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Givaldo Calado de Freitas
Minha família morou na Rua
do Recife por alguns anos. Antes, todavia, morou na Rua do Cajueiro. Em ambas
as ruas, sob o mesmo número - 161. Mais tarde, e em definitivo, minha família
mudou para a Rua Dantas Barreto, também sob o mesmo número - 161.
A primeira rua,
contudo, em que minha família morou em Garanhuns não tinha o nome de Rua.
Chamava-se, como se chama, ainda hoje, de Praça Dom Pedro II, lá no bairro da
Boa Vista.
Meus pais, com toda a
família, chegaram a Garanhuns, procedentes da vizinha cidade de Correntes. Eu,
ainda nos braços de minha mãe, e com dois meses de idade. Pouco tempo depois,
fui levado à Pia Batismal, para receber o sacramento do batismo, ministrado
pelo Pe. Matias, então pároco da Igreja de São Sebastião.
Da Rua do Recife,
guardo algumas recordações. Dos nossos vizinhos e da Escola de Dona Geraldina
em que estudei até o então terceiro ano primário, já que no final deste, e uma
vez aprovado no exame de admissão ao Colégio Diocesano, lá, não fizera o
quarto. Nem lá nem em outra escola, porque no ano seguinte dei início ao primeiro
ano do então curso ginasial.
Quem não gostou dessa
armação fora Dona Geraldina Miranda. Ainda em mim, vaga lembrança: “Menino,
como você conseguiu essa façanha?” - teria ela me perguntado. Ao que a ela
teria respondido que estudara em duas escolas de referência em minha cidade: a
de Dona Dulcina e a de Dona Geraldina.
Sempre contei essa
história ao longo de minha jornada. E contava para ilustrar meus discursos, no
sentido de que só com muita disposição, coragem e muita luta a gente consegue
alçar voos mais alto, e vencer na vida.
Lembro-me, ainda, que,
naquele tempo, eu procurei, mas sem dizer nada a ninguém - meus pais, Dona
Dulcina, Dona Geraldina... Ninguém! Como se daria o exame de admissão ao
Colégio Diocesano. Responderam-me: “Simples! Você se inscreve, paga uma taxa e
enfrenta o exame. Se passar... Bem, se passar, no começo do ano que vem você
procura a Secretaria do Colégio, faz sua matrícula, e começa o primeiro ano de
seu curso ginasial.” E assim fiz. Sem contar nada a ninguém. Nem mesmo a meu
irmão mais velho - Geraldo. Bem mais velho do que eu - 14 anos.
Quando me vi aprovado
naquele exame é que contei da minha façanha à minha família. Primeiro, a meu
irmão Geraldo, ele, na época, vereador na cidade. E fi-lo! Não sem antes lhe
fazer um pedido: ir comigo aos nossos pais e a eles contar o que teria
ocorrido, dizendo-lhes do meu esforço à aprovação do referido exame. Ah! Como
me lembro! Foi uma festa. Todos ficaram felizes e, eu, sentindo-me glorificado.
Na Rua Dantas Barreto
fora onde mais pontificamos, enquanto crianças. Residência espaçosa. Dona de
grande quintal e jardim. Ali, eu e meus irmãos mais novos, soltávamos e éramos
felizes.
Ainda me lembro de meus
brinquedos. Ou, na verdade, o meu único brinquedo que, com ele, ficava boa
parte do dia a vagar pelo amplo quintal, sobretudo nos períodos de férias
escolares: uma lata de doce cheia de areia era o meu carro, e lá ia eu
percorrendo as pistas do quintal de Dona Eulália, minha saudosa mãe.
Aos seus jardins,
praticamente, não tínhamos acesso, tamanho o seu ciúme à suas roseiras.
Dizia-nos sempre: “Jardim sem roseiras não é jardim.” E delas minha mãe
cuidada, pessoalmente. Era tarefa intransferível. Só a ela cabia fazê-lo. Com
suas roseiras, falava. Com suas roseiras, era feliz. Tudo levando a crer haver
uma cumplicidade entre minha mãe e suas roseiras. Que estavam sempre bonitas e
coloridas.
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Figura Pública. Empresário.
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* Crônica redigida em 30.10.2017
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