terça-feira, 12 de agosto de 2025

Kassab e a equação da centro-direita para 2026

 

Foto: Reprodução

Por Edmar Lyra

As declarações de Gilberto Kassab no programa Canal Livre, no último domingo (10), reforçam o papel do presidente nacional do PSD como articulador paciente, que prefere construir pontes a fechar portas. O recado foi claro: o partido terá candidato próprio à Presidência em 2026, salvo se Tarcísio de Freitas decidir disputar o Planalto. Essa condição é mais do que uma ressalva; é um sinal de leitura pragmática do cenário e de cálculo eleitoral preciso.

Kassab não fala ao vento. Ao colocar Tarcísio como exceção à regra da candidatura própria, ele reconhece um fato político: o governador paulista, mesmo filiado ao Republicanos, é hoje o nome mais viável para unificar a centro-direita contra Lula, caso o petista busque a reeleição. Ao mesmo tempo, o ex-prefeito de São Paulo protege seu partido de um desgaste precoce, deixando espaço para negociar apoios e preservar sua influência junto a diferentes campos.

O PSD, que já conta com dois governadores interessados na disputa — Ratinho Junior, no Paraná, e Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul —, aparece como uma legenda ambiciosa, mas cautelosa. Kassab trata ambos com isenção e elogios, evitando rivalidades internas. É uma postura que mantém o partido coeso e, sobretudo, valorizado nas conversas de bastidores. Na prática, ele segura a ansiedade dos pré-candidatos enquanto aguarda sinais mais claros sobre a decisão de Tarcísio.

O movimento tem efeito duplo. Primeiro, posiciona o PSD como protagonista no debate nacional, sem ainda comprometer todas as fichas em um nome. Segundo, coloca o partido no centro das articulações da oposição, já que Kassab acena tanto para a possibilidade de candidatura independente quanto para a composição em torno de um nome externo — desde que seja competitivo e agregador.

A ênfase na figura de Tarcísio indica que Kassab enxerga 2026 como uma eleição polarizada, na qual a centro-direita precisará evitar dispersão no primeiro turno para chegar viva ao segundo. O raciocínio é simples: com Tarcísio no jogo, haveria uma convergência automática das forças conservadoras, incluindo o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e de partidos de perfil liberal ou mais à direita. Sem ele, cada legenda tenderia a lançar seu próprio candidato, o que fragmentaria o campo e aumentaria o risco de uma vitória de Lula já no primeiro turno.

É aí que entra o pragmatismo característico do líder do PSD. Kassab sabe que, se o governador paulista optar pela reeleição, Ratinho e Leite terão espaço para se consolidar como alternativas, e a campanha do partido servirá para reforçar sua identidade no plano nacional, mesmo sem vitória. Mas também deixa claro que, diante de uma “situação muito favorável” para Tarcísio, não haveria constrangimento em abrir mão desse protagonismo.

O jogo de 2026 ainda está longe de começar formalmente, mas Kassab já demonstra que prefere jogar com todas as cartas na mão — e sem mostrar o baralho inteiro. Entre candidatura própria e composição estratégica, o PSD se move como uma peça-chave no xadrez da sucessão presidencial. E, como sempre, o silêncio calculado do seu presidente diz tanto quanto suas declarações públicas.

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