segunda-feira, 10 de março de 2025

O que muda com a ida de Raquel Lyra ao PSD?

Com migração da governadora, PSDB avança nas tratativas de fusão com o Solidariedade e pode virar oposição em Pernambuco

Por: Guilherme Anjos

Rafael Vieira/DP Foto

A governadora Raquel Lyra se filia ao PSD nesta segunda-feira (10). A cerimônia acontece no Recife Expocenter às 18h55 – horário em alusão ao número do partido – e contará com a presença do presidente nacional Gilberto Kassab. A muito especulada migração pode virar as políticas tucanas do avesso a nível estadual e nacional, estreitando as relações do PSDB com o Solidariedade e até com o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

As lideranças do PSD nunca negaram seu interesse em ter a governadora de Pernambuco em seus quadros. Negociações para uma filiação de Raquel aconteciam desde o ano passado, mas foram interrompidas pelas tratativas de fusão entre PSD e PSDB – que não foram para frente devido à rejeição por parte de medalhões tucanos.

Na mesma época, Raquel chegou a receber um convite do MDB, que foi rejeitado. A filiação da governadora ao PSD foi confirmada pelo próprio Kassab no final de fevereiro. O dirigente já entregava convites para a cerimônia antes de uma confirmação oficial da pernambucana, que ainda não se pronunciou sobre o assunto.

Com a mudança de siglas, Raquel passa a fazer parte da base do Governo Lula. A gestora não escondia seu desejo de aproximação do presidente da República e o descontentamento com a oposição ostensiva feita pelo PSDB. O partido de Kassab possui três Ministérios em Brasília, e deve ganhar mais representatividade na esperada reforma ministerial.

A migração também agrada os petistas. A governadora foi se tornando mais atrativa para o PT em Pernambuco à medida que eram “escanteados” por João Campos. À contragosto do diretório da capital, alinhados com o prefeito recifense, medalhões como o deputado João Paulo (PT) já declararam interesse em estar no palanque de Lyra.

O PSD deve ter nome próprio nas eleições presidenciais. Kassab reforçou, no entanto, que a governadora tem conhecimento disso e o partido não impõe o apoio a nomes específicos.

Com Raquel, o PSD ganha terreno fértil para crescer. No ano passado, a governadora filiou dois de seus principais candidatos à legenda: Daniel Coelho, no Recife, e Mirella Almeida, eleita em Olinda. Em 2026, ela deve articular a migração de mais aliados e abrir espaço para o partido na Assembleia Legislativa.

Hoje, o PSD não possui nenhum parlamentar na Casa José Mariano, enquanto o PSDB tem três – incluindo o presidente Álvaro Porto, adversário da governadora e aliado do prefeito do Recife.

PSDB na oposição

Temendo perder espaço para legendas em ascensão no “centrão”, como PSD e MDB, o PSDB passou a articular uma união com siglas menores, à exemplo do Podemos e do Solidariedade. E apesar dos reveses, a saída de Lyra colaborou com o avanço das tratativas.

Em entrevista à Folha de São Paulo, a vice-presidente do Solidariedade no Nordeste, Marília Arraes, afirmou que a presença da governadora pernambucana no PSDB era “um dos maiores entraves” para as negociações.

“Já tínhamos dito ao PSDB que ou ela se retirava espontaneamente ou eles convidavam ela a se retirar para poder seguir a conversa com a gente. Então agora, com certeza, a conversa vai fluir melhor”, disse.

Arraes garantiu, ainda, que uma federação com os tucanos manteria o compromisso firmado com João Campos. A ex-deputada federal almeja disputar uma vaga ao Senado em 2026 na chapa do primo.

Com o favoritismo de Álvaro Porto para assumir a presidência estadual do PSDB, os tucanos podem virar oposição à Raquel Lyra em Pernambuco e se aproximar dos socialistas no pleito de 2026, subindo no palanque do prefeito recifense na disputa pelo Governo do Estado.

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