segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O recado de Lula em Belém

 

Foto: Divulgação

Por Edmar Lira

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Belém, nesta semana, teve endereço certo. Ao elogiar o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, destacando sua “capacidade de trabalho” e seu “perfil agregador”, o petista não apenas cumpriu um protocolo institucional. A fala foi cuidadosamente pensada e revelou parte da estratégia eleitoral do presidente para 2026: consolidar, em Pernambuco, uma chapa majoritária unificada e competitiva, encabeçada pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), e tendo Humberto Costa (PT) e Silvio Costa Filho (Republicanos) como candidatos ao Senado.

O movimento faz parte do plano de Lula de estruturar palanques sólidos em estados estratégicos, garantindo o avanço de seu campo político e ampliando sua base de sustentação no Congresso. Em Pernambuco, o objetivo é claro: construir uma aliança ampla e capaz de enfrentar a governadora Raquel Lyra (PSD), que tentará a reeleição com a força da máquina estadual. O presidente quer uma frente com densidade política, experiência administrativa e lealdade ao governo federal — ingredientes que, em sua avaliação, estão reunidos em João Campos, Humberto Costa e Silvio Costa Filho.

O elogio ao ministro dos Portos e Aeroportos foi um recado direto. Lula já vinha, nos bastidores, manifestando sua preferência por Silvio, a quem considera um dos integrantes mais eficientes e fiéis do governo. O pernambucano tem se destacado pela boa gestão e pela capacidade de articulação com diferentes setores, conquistando espaço de confiança no Planalto. O discurso em Belém apenas oficializou o que já se comentava nos corredores de Brasília: o presidente quer Silvio como um dos nomes centrais do seu palanque no Estado.

Com João Campos no comando da chapa, Lula aposta em um arranjo político que reúne juventude, gestão e tradição. O prefeito do Recife é hoje uma das principais lideranças do PSB e tem mantido relação estreita com o Planalto. Sua candidatura ao governo, com o apoio do PT e do Republicanos, simbolizaria a consolidação da aliança nacional entre as legendas e daria musculatura à Frente Popular para enfrentar o grupo de Raquel Lyra em 2026.

Embora Marília Arraes continue formalmente aliada, Lula não demonstra confiança em seu nome para disputar o Senado. O presidente quer candidatos de fidelidade comprovada e que representem continuidade de seu projeto político. Nesse desenho, Humberto Costa surge como o nome da experiência e Silvio Costa Filho como o quadro da nova geração lulista, ambos com lugar reservado na chapa.

A sinalização dada em Belém foi, portanto, um movimento estratégico. Lula começa a organizar, com antecedência, o palanque pernambucano que pretende transformar em uma de suas vitrines eleitorais no Nordeste. Ao exaltar Silvio Costa Filho, o presidente deixou claro que quer João Campos liderando a chapa e dois senadores de sua mais absoluta confiança. O recado foi dado — e, em política, quando Lula fala, é porque o jogo já começou.

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