sexta-feira, 23 de março de 2018

RUA DO RECIFE


·       Givaldo Calado de Freitas


Minha família morou na Rua do Recife por alguns anos. Antes, todavia, morou na Rua do Cajueiro. Em ambas as ruas, sob o mesmo número - 161. Mais tarde, e em definitivo, minha família mudou para a Rua Dantas Barreto, também sob o mesmo número - 161. 
A primeira rua, contudo, em que minha família morou em Garanhuns não tinha o nome de Rua. Chamava-se, como se chama, ainda hoje, de Praça Dom Pedro II, lá no bairro da Boa Vista.
Meus pais, com toda a família, chegaram a Garanhuns, procedentes da vizinha cidade de Correntes. Eu, ainda nos braços de minha mãe, e com dois meses de idade. Pouco tempo depois, fui levado à Pia Batismal, para receber o sacramento do batismo, ministrado pelo Pe. Matias, então pároco da Igreja de São Sebastião.     
Da Rua do Recife, guardo algumas recordações. Dos nossos vizinhos e da Escola de Dona Geraldina em que estudei até o então terceiro ano primário, já que no final deste, e uma vez aprovado no exame de admissão ao Colégio Diocesano, lá, não fizera o quarto. Nem lá nem em outra escola, porque no ano seguinte dei início ao primeiro ano do então curso ginasial.  
Quem não gostou dessa armação fora Dona Geraldina Miranda. Ainda em mim, vaga lembrança: “Menino, como você conseguiu essa façanha?” - teria ela me perguntado. Ao que a ela teria respondido que estudara em duas escolas de referência em minha cidade: a de Dona Dulcina e a de Dona Geraldina.
Sempre contei essa história ao longo de minha jornada. E contava para ilustrar meus discursos, no sentido de que só com muita disposição, coragem e muita luta a gente consegue alçar voos mais alto, e vencer na vida.
Lembro-me, ainda, que, naquele tempo, eu procurei, mas sem dizer nada a ninguém - meus pais, Dona Dulcina, Dona Geraldina... Ninguém! Como se daria o exame de admissão ao Colégio Diocesano. Responderam-me: “Simples! Você se inscreve, paga uma taxa e enfrenta o exame. Se passar... Bem, se passar, no começo do ano que vem você procura a Secretaria do Colégio, faz sua matrícula, e começa o primeiro ano de seu curso ginasial.” E assim fiz. Sem contar nada a ninguém. Nem mesmo a meu irmão mais velho - Geraldo. Bem mais velho do que eu - 14 anos.
Quando me vi aprovado naquele exame é que contei da minha façanha à minha família. Primeiro, a meu irmão Geraldo, ele, na época, vereador na cidade. E fi-lo! Não sem antes lhe fazer um pedido: ir comigo aos nossos pais e a eles contar o que teria ocorrido, dizendo-lhes do meu esforço à aprovação do referido exame. Ah! Como me lembro! Foi uma festa. Todos ficaram felizes e, eu, sentindo-me glorificado.
Na Rua Dantas Barreto fora onde mais pontificamos, enquanto crianças. Residência espaçosa. Dona de grande quintal e jardim. Ali, eu e meus irmãos mais novos, soltávamos e éramos felizes.
Ainda me lembro de meus brinquedos. Ou, na verdade, o meu único brinquedo que, com ele, ficava boa parte do dia a vagar pelo amplo quintal, sobretudo nos períodos de férias escolares: uma lata de doce cheia de areia era o meu carro, e lá ia eu percorrendo as pistas do quintal de Dona Eulália, minha saudosa mãe.
Aos seus jardins, praticamente, não tínhamos acesso, tamanho o seu ciúme à suas roseiras. Dizia-nos sempre: “Jardim sem roseiras não é jardim.” E delas minha mãe cuidada, pessoalmente. Era tarefa intransferível. Só a ela cabia fazê-lo. Com suas roseiras, falava. Com suas roseiras, era feliz. Tudo levando a crer haver uma cumplicidade entre minha mãe e suas roseiras. Que estavam sempre bonitas e coloridas.         

·        Figura Pública. Empresário.
·        * Crônica redigida em 30.10.2017


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