Por Edmar Lyra
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deixou de lado o tom técnico e pragmático para assumir um discurso político mais afiado — e com endereço certo. No AgroFórum, promovido pelo BTG Pactual em 13 de agosto, diante de empresários e líderes do agronegócio, ele cravou: “O Brasil não aguenta mais Lula e o PT”. Foi a primeira vez que Tarcísio citou Lula nominalmente em tom de ataque, gesto que, no xadrez político, significa posicionamento claro para 2026.
Não se trata apenas de uma crítica pontual. É um divisor de águas. Desde a redemocratização, Lula e o PT disputaram todas as nove eleições presidenciais. Caso o presidente concorra novamente em 2026, será a décima vez que o petismo estará na corrida ao Planalto. Lula só ficou de fora em três ocasiões: nas duas vitórias de Dilma Rousseff e em 2018, quando estava inelegível e preso por corrupção. Quatro décadas de protagonismo que, para seus críticos, também representam quatro décadas de retrocessos e estagnação.
Lula não é apenas uma figura política central. É, para boa parte do país, o rosto das mazelas nacionais. Problemas sociais graves — pobreza, miséria e desigualdade — carregam suas digitais e as do PT. Mais do que isso: foram transformados em ativos políticos pelo partido, que se alimenta do drama social para perpetuar um discurso assistencialista e manter cativa uma parcela do eleitorado.
Enquanto isso, o Brasil acumula fiascos em áreas essenciais: uma educação pública que não forma para o futuro, uma segurança incapaz de conter a violência, uma infraestrutura precária e um histórico de escândalos que fez o país se tornar referência mundial em corrupção e problemas sociais. Para a oposição, esse é o legado petista — e é contra ele que Tarcísio começa a mirar.
O palco do AgroFórum reuniu outros governadores de oposição, como Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR). Mas a fala de Tarcísio roubou a cena. Ele é hoje um dos poucos nomes capazes de transitar entre o eleitorado bolsonarista e setores do centro e do mercado, combinando credibilidade técnica e peso eleitoral de quem governa o maior estado do país.
A dúvida estratégica permanece: disputar a reeleição em São Paulo ou arriscar o salto para o Planalto? A crítica direta a Lula é, claramente, um teste de reação. Se o retorno for positivo, o governador pode intensificar o tom e consolidar-se como o principal adversário da esquerda. Se houver desgaste, a retaguarda paulista estará sempre à disposição.
O que não há mais é silêncio. Tarcísio deu o primeiro passo para entrar na arena nacional. E Lula, que sempre foi o centro da disputa desde 1989, agora enfrenta um adversário que não apenas conhece o jogo, mas que parece disposto a desmontar, ponto a ponto, o projeto político que há décadas domina o Brasil.
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