Ícones da música pernambucana se encontram no Baile do Menino Deus: Uma brincadeira de Natal pela primeira vez e se juntam a Lia de Itamaracá no elenco
Por Tiago Barbosa
A efervescência artística do “Baile do Menino Deus: Uma brincadeira de Natal” evidenciada no rodízio anual de talentos da cultura brasileira sobre o palco desemboca, em 2024, na comunhão musical de dois dos principais e mais populares ícones do frevo e da sonoridade carnavalesca da atualidade: os maestros Spok e Forró. A dupla estará junta pela primeira vez no elenco do maior espetáculo natalino do país baseado nos elementos da identidade nacional - encenação criada 41 anos atrás e apresentada, há mais de duas décadas, no Marco Zero do Recife, polo a céu aberto de maior prestígio da capital.
O maestro Spok faz a estreia em uma das cenas de abertura do Baile: exímio tocador e saxofonista, vai cantar o frevo “Romã, Romã” e recitar versos da música. O artista também faz um solo surpresa e participa de outros momentos da encenação. “Prepare o lenço para enxugar as lágrimas de mais pura emoção”, avisa o diretor e criador do Baile, o escritor e dramaturgo Ronaldo Correia de Brito.
A escalação é, para o maestro, a realização de um sonho alimentado todos os anos a partir de uma lacuna na carreira exposta pelo envolvimento de outros colegas com o Baile. “Sempre ouvi falar e nunca pude participar. O destino me colocava sempre em situações de desejar estar aqui. Eu encontrava com Silvério [Pessoa] e ele dizia ‘Spok, depois a gente conversa, que vou ensaiar com o Baile’. No outro ano, encontrava Lucas dos Prazeres em um projeto e ele falava ‘Tô indo, vou ensaiar com o Baile’. O maestro Rafael Marques, a cantora Isadora Melo, todo mundo ia, menos eu, até que, neste ano, vou realizar esse sonho”, conta. “Estou muito feliz por participar do Baile, tão importante para a nossa cidade, o estado, o país.”
O colega Forró está pela segunda vez na montagem após a participação impactante de 2023, disponível na íntegra no canal do “Baile do Menino Deus” no YouTube. Repete, em 2024, a elogiada performance na cena dos Santos Reis vista em 2023 - dividida com mais de 60 artistas, entre atores, músicos, cantores e bailarinos - e ganha novos espaços no espetáculo.
A inclusão dos dois músicos na ópera popular nordestina sobre a passagem bíblica renova a tradição do Baile de enredar artistas de vertentes culturais distintas para aguçar o caráter representativo da diversidade brasileira presente na montagem. A miscelânea já contemplou Elba Ramalho, Chico César, Tizumba, entre outros nomes com reconhecimento país afora. A edição de 2024 também conta com a Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá, e um José sanfoneiro com recitação de Manuel Bandeira, sob interpretação do músico paraibano Lucas Dan.
O “Baile do Menino Deus” foi criado por Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com músicas de Antônio Madureira, como resposta aos estrangeirismos dominantes na festa comemorativa do nascimento de Jesus. A encenação recriou, com liberdade artística, a narrativa histórica a partir de aspectos formadores da identidade brasileira para realçar a formação plural e diversa da cultura germinada pela relação entre os povos negro, indígena e ibérico. Em vez de renas, trenós, neve, papai Noel e outros elementos associados a um Natal idealizado de regiões frias, a montagem utiliza reisados, folguedos, caboclinho, brincantes, maracatu, figuras típicas do folclore e do imaginário nacional para propor uma celebração tropical, adaptada à realidade e com potencial de projetar a brasilidade.
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