Movimento separatista marcou a luta pela independência e consolidou o pioneirismo de Pernambuco
Por Ricco Viana

Vitral no Palácio do Campo das Princesas, produzido pelo artista Henry Moser, retratando a Revolução Pernambucana de 1817 - Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco
A Revolução Pernambucana de 1817 completa 208 anos nesta quinta-feira, 6 de março, sendo celebrada no Estado como feriado da Data Magna. O movimento de luta por independência, considerado a primeira experiência republicana do Brasil, marcou a história ao tornar Pernambuco independente de Portugal por 75 dias. Com governo próprio, bandeira e até uma constituição provisória, a revolução se tornou um símbolo da luta por liberdade e autonomia.
A importância do movimento fez com que, em 2007, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) iniciasse o debate sobre a criação de uma Data Magna do Estado. Na época, Pernambuco era o único Estado brasileiro sem uma data oficial estabelecida por lei federal. Após uma consulta popular, que contou com debates na imprensa e sugestões de historiadores, a Revolução do dia 6 de março 1817 foi escolhida como a data mais significativa.
No entanto, a criação do feriado enfrentou resistência, especialmente do setor empresarial, e inicialmente a Data Magna foi instituída apenas como ponto facultativo. Somente em 2017, no bicentenário da revolução, o feriado estadual foi aprovado por unanimidade na Alepe, após articulação da ex-deputada Teresinha Nunes, uma das líderes da oposição; e do então líder do governo Paulo Câmara, Isaltino Nascimento.
Revolução
O movimento separatista teve início em um período de forte descontentamento com os altos impostos cobrados pela Coroa Portuguesa, que financiavam os gastos da família real no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Pernambuco, uma das províncias economicamente mais importantes da época, sofreu com a crise açucareira e com a centralização do poder no Rio de Janeiro.
Inspirados por ideais iluministas, militares, comerciantes, padres e intelectuais se organizaram contra o domínio português e depuseram o governador da capitania. Em seu lugar, foi estabelecido um governo provisório republicano, que instituiu uma bandeira própria — que se tornaria a atual bandeira do estado — e uma constituição com princípios liberais, como liberdade de imprensa e de culto.
“Durante o movimento, até uma Constituição foi criada e tivemos embaixador nos EUA. O movimento uniu todas as classes sociais, inclusive indígenas e pessoas escravizadas”, destaca Teresinha Nunes.
Apesar do sucesso inicial, a revolução foi duramente reprimida pela Coroa. Tropas enviadas por Dom João VI derrotaram os revolucionários, e seus líderes foram executados, incluindo Domingos José Martins e Frei Caneca.
Reconhecimento
Mesmo sendo considerada um marco na história do Brasil, a Revolução Pernambucana permaneceu por muito tempo sem o devido reconhecimento. O projeto que criou a Data Magna foi apresentado por Teresinha Nunes em 2007, quando se iniciou o debate sobre qual deveria ser a data histórica mais importante do Estado, com o 6 de março sendo o vencedor.
“Bem na hora da votação, a classe empresarial pressionou os deputados para que não aprovassem o feriado que constava na própria lei federal. Como não foi possível manter o feriado, aprovou-se um ponto facultativo”, relembra a ex-deputada.
Dez anos depois, no bicentenário da revolução, Teresinha retomou a proposta e articulou com Isaltino Nascimento, então líder do governo, para que o projeto fosse aprovado com o apoio de toda a Assembleia. Dessa vez, a resistência foi superada, e o feriado foi instituído oficialmente.
"Houve uma resistência, pois achavam que já haviam feriados demais. Mas convencemos os deputados pelo simbolismo da data. Não é só um feriado, o 6 de março tem um envolvimento de professores e alunos. A revolução pernambucana se tornou parte do calendário escolar. Já fui chamado para várias palestras, outrora não se falava disso", disse Isaltino Nascimento.
Legado
Para o historiador Filipe Domingues, o reconhecimento da Revolução Pernambucana é fundamental para reforçar a identidade do Estado.
“Cada Estado tem sua data magna, e Pernambuco escolheu o 6 de março porque foi a primeira experiência republicana da história do Brasil. Foi um movimento separatista de fato, diferente da Conjuração Mineira, que ficou apenas na conspiração”, explica.
O legado da revolução segue presente na bandeira de Pernambuco, criada pelos revolucionários de 1817 e mantida até hoje como um símbolo da luta por liberdade. A data se tornou símbolo de resistência e orgulho. Versos de Nação Zumbi, que iniciou o último grande movimento cultural brasileiro, entoavam hinos da revolução pernambucana.
Até mesmo em páginas de redes sociais, que ostentam o lema "Pernambuco é meu país", mostram que o sentimento dos revolucionários de 1817 está cada vez mais vivo no Estado, apesar dos anos.
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