Por
Humberto Pinho da Silva
Sou da geração em que havia:
respeito e autoridade.
As senhoras, em geral,
acumulavam as tarefas do lar, com os afazeres profissionais – se os tinham, – e
desempenhavam alegremente o maneio da casa, com prazer, e não obrigação.
Se alguma da classe média,
contratava criada, a maioria considerava dever seu, e faziam-no sem ajuda de
utensílios eléctricos, porque não os havia.
Os cavalheiros, eram sisudos.
Raramente auxiliavam as esposas, seguido a rigor o velhíssimo anexim: “ O marido
barca, a mulher arca”.
Cabia ao homem, o dever de
sustentar a família; à mulher: cuidar dos filhos e manter o lar acolhedor.
Os filhos, em norma, eram
obedientes, amorosamente submissos à mãe, e temiam o pai: “-Olha que vou
contar ao teu pai!”, era o bastante para aquietar o rebelde.
As crianças, do povo, andavam
descalças; não na cidade. Folgavam na rua. Brincavam com a imprescindível bola
– feita de trapos e meias velhas, – e divertiam-se com joguinhos tradicionais.
A família, convivia: com
vizinhos e parentes. Visitava-se frequentemente. Tomava-se, ao lanche, chá com
torradas – se pertenciam à classe média, – e bolinhos secos. Quase sempre, a
dona de casa, ofertava bolo caseiro, muito elogiado: “ -Depois há-de me
dar a receita!”
A vida era simples. Poucos
possuíam viatura, e menos ainda viajavam para o estrangeiro.
Os que possuíam casa, quinta,
na província, fabrica ou comércio,na cidade, eram considerados ricos.
Os superiores hierárquicos eram
tratados por excelência: -” Vª Ex.ª é quem manda…” - dizia o
manga de opaca
Os filhos pediam a bênção e
dirigiam-se aos pais, por você: “ - A Senhora quer que ponha a mesa?” Ainda
ouvi, nos anos setenta, a moça, em São Paulo.
Respeitava-se o professor.
Bastava este pedir a presença da mãe, para aterrorizar o mais destravado.
As escolas, das primeiras
letras, tinham palmatória (pequena régua de madeira,) e cana. Dizem, que nos
anos vinte, havia pancadaria brava. A cana nodosa, sibilava nas orelhas e na
nuca, ao mais simples desrespeito.
Esses excessos, já não haviam
no tempo da minha geração.
Escusado será dizer: que não
havia: televisão, gravadores e telefones moveis…
Havia, infelizmente, garotos
obscenos e moças assanhadas, mas a maioria, eram simples, de ingenuidade quase
angélica.
Todos os jovens ou quase todos,
deslocavam-se a pé, para a escola e emprego (nem todos estudavam,) em grupinhos
divertidos.
Assim era a vida da maioria das
pessoas, após a 2ª Grande Guerra.
Essa
conduta pacata, alterou-se: modas, condutas, pareceres…
O que era natural e aceite,
passou, em certos casos, a ser condenável; e o que era condenável, passou,
muitas vezes, a ser aceite, e até acarinhado por mitos…
Tudo muda, tudo passa…Mudam-se os pareceres, mudam-se os conceitos, mudam-se, as vontades; mas só o coração do homem não muda…
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