terça-feira, 24 de outubro de 2017

Força-tarefa continua a combater fogo criminoso na Chapada dos Veadeiros

Uma corrente de solidariedade se formou após apelos por redes sociais e centenas de pessoas ajudam no combate ao fogo na Chapada dos Veadeiros. Prefeitura de Alto Paraíso de Goiás, principal cidade da região, informou que a Polícia Civil investiga crime



Linha de fogo é vista na mata durante a noite: voluntários se revezam dia e noite no combate aos incêndios na Chapada dos Veadeiros

Jacqueline Saraiva
Brigadistas, voluntários, bombeiros, veterinários, moradores. Centenas de pessoas estão mobilizadas e seguem, desde a última semana, ajudando a combater o incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros que ainda está fora de controle. Até o fim da tarde dessa segunda-feira (23/10), as chamas haviam consumido cerca de 35 mil dos 240 mil hectares do parque, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela administração do parque. A área corresponde a 15% da unidade de conservação.

A fumaça alta, escura e densa ainda esconde parte do rastro de destruição causado pelo fogo criminoso, mas já é possível ter noção dos estragos ao cerrado nativo. O incêndio matou animais selvagens, destruiu áreas de pastagem e levou muita gente a ser internada por conta da inalação de fumaça. Principal atração natural de Goiás e um dos mais concorridos destinos dos brasilienses nos fins de semana e feriados, a reserva está fechada a visitação há cinco dias, sem previsão de reabertura.
O ICMBio diz que cerca de 200 pessoas integram a força-tarefa organizada para combater o incêndio, que incluem voluntários e integrantes do ICMbio, Grupo Ambientalista do Torto (GAT), Corpo de Bombeiros de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Rodoviária Federal e da Prefeitura de Alto Paraíso. No entanto, após várias mobilizações, principalmente por meio de redes sociais, um número maior de pessoas está incluído nesse grupo que trabalha dia e noite pelo fim dos incêndios.

Ivan Diniz, 46 anos, é guia turístico na Chapada há 7 anos, onde mora há outros 10. Ele reclamou da inércia do governo local em agir e diz que, pela gravidade do incêndio, já deveria ter sido declarada a calamidade pública. Há vários dias, ele e um grupo de voluntários, prestam apoio e ajudam no combate às chamas. "O fogo invadiu toda região. Em alguns pontos está intransitável no caminho entre São Jorge e Alto Paraíso, por causa da fumaça", lamentou. Segundo ele, por causa do trajeto perigoso em meio à fumaça, há relatos de moradores que tiveram que deixar suas casas e ir para casa de amigos ou outros familiares.

Segundo a Defesa Civil de Goiás, não houve pessoas feridas nem casas atingidas, mas não descarta a possibilidade de interdição de edificações rurais e urbanas. Várias pessoas procuraram postos de saúde em busca de ajuda após inalar a fumaça do incêndio. “Houve aumento de cerca de 20% a 30% nos atendimentos. A maioria, pessoas com problemas respiratórios causados pela fumaça. Algumas precisaram ser internadas e outras foram medicadas e liberadas”, contou Clindivaldo Gonçalves Gomes, diretor do hospital municipal de Cavalcante (GO). Distante 310km de Brasília, o município era um dos mais afetados pelo fogo ontem.

Polícia investiga causa do incêndio
Representantes do ICMBio afirmaram ter certeza de que o fogo foi provocado. A suspeita também é de autoridades e ambientalistas, que acreditam que a ação criminosa ocorre por parte de fazendeiros insatisfeitos com a recente ampliação da área de proteção da Chapada, considerada Patrimônio Natural da Humanidade. Diretor do parque e também servidor do ICMBio, Fernando Tatagiba disse que há indícios de que uma pessoa colocou fogo na vegetação dos dois lados da rodovia GO-118 e no interior de um aceiro. "Certamente se trata de uma pessoa que conhece a região e a nossa dinâmica de combate às chamas", comentou. 

Ontem, a prefeitura de Alto Paraíso de Goiás, principal cidade da região,informou que a Polícia Civil investiga a causa do incêndio. Ela também será apurada pelo Corpo de Bombeiros, mas as duas investigações ainda não têm prazo para conclusão. Uma perícia também ainda não tem previsão de ser feita, já que a prioridade é conter o fogo.

Resgate aos animais selvagens
Para atender e resgatar animais atingidos pelo fogo, o Jardim Zoológico de Brasília enviou, ontem, quatro funcionários: dois médicos veterinários, um biólogo e um assistente de manejo de fauna. Até quarta-feira (25/10), outra equipe deve sair de Brasília em direção à Chapada, para revezar com os profissionais enviados nesta segunda. "Prestaremos todo o suporte necessário no atendimento dos animais atingidos de alguma forma pelo incêndio até que a situação esteja controlada", garantiu Gerson Norberto, diretor-presidente da instituição. A equipe foi convocada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A atuação será pontual no início, para que sejam socorridos os bichos intoxicados pela fumaça e com queimaduras. A chance de sobrevida desses animais, no entanto, é baixa, segundo o Zoo.

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