Presente da elite que montou um esquema monstruoso de fraudes contrasta com as facilidades e o luxo de que gozavam antes de serem presos
Ter diploma de curso superior os protege de ter de partilhar sua estada com marginais comuns, uma vantagem com que não contará o empresário Eike Batista, que já se encontra preso, com a cabeça raspada, no complexo penitenciário carioca de Bangu.
O presente dessa elite que montou um esquema monstruoso de subornos e fraudes para financiar campanhas, se perpetuar no poder e enriquecer pessoalmente contrasta com as facilidades e o luxo de que gozavam antes de serem presos.
E o impacto é cruel
"Todos levam um tempo para se adaptar e podem sofrer de depressão. Se pedem tratamento psicológico, fornecemos para que tomem consciência do momento que vivem: estão presos e já não importa a condição social que tinham lá fora", explicou o chefe do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Luiz Moura.
"São internos e são tratados como tais", acrescentou.
Trabalhando na prisão
Os trabalhos remunerados, quando disponíveis, fazem parte do processo de reabilitação. Dirceu, que provavelmente seria o sucessor de Lula, chegou ao Complexo Médico Penal de Curitiba depois de condenado por receber ilegalmente US$ 3,12 milhões.
Dono de uma biografia cinematográfica, que inclui um exílio em Cuba, onde recebeu treinamento militar, é um dos oito presos da "Lava-Jato". Está pagando 20 anos e 10 meses na galeria 6, de "recursos especiais" com diploma, onde entrega livros para outros presidiários em troca de 45 reais por mês, sem contar os 25% descontados pelo Estado para reinvestir no sistema.
"Não é um trabalho de bibliotecário porque ele não tem habilitação para isso. É apenas um distribuidor de livros, ele os entrega nas celas, os traz de volta, os ordena nas estantes e faz a limpeza e conservação. Depois faz um relatório para os professores", explica Moura.
Os presos podem, além disso, reduzir quatro dias de condenação por livro lido - um por mês, no máximo - graças a um programa que exige que façam um teste ante os professores do presídio. Se a avaliação for negativa, o perdão não é computado.
Poucas opções
Já Eduardo Cunha - que ganhou o apelido de Frank Underwood brasileiro, o personagem manipulador da série "House of Cards", ainda não tem emprego por estar em prisão preventiva.
"Há um número reduzido de trabalhos e priorizo os que já estão condenados. Enquanto os outros vão trabalhar, e ele não tem nada o que fazer, fica lendo seu processo", conta Moura.
Os ex-deputados André Vargas (do PT, condenado a 14 anos e quatro meses) e João Argolo (do Solidariedade, 11 anos e 11 meses), assim como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (mais de 30 anos) se ocupam de limpar o pavilhão que os presos da "Lava-Jato" compartilham com ex-policiais e outros profissionais.
Já foram 22, além dos que estão alojados na Polícia Federal, e atualmente são oito, entre eles o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht.
Antes de confessar seus ilícitos em troca da redução de seus 19 anos e quatro meses de prisão, o dono da construtora que leva seu nome passou por esse complexo.
"Era extremadamente disciplinado. Estabeleceu uma rotina de exercícios e a cumpria. Enquanto todos tomavam sol ou conversavam, ele corria", recordou Moura.
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