segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Centenário da revolução comunista de 1917 desafia Vladimir Putin

Líder russo precisa equilibrar a nostalgia soviética e as aspirações imperiais


Exaltação à vitória da União Soviética na 2ª Guerra Mundial dá o tom para o desfile de 7 de novembro, em Moscou: manipulação de ícones

Vladimir Putin começa o ano comemorando taxas recorde de popularidade, sem enfrentar oposição consistente e com perspectiva segura de conquistar mais um mandato como presidente da Rússia em 2018. Apontado como o líder mundial mais destacado do ano passado, saboreia a cizânia provocada nos Estados Unidos pelas denúncias da inteligência de que uma operação de ciberespionagem ordenada pelo Kremlin influiu na eleição de Donald Trump para suceder Barack Obama.

Mas 2017 reserva para o homem forte da Rússia o encontro com um fantasma que ronda sua carreira política por uma década e meia. Não o fantasma do comunismo, invocado por Karl Marx no célebre manifesto do século 19, mas o da revolução que transformou o império secular dos czares em berço da primeira experiência real de edificar o socialismo. Em 7 de novembro, as atenções do mundo estarão voltadas para a Praça Vermelha de Moscou, na expectativa de decifrar a mensagem que Putin enviará na celebração do centenário da insurreição que daria origem à União Soviética (URSS), sob a liderança de Vladimir Ilich Lenin.

“Não existe uma narrativa oficialmente aprovada sobre 1917. É difícil e complicado demais”, explica o jornalista Mikhail Zygar, encarregado do ambicioso projeto do governo para reconstituir os acontecimentos que resultaram na Revolução de Outubro (assim conhecida pelo calendário vigente no país, na época). O dilema do presidente russo, ele próprio uma cria da era soviética, é conciliar a herança da superpotência comunista erguida no século 20 (leia cronologia) com a imagem de czar que procura construir para si próprio. “Não temos uma linha clara do Kremlin: eles não podem se identificar com Lenin, porque era um revolucionário, nem com Nicolau II, porque foi um imperador fraco”, resume Zygar.

Símbolos

Putin, formado na KGB (agência de espionagem e polícia política soviética), tem revelado sensibilidade para interpretar o sentimento dos cidadãos, traduzido em pesquisas como a realizada pelo instituto independente Levada em dezembro, na passagem dos 25 anos do fim da URSS. Questionados se lamentam a desagregação da potência que se estendia do Báltico ao Pacífico, do Mar Ártico às fronteiras do Irã, 56% dos entrevistados responderam que sim. Os números da sondagem soam compatíveis com a manifestação dos eleitores nas urnas: o Partido Comunista, que vinha perdendo terreno, voltou a crescer e detém hoje 20% das cadeiras na Duma (parlamento).

Nenhum comentário:

Postar um comentário