quarta-feira, 25 de outubro de 2017

POR QUE O EX-PRESIDENTE LULA É TÃO PERSEGUIDO?



Por Michel Zaidan Filho*

Estive, nos últimos dias, em Petrolina ministrando uma palestra para os cristãos reformados da Igreja Batista sobre a situação política do País. Nesta ocasião, pude fazer debates e alocuções em estações de rádio e blogs da terra.

Também tive a oportunidade de receber um belo presente do bispo metodista, Jeova Jacinto da Silva, sobre a origem da formação teológica dos Presbiterianos, Batistas e metodistas no Brasil e suas igrejas-mães na Europa e nos Estados Unidos. Embora não seja ministro religioso, não professe nenhuma confissão de fé e não tenha ido falar àquela comunidade cristã de qualquer assunto de natureza teológica ou doutrinal, admito que foi um aprendizado e tanto.

Aprendizado, sobretudo, por sentir muito de perto o ressentimento de alguns fiéis de Igrejas evangélicas contra a figura do Presidente Lula. Fiquei me perguntando o que teria levado esses crentes a se voltarem contra Luiz Inácio da Silva (LULA), ignorando o quanto ele fez pelo Nordeste (e Petrolina), durante a sua gestão presidencial.

E o que deixou como obra na democratização ao acesso do ensino superior. Pois é. Os evangélicos afirmavam que, como nordestino LULA era uma vergonha para todos nós e jamais deveria ter recebido o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade federal de Pernambuco, entre outras instituições. Tudo isso deveria ser anulado, em reconhecimento às acusações que pesam sobre seus ombros feitas pelo juiz Sérgio Moro.

Já fui na minha vida mais anticlerical do que hoje. Aprendi, na convivência fraterna e amiga de padres e pastores, a ser mais tolerante e respeitador da integridade moral e da boa vontade de muitos desses ministros religiosos. Mas, mesmo assim, não consegui me conter diante de tanto preconceito, de tanta má vontade e ignorância juntas.

Comecei a achar que o esforço de diferenciação social (alimentado por uma cultura de individualismo e puritanismo e de soberba e pretensão) fizeram desses fiéis pessoas muito conservadores, antipetistas e anticomunistas, que odeiam tudo que se parece com pobre, preto, imigrante e nordestino.

Da influência originária do "Pietismo" das igrejas-mãe estrangeiras só restou a experiência pessoal da fé, o fundamentalismo bíblico e um individualismo exacerbado. É como se fosse possível recobrir o egoísmo religioso como a racionalização doutrinária da Igreja, numa modalidade pobre, subdesenvolvida das lições trazidas pelas missões estrangeiras para o país, todas elas comprometidas ingenuamente com o "american way life". Será que o sonho desses crentes antipetistas é serem americanos da periferia? - Inclusive em seu preconceito contra os pobres e negros?

E aí desembarco no Recife, informado que as intenções de voto de Marina Silva e Bolsonaro ultrapassam as de LULA. Pronto, chegamos a uma conclusão inevitável: a desconstrução midiática do legado social, internacional, pedagógico e regional do governo petista produziu o ovo da serpente, que poderá ser chocado nas eleições do próximo ano.

Disse, na minha palestra, que a junção da desesperança na política e o império da impunidade contra os ladrões da república produziria um voto que oscilaria entre a Cruz e a Espada. Em qualquer um dos cenários, morreríamos nós, republicanos, democratas e socialistas. Porque ambas as alternativas são conservadoras, intolerantes e têm a pretensão de salvar o mundo, ou pelo menos o Brasil.

Meu apelo foi que nem Jesus, nem Deus aprecia os cristãos que se acovardam, se omitem ou deixam de tomar posição diante dessa grave crise institucional em que nos metemos. Nesta hora, ser cristão é assumir destemidamente uma defesa pública pelos valores da liberdade, da autonomia e do respeito ao direito das minorias. Amém.

*Michel Zaidan Filho, natural de Garanhuns, é professor da UFPE e cientista político.

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