketing político de outras campanhas do Nordeste. Ele coordenou e ajudou a eleger prefeitos em Fortaleza e João Pessoa. Na Europa, o publicitário fundou a agência Duda Portugal e atuou na campanha do ex-primeiro-ministro lusitano Pedro Santana Lopes.
Escândalos de corrupção
O publicitário Duda Mendonça no comitê eletrônico do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, quando trabalhava na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República em 2002 — Foto: Manoel de Brito/Estadão Conteúdo/Arquivo
O primeiro escândalo de corrupção em que Duda Mendonça foi citado foi o Mensalão, em 2005. O marqueteiro virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) junto com outras 37 pessoas e foi acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que também apurou o Mensalão, Duda confessou ter recebido R$ 10,5 milhões pela campanha à eleição de Lula, como recurso não contabilizado, o chamado “caixa 2”.
A defesa do marqueteiro argumentou que ele cometeu o crime de sonegação fiscal, não o de lavagem de dinheiro. Além disso, os advogados também informaram que ele não sabia da origem ilícita do dinheiro recebido pelo PT e que nunca tentou ocultar os valores. Duda também pagou o que devia ao fisco, cerca de R$ 4,8 milhões. Com isso, ele foi absolvido no julgamento do mensalão, em 2012.
Em 2016, Duda passou a ser investigado na Operação Lava Jato e virou réu no STF novamente, pelos mesmos crimes que respondeu no Mensalão.
No processo, ele foi acusado de receber por serviços ao PT, por meio de uma offshore nas Bahamas. Offshore é o termo usado para sociedades ou contas bancárias que são abertas fora do local de domicílio dos proprietários, para ter um regime tributário diferente.
Em 2017, o publicitário assinou um acordo de delação premiada relacionado à Lava Jato, que foi homologado pelo ministro Edson Fachin, do STF. Ele foi o terceiro marqueteiro do partido a assinar a delação. As revelações foram anexadas à investigação e são mantidas sob sigilo desde então.
G1
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