segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Prisão de Bolsonaro reforça Tarcísio como presidenciável

 

Foto: José Cruz

Por Edmar Lyra 

A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro no último sábado, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após a tentativa de violação da tornozeleira eletrônica, representa mais um capítulo decisivo na dinâmica política brasileira. Embora o entorno do ex-presidente tenha insistido, até aqui, em manter vivo o discurso da perseguição e da resistência, a realidade jurídica e eleitoral se impõe: Bolsonaro está definitivamente fora do jogo de 2026. A direita, que por anos orbitou em torno da figura centralizadora do ex-presidente, agora se vê obrigada a buscar um novo eixo de unidade, alguém capaz de carregar os 58 milhões de votos obtidos por ele em 2022 — um capital político significativo, mas que precisa ser reinterpretado à luz do presente.

É neste cenário que o nome de Tarcísio Gomes de Freitas ganha tração. Governador de São Paulo, técnico por formação e político por circunstância, Tarcísio emergiu como um dos poucos quadros capazes de falar simultaneamente ao eleitor fiel do bolsonarismo e ao eleitor de centro que se tornou determinante na disputa presidencial passada. Sua postura moderada, a imagem de gestor eficiente e a distância calculada das polêmicas que marcaram o governo Bolsonaro o colocam em posição privilegiada para encarnar uma direita renovada — não necessariamente desbolsonarizada, mas adaptada às exigências de um país que rejeitou, nas urnas, o radicalismo do ciclo 2019-2022.

A prisão de Bolsonaro, por mais contraditório que pareça, produz efeitos que transcendem o universo da direita. Ao consolidar a impossibilidade eleitoral do ex-presidente, Moraes não apenas encerra uma etapa da guerra jurídico-política travada desde 2020, mas também reorganiza o campo sucessório de Lula. Se por um lado o petista perde o antagonista que lhe é mais conveniente — Bolsonaro, enfraquecido, desgastado e rejeitado por parcela relevante da sociedade — por outro, vê emergir um adversário mais competitivo. Tarcísio, pela própria natureza de seu perfil, tende a desidratar a narrativa lulista que associa automaticamente a direita ao extremismo. Ele representa uma ameaça mais sólida porque é capaz de dialogar com segmentos econômicos, institucionais e sociais que Bolsonaro jamais alcançou.

A leitura em Brasília é clara: Moraes mirou em Bolsonaro, mas, politicamente, atingiu Lula de forma lateral. Não por intenção, mas por consequência. Ao retirar da disputa aquele que polarizava e radicalizava a cena eleitoral, o ministro abre caminho para um adversário que pode unir a direita sob um projeto mais robusto e palatável. Isso não significa que Tarcísio tenha caminho livre. Ele ainda precisa superar resistências internas, consolidar sua identidade nacional e administrar a proximidade simbólica com Bolsonaro sem assumir suas cargas negativas. Mas, no balanço geral, sai fortalecido.

Enquanto isso, o campo bolsonarista, órfão de sua principal referência, terá de escolher entre aceitar Tarcísio como herdeiro legítimo ou fragmentar-se em candidaturas menores, repetindo erros que já custaram caro ao próprio bolsonarismo antes de 2018. A direita brasileira, que sempre enfrentou dificuldades históricas para produzir lideranças de envergadura, encontra no governador de São Paulo uma oportunidade rara de reorganização. Cabe agora observar se essa oportunidade será aproveitada — e como Lula reagirá diante de um cenário nacional que, de forma repentina, passou a apresentar novas forças e novas disputas.

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