terça-feira, 18 de novembro de 2025

A DESPEDIDA DE JÚLIA: UMA NOITE DE DOR, SAUDADE E CLAMOR POR JUSTIÇA EM SÃO BENTO DO UNA

Por Agreste Violento

O silêncio pesado da noite de segunda-feira (17) contrastava com o som das toadas que ecoavam pelas ruas de São Bento do Una, no Agreste. Era o último desejo de uma mulher cheia de sonhos, interrompidos de forma cruel. Júlia Eduarda Andrade dos Santos, de apenas 26 anos, foi sepultada sob forte comoção, em um cortejo que transformou dor em homenagem.

Júlia saiu de casa no dia 5 com um objetivo simples e cheio de esperança: receber o dinheiro para fazer um ultrassom do bebê que carregava há quatro meses. Em vez disso, encontrou a própria morte. Ela foi assassinada a marteladas por Aguinaldo Nunes Soares, de 43 anos, que confessou o crime e segue preso preventivamente. O corpo da jovem foi encontrado dias depois, já em decomposição, em uma área de mata em Sanharó.

No cortejo, uma multidão caminhava em silêncio, enquanto outras pessoas choravam sem conseguir conter a revolta. Em um carro de som, as músicas de vaquejada que Júlia amava tocavam como um fio tênue entre a despedida e a lembrança. Cada nota parecia carregar um pedaço da vida que ela sonhava viver — uma vida simples, marcada pelo desejo de ser vaqueira, de montar, de sentir a liberdade do campo.

Mas Júlia era mais do que uma jovem sonhadora. Era mãe de quatro filhos, que agora carregarão para sempre a ausência de quem lhes deu a vida e o amor mais puro que existe.

A comunidade pediu justiça, mas também pediu acolhimento. A violência que tirou Júlia e seu bebê do mundo deixou marcas profundas não só na família, mas em todos que acompanharam sua história. O caso reacendeu discussões sobre feminicídio, proteção às mulheres e o ciclo de brutalidade que ainda insiste em assombrar muitas vidas.

Na última despedida, as flores pareciam simbolizar tudo o que Júlia representava: beleza, força e a esperança de uma vida melhor. E, enquanto era sepultada sob aplausos e lágrimas, uma certeza tomou conta de todos: o nome de Júlia não será esquecido.

Em meio à tristeza, ficou um clamor coletivo, um pedido silencioso por um mundo onde mulheres não precisem ter medo, onde sonhos não sejam interrompidos pela violência, onde mães possam voltar para casa.

E, acima de tudo, ficou a memória de Júlia Eduarda: uma jovem que amava a vida, seus filhos, sua cultura e seus sonhos.

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