A aprovação, por ampla maioria na Câmara dos Deputados, do chamado PL Antifacção — relatado pelo deputado Guilherme Derrite e celebrado efusivamente pelo governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) — não é apenas uma vitória legislativa do Palácio dos Bandeirantes. É, sobretudo, um movimento político de grande alcance, que ocorre em um momento no qual o nome de Tarcísio ganha musculatura nacional e passa a ocupar de forma concreta o centro do debate sobre a sucessão presidencial de 2026.
O gesto de comemoração pública por parte do governador paulista evidencia a tentativa de consolidar sua imagem como gestor firme na segurança pública, área em que tem investido capital político desde o início do seu mandato. A votação robusta — 370 votos — permite a Tarcísio apresentar o projeto como um consenso que transcende o fisiologismo de Brasília e reforça sua narrativa de eficiência técnica e capacidade de articulação. Em outras palavras, o PL se torna um símbolo útil para pavimentar sua jornada rumo ao tabuleiro nacional.
Esse movimento legislativo se soma a um fato político ainda mais significativo: a sinalização de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro à candidatura de Tarcísio ao Planalto em 2026. Se confirmado, esse endosso reorganiza a dinâmica da direita brasileira. Bolsonaro, desgastado juridicamente e inelegível, busca manter sua influência transferindo seu capital eleitoral. Tarcísio, por sua vez, surge como o herdeiro natural desse eleitorado — alguém capaz de unificar a base bolsonarista sem provocar rejeições adicionais no centro.
É justamente aí que reside a força de sua pré-candidatura. As pesquisas mostram o governador bem posicionado, com baixa rejeição, e ocupando um espaço político raro: o de único adversário capaz de enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva com competitividade real neste momento. Tarcísio tem condições de capturar o voto de direita que migrou para Bolsonaro em 2022, ao mesmo tempo em que conversa com parcelas do eleitorado moderado que foram essenciais para a vitória de Lula naquele pleito.
Não por acaso, seu avanço causa preocupação no PT. Até poucos meses atrás, a reeleição de Lula parecia encaminhada, sustentada por um discurso de estabilidade institucional e pela fragmentação natural da oposição. No entanto, o cenário mudou. Pesquisas recentes apontam crescimento da desaprovação de Lula, reflexo da combinação entre economia ainda morna, episódios de desgaste político e a percepção de que o governo encontra dificuldades em dialogar com setores importantes da sociedade.
Enquanto isso, Tarcísio ocupa com habilidade o papel de alternativa viável do establishment — alguém com trajetória técnica, trânsito no mercado, boa aceitação entre governadores e, sobretudo, com condições de unir a direita sob um discurso menos beligerante e mais focado em gestão. A ascensão do governador paulista reabre a disputa, retira o comodismo do PT e inaugura, com dois anos de antecedência, a batalha simbólica rumo a 2026.
Se o PL Antifacção é um triunfo administrativo, politicamente ele funciona como um marco inicial da narrativa que Tarcísio pretende levar às ruas: a de um gestor firme, capaz e pronto para assumir o País. E isso, para o Planalto, já é motivo suficiente para acender o alerta.

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